Como e por que as cidades devem proteger as suas florestas?

Em cada um desses níveis, as florestas oferecem benefícios para as cidades e o planeta como um todo. Dentro do perímetro urbano, as árvores e áreas verdes oferecem espaços de lazer e convivência e contribuem manter as temperaturas mais amenas. Florestas próximas, no entorno das cidades, protegem contra enchentes e deslizamentos de terra. E mesmo as áreas florestais mais distantes têm implicação sobre a vida nos centros urbanos, já que influenciam o clima de forma geral, geram chuvas e abrigam a maior parte da biodiversidade terrestre do mundo.

Florestas distantes são uma oportunidade inexplorada

Se os benefícios das áreas verdes dentro e próximas das cidades já são relativamente conhecidos, o impacto que as florestas mais distantes exercem sobre o dia a dia nas cidades só agora começa a ser compreendido. O desmatamento tropical é um dos principais fatores que contribuem para as emissões de gases de efeito estufa, e as florestas foram incorporadas nas negociações globais sobre mudanças climáticas. Sabe-se, agora, que a proteção das florestas é um elemento essencial em qualquer estratégia para estabilizar o clima global e, assim, mitigar os riscos impostos às cidades pelo aumento do nível do mar e por fenômenos climáticos extremos cada vez mais frequentes e intensos.

Imagem: WRI.

Em paralelo, novos estudos científicos têm revelado que florestas distantes das áreas urbanas podem afetar as cidades também, como pela geração de chuvas, essencial para manter a produtividade agrícola em fazendas que produzem alimentos para a população urbana. Em fevereiro deste ano, cientistas alertaram que a combinação de desmatamento, mudanças climáticas e o frequente uso do fogo na região amazônica pode estar relacionada às secas e inundações severas que afetaram as cidades do Brasil e dos países adjacentes nos últimos anos.

Diante disso, o que as cidades poderiam fazer para ajudar a conservar essas florestas, tão distantes de seu território mas com impactos tão profundos em seu cotidiano?

Para começar, podem garantir que seus próprios padrões de consumo não contribuam para o problema. O Painel Internacional de Recursos estima que o consumo de materiais (como madeira, areia, cascalho, minério de ferro e carvão) crescerá de 40 bilhões de toneladas em 2010 para cerca de 90 bilhões de toneladas em 2050. As cidades têm o poder de escolher se esse consumo se dará a partir de fontes sustentáveis ou não. Quando Londres sediou as Olimpíadas de 2012, as autoridades posicionaram-se em relação às florestas certificando-se de que toda a madeira usada para construir o Parque Olímpico e a Vila dos Atletas possuísse o certificado de produção legal e sustentável.

A experiência de Santiago

No Chile, o Rio Mapocho é um dos principais eixos geográficos do vale onde está a capital Santiago – e o potencial desse curso de água para a paisagem urbana é um desafio que remonta à fundação da cidade. Com o projeto Mapocho 42k, a capital chilena conseguiu um exemplo de como proteger áreas verdes e ao mesmo tempo torná-las parte da vida urbana.

Ciclovia ao longo do rio Mapocho, em Santiago - Chile. Foto: Mara Daruich / Flickr.

O projeto foi desenvolvido com o objetivo de aproveitar o potencial das margens do Rio Mapocho, em especial a sul, de comportar o espaço público de escala metropolitana: um grande eixo que conecte a cidade de Santiago geográfica e socialmente. Essa conexão é feita a partir de um corredor verde, ou “cicloparque”, que permite a circulação tanto de pedestres quanto ciclistas.

Em resumo, estamos falando de um sistema de parques integrados por uma ciclovia nas margens do Rio Mapocho. São 42 quilômetros que percorrem 11 comunas (a menor subdivisão administrativa do Chile) e conectam as diversas áreas verdes da região. O corredor consegue conectar ao mesmo tempo os parques já existentes e potenciais espaços verdes ao longo da margem, promovendo, assim, uma continuidade ambiental e ecológica da qual fazem parte áreas verdes adjacentes como o Parque Bustamante, o Parque Metropolitano ou as margens do Canal San Carlos.

Toda essa rede forma um Sistema Integrado de Parques que vincula espaços públicos a um importante eixo hidrográfico e, com isso, consolida uma matriz geográfica e ecológica como um dos principais elementos do desenvolvimento urbano de Santiago.

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Fonte: WRI Brasil.

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