Por Marina Bueno Cardoso.
Playlist: Caetano Veloso
“Deixa que minha mão errante adentre atrás, na frente/ Em cima, embaixo, entre…”
Muito se discute sobre o tema desde a meninice, mas os garotos vão crescendo e medindo. Será que está do tamanho certo? É muito grosso, ou muito fino? Mais velhos, trocam a mira, não o alvo. Passam a se medir pelo carro potente, pela gravata importada, a coleção de canetas, pela quantidade de mulheres que já tiveram ou com a qual desfilam. Uma coisa é senso comum: o homem não se cansa de se projetar no falo.
Os mais intelectuais o medem pelas ideias, que discutem e carregam consigo, protegendo-as tal qual o tapa-sexo dos índios. Ou seja, cobrindo pela metade, deixando a bunda de fora. Daí, quando conhecem uma mulher com opiniões interessantes ou que os surpreendem ficam desconcertados, tal qual o adolescente dos tempos de minha avó, quando trocavam as calças curtas pelas longas e cobriam-se com penas de pavão.
É curioso quando vemos a apologia ao corpo perfeito correndo simultânea com a exposição dos ditos machos na paralela com os homossexuais, pela estética e os transexuais pela sensualidade manifesta E aí vão todas as opções de gênero. O falo transpira por músculos, pela massa bem definida, pelo fôlego dos quilômetros de quem consegue mais. Muito hétero está na mesma cartilha. E ainda se espantam quando são cantados nas academias!
Não, nada contra um corpo bem estruturado. O mito do Apolo do século XXI compreende não só massa corpórea, mas a plenitude do prazer partilhado. E não uma atitude passiva de Narciso, que se basta por mirar-se num espelho de academia.
O falo do peão de obra, que coça o saco e cospe na calçada, não tem nada de diferente do executivo bem-sucedido. Guardada a distância de suas diferenças socioculturais, o peão, na sua simplicidade, dá uma encoxada no ônibus para mostrar poder; perde a cabeça, bate na mulher que não viu que ele tem falo e coloca sobre a mesa; cala-se em casa e sai em busca da presa que o sinta macho suficiente no próximo pagode.
Enquanto isso, o executivo workaholic precisa ser terapeutizado para mostrar à patroa que seu falo não está no extrato bancário nem no veleiro de mastros exuberantes que conseguiu empatar seus anos de labuta.
Há falos de prancheta transpirando projetos de linhas ousadas, só que não se arriscam numa investida trivial, e os que exalam tecnologia pelos poros. Esses, insuportáveis, veem em sua engenhoca de última geração o instrumento de uma ereção e tentam acessar o prazer. Na sala, ou na outra casa, a mulher, mais difícil de se aproximar que o fantástico Zabriskie Point, aguarda um enter que a conecte com Afrodite e o mundo dos mortais.
Nessa verdadeira exuberância de falos, com notoriedades distintas e prazeres escassos, há mulheres que buscam cada vez mais a simplicidade das relações encontrando apenas homens travados com suas couraças. Dizem-se cansados da companhia de sempre e, solitários, partem para a busca incontida de alguém nas redes sociais e outros que tais que os aproximem de pessoas, porém sem chegar tão perto.
Estes tipos tiram a espontaneidade dos encontros fortuitos e acabam se tornando bodes expiatórios de cenas que se aproximam mais do filme “A Noite dos Desesperados”. Lançam-se em verdadeiras batalhas, para chegarem a pé no fim da noite. Por isso, como grande parte das mulheres, afirmo para os moços e velhos: se vocês têm, importa-me sim. E como! No entanto, façam bom uso, e não abusem do poder. Se vocês têm a corda, nós temos a caçamba. E só assim dá samba.
Eu falo:
Falo com as mãos (nele)
Falo com os olhos (mirando nele)
Falo com todos os poros (alerta nele)
Falo porquê quero (ele)
Deixa de lado o falo
Percorra todos os poros
E me penetre com sua essência mais sutil e sensual.
Falei, falo.
***
Marina Bueno Cardoso assina crônica inédita do livro “Sexo Sem Nexo, Crônicas Safadas”que vem aí em 2024. Marina é jornalista e cronista com passagens pelos principais veículos de imprensa. Publicou em 2015 “Petit-Fours na Cracolândia” pela Editora Patuá e “Descansar do Mundo” em 2018 pela Editora Penalux.
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3 respostas
Marinaaa, uauuu, adorei. Instiga e compromete, aliás a língua é falica, toda palavra torna-se libidinosa ao escorregar pela língua. Escrever é fazer sexo com as palavras. Parabéns!
Instigante, a língua é falica. Toda palavra que escorrega pela língua, provoca libido. Escrever é fazer sexo com as palavras.
Parabéns, Marina.
Homens e mulheres estão trancados em suas cascas de aparências bem sucedidas. É que olham pra dentro e só enxergam vazio, justamente porque só valorizam o invólucro.