Exposição ‘Retrato Popular’ resgata fotos e tradições do Nordeste

O Sesc Belenzinho convida para um mergulho nas lembranças escondidas nos monóculos, nos retratos pendurados em casa e em todo universo do retrato popular. Sob curadoria de Rosely Nakagawa, Valeria Laena e Titus Riedl, a exposição Retrato Popular – do vernáculo ao espetáculo reúne obras do acervo do Museu da Cultura Cearense – Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura e de colecionadores particulares que reconstroem a história da fotografia popular.

Quem for ao Belenzinho verá coleções de monóculos, ex-votos fotográficos, câmeras de lambe-lambe, cavalinhos e charretes para fotografias de crianças, além de moldes e retratos pintados por Mestre Júlio, um dos maiores nomes da fotopintura brasileira. Há também fotografias, gravuras, esculturas em madeira e argila, e lonas pintadas por profissionais que se dedicam ao ofício, como Tiago Santana, Luiz Santos e Tonho Ceará.

Esculturas de argila do recriam cenas do filme ‘Câmara Viajante’, cuja história inspirou parte da mostra ‘Retrato Popular’. Foto: Fábio Tito/G1.

Outros registros fotográficos, em sua maioria de pessoas anônimas, fazem parte da coleção pessoal de Titus RiedL, um dos curadores. Pesquisador e professor da Universidade Regional do Cariri, Titus pesquisa a fotografia popular há mais de 20 anos. “Meu interesse maior é dessa fotografia anônima, uma fotografia íntima, sem ambição artística. É a fotografia que se guarda em casa, nas caixas de sapatos, nas gavetas. A fotografia que por muito tempo foi considerada barata, menor, marginal, mas que justamente hoje nessa transição da fotografia analoga para a fotografia digital está se tornando interessante e cada vez mais observada, percebida e valorizada. O meu interesse foi neste aspecto não pretensioso da fotografia que é mais lúdica, festiva e mais próxima das pessoas. Ela permite uma identificação muito grande. Todo mundo tem um contato muito grande com a fotografia vernacular”, afirma.A proposta da exposição é mostrar a importância dessa tradição comum em todo o Brasil, que é considerada um patrimônio da história da fotografia regional e parte relevante do registro de cidadãos de todas as classes sociais. Essa fotografia popular que, ao longo dos anos, tornou-se cada vez mais rara nas feiras e passou a integrar a arte contemporânea.

Retrato com a estátua de Padre Cícero em Juazeiro do Norte é visto contra a luz em um monóculo. Foto: Fábio Tito/G1.

“O projeto foi desenvolvido há quase 10 anos atrás, quando essa fotografia do monóculo, do lambe-lambe e retrato pintado estava em vias de extinção. Nós colhemos alguns depoimentos dos fotógrafos populares, sobre essas transformações das técnicas que eles usavam. Percorremos as cidades de romaria cearense Canindé e Juazeiro do Norte em busca desses fotógrafos. Foi uma experiência muito rica, que resultou no filme Câmara Viajante, no encontro de fotógrafos e exposição que aconteceu no Centro Dragão do Mar. Agora, dez anos depois estamos olhando novamente para essa fotografia”, conta Valéria Laena.

 

Visitantes se divertem na área interativa da mostra ‘Retrato Popular. Foto: Fábio Tito / G1.

No Nordeste é ainda muito comum a criação de um novo contexto em torno da pessoa fotografada, que difere da realidade. Mestre Júlio, que até os anos 90 utilizou tintas mas agora faz uso do Photoshop, é o especialista nisso. Entre os retratos feitos por ele, dois chamam a atenção. O primeiro é o de um médico identificado como Dr. Hermínio, que queria ter sido mecânico e, por isso, pediu para ser retratado junto a alguns carros, usando uniforme e portando ferramentas. O segundo é o de um menino que se veste como formando universitário e pede para que a família seja inserida na foto. Há também obras que questionam a hegemonia branca e hierárquica na história brasileira, como a de Tercília da Silva, que pediu para que pintassem seus olhos na cor azul e fosse representada como uma rainha.

O fotógrafo Tiago Santana posa diante de duas das suas imagens que compõem a mostra ‘Retrato Popular’. Foto: Fábio Tito/G1.

Tiago Santana é o responsável pelos flagrantes da área de peregrinação em Juazeiro do Norte, enquanto Tonho Ceará e Luiz Santos são coautores de retratos de povos nômades – indígenas, circenses, ciganos, sem-terra. 

Na programação ainda estão previstas oficinas, projeções e a interação do público por meio de autorretratos com o uso de celulares, atualizando o conceito de retrato popular com as selfies. Para isso, foi especialmente criado um cenário que reproduz o ambiente de uma pequena cidade do Nordeste. Também serão promovidos encontros e workshops com a participação dos curadores e artistas.

***
Fonte: SESC SP.

Tags

Compartilhe:

Share on facebook
Share on twitter
Share on pinterest
Share on linkedin
Share on email
No data was found

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Categorias

Cadastre-se e receba nossa newsletter com notícias sobre o mundo das cidades e as cidades do mundo.

O São Paulo São é uma plataforma multimídia dedicada a promover a conexão dos moradores de São Paulo com a cidade, e estimular o envolvimento e a ação dos cidadãos com as questões urbanas que impactam o dia a dia de todos.