Grafiteira pinta sereias idosas para empoderar mulheres reais

 
Instrumento de arte, lazer e comunicação, os sprays se mostram como ferramenta poderosa de luta e resistência ao redor do mundo. A causa política aproximou a paulista Erê ao grafite quando ela tinha 18 anos. Aos 23, ela une a paixão pela arte ao desejo de empoderar mulheres “reais”. Nesse sentido, a artista passou a retratar uma sereia subversiva: nada de longos cabelos lisos e físico escultural como nas telas do cinema.
 
“As sereias são sempre poderosas e ‘bonitas’ dentro do padrão de beleza. A gente sempre vê na rua muitas propagandas com mulheres modelos, mas nunca com uma velha, uma gorda. A ‘Senhora Sereia’ foi criada para representar essas mulheres. Eu queria que ela fosse velha, mas ao mesmo tempo demonstrasse beleza, sabedoria, poder. Uma mulher velha, mas linda e que reluz, brilha de sabedoria”, explicou ao G1.
 
As inspirações dos rabiscos nos muros surgem da vivência de Erê enquanto mulher. Atuante em um cenário predominantemente masculino – tanto no que diz respeito às ruas, como à cena artística do grafite -, ela não discute apenas a autonomia feminina em relação ao próprio corpo. A artista procura ainda debater a relação das mulheres com os espaços públicos urbanos.
 
“A mulher é cobrada para ser perfeita, bonita, boa dona de casa, boa profissional, boa mãe. Na hora que eu vou para o muro, eu sempre penso muito nelas, no que nós passamos e isso traz reflexões. Não que o grafite retrate a opressão que a mulher sofre. A ideia é representar as mulheres de forma poética e empoderada para que elas se reconheçam e vejam que têm espaço, que a rua também pode ser delas”, disse.
 
Grupo ‘Golden Girls’ usa arte urbana para debater feminismo. Foto: Arquivo Pessoal.
 
Conquistando territórios

A partir da identificação com a Senhora Sereia, a conquista das mulheres por novos espaços ocorre silenciosa, mas expansivamente, segundo Deborah. Lugar considerado de risco para muitas, a rua vira palco para Erê e outras seis meninas expressarem as muitas perspectivas de liberdade feminina. Nos muros de Manaus, João Pessoa, Ribeirão Preto, São Paulo, Rio de Janeiro e Nova Iorque, o grupo “Golden Girls” discute o feminismo em meio a correria das grandes cidades.

 
As ruas podem ser ainda mais intimidadoras para as grafiteiras, que também precisam vencer o machismo dentro da própria cena. “É como se nós precisássemos provar que somos boas. Sempre ouço alguém falar ‘prova que você sabe fazer mesmo’, que duvida do meu trabalho só por eu ser mulher. Isso já melhorou muito, já somos bem acolhidas, respeitadas, mas a gente sabe que ainda está ali, velado. A gente tem que passar por cima disso”, ressaltou.
 

Dos muros para a internet

Deborah e outras meninas criaram o blog “Espaço Marciana” em 2014. A proposta do site é apresentar histórias de garotas inspiradoras ao público infantojuvenil. “A ideia é naturalizar o feminismo desde cedo, para que as meninas queiram ser como as garotas que estão lá, todas poderosas. O objetivo é que um dia esse material possa ser levado para discussões em escolas”, informou.

O esforço para empoderar meninas e mulheres, seja nas ruas ou na internet, é de “erva daninha”, como a própria artista gosta de definir seu trabalho. “Erva daninha é a planta que cresce contra os objetivos do homem, uma planta que nasce no lugar errado. O lance do grafite, da mulher na rua, do feminismo, mistura tudo isso. Representa a resistência”, completou.

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Jamile Alves / Do G1 AM.

 

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