Leica abre galeria em SP com mostra de ex ‘The Police’


S
ão Paulo ganha a primeira Leica Gallery da América Latina. Será a 14ª galeria no mundo, especializada em imagens, que leva o nome da marca alemã de equipamentos fotográficos.

Para inaugurar o espaço no dia 5, na rua Maranhão, no bairro paulistano de Higienópolis, a arquiteta Valéria Blay e o fotógrafo Luiz Marinho recebem a mostra “Del Mondo”, com 42 registros em preto e branco. Feitas entre 1978 e 2014, as fotografias são assinadas pelo inglês Andy Summers, conhecido no mundo como guitarrista e ex-integrante da banda The Police. “O que a maioria não sabe é que ele é um fotógrafo talentoso e documenta suas experiências ao redor do planeta desde os anos 1970”, diz Valéria.                                 

Ela conheceu Marinho graças à paixão pelas lentes fotográficas. “Eu uso um equipamento Leica e o Luiz é o representante da marca no Brasil”, diz a diretora-executiva da Leica Gallery São Paulo. Como responsável no país pelas ações relacionadas à fabricante desde 2001, Marinho será também membro do conselho executivo da galeria. O empreendedor mantém uma loja de equipamentos desde 1996, com itens profissionais e amadores, de fornecedores como Fuji e Lomography, além da Leica.

“Tínhamos um projeto para a abertura de uma galeria de fotos desde 2010, mas procurávamos os parceiros certos”, diz Valéria, que, como arquiteta, também assessora clientes interessados em adquirir imagens. A negociação para trazer o empreendimento ao Brasil durou um ano. O modelo de negócio é semelhante a uma franquia, mas não envolve relação comercial entre as partes. “Temos os direitos de utilização do nome Leica Gallery no país e seguimos os padrões e diretrizes determinados para os espaços.”

Construída em um edifício da década de 30 em processo de tombamento, a galeria tem 200 m2 de área expositiva coberta, dividida em dois blocos, além de um vão ao ar livre, com 120 m2 . Com as exibições, a proposta é promover seminários e lançamentos de livros. No mesmo prédio, funcionam ainda “startups” e “venture builders” como a KiiK e a incube (com minúscula), que já selaram uma parceria tecnológica com os galeristas. “Por meio de aplicativos, vamos inovar na maneira como os visitantes interagem com as obras. Será possível obter informações sobre a fotografia que eles estão vendo e até comprá-la pelo ‘smartphone’.” O local também ganhou uma loja com produtos e suvenires da Leica. 

O apelo em torno da marca começou em 1925, data do primeiro lançamento comercial, a Leica I, em Leipzig, na Alemanha. Estudiosos da fotografia afirmam que, naquela época, o equipamento já era muito sofisticado para os padrões vigentes, pelo tamanho reduzido, visor óptico embutido e velocidades de obturador que iam até 1/500 de segundo. Foram produzidas menos de 60 mil unidades da Leica I, vista hoje como uma pepita de ouro entre os colecionadores. Há três anos, durante um leilão em Viena, um protótipo da máquina, datado de 1923, atingiu US$ 2,7 milhões, recorde de venda para um aparelho fotográfico. 

O preço se justificou pela raridade. Só há 12 peças conhecidas no mundo e o dispositivo ainda funcionava perfeitamente, segundo a casa de leilões austríaca WestLicht Photographica. O nome do comprador não foi revelado. Uma das câmeras digitais mais baratas da marca, com 12,1 megapixels de resolução, pode custar R$ 4,4 mil no mercado nacional. Um dos modelos mais caros, à venda no Brasil, com 37,5 megapixels, não sai por menos de R$ 130 mil. 

Além da qualidade técnica, a obsessão dos fãs pelas câmeras remonta ao fotojornalismo dos anos 60 e 70, e de imagens icônicas que correram o mundo, produzidas por alguma Leica. A lista inclui retrato de 1960 de Che Guevara (1928-1967) assinado pelo cubano Alberto Korda (1928-2001), que se multiplicou em pôsteres e estampas de camisetas; e o histórico ataque de napalm a crianças em uma estrada do Vietnã, em 1972, eternizada por Nick Ut, fotógrafo da agência de jornalismo americana Associated Press (AP).

“A primeira coisa que me pergunto quando vejo uma foto é se ela me emociona, se existe uma história atrás da imagem”, diz ao Valor, de Salzburgo, a alemã Karin Rehn-Kaufmann, diretora de arte da Leica, que há um ano encontrou o próprio Ut durante evento de comemoração dos cem anos da marca, em Wetzlar, cidade-sede da fábrica germânica. Na empresa desde 2007, ela é curadora das galerias Leica no mundo e trabalha à frente da operação de Salzburgo, na Áustria. Filha de mãe paulista, vem ao Brasil pela primeira vez para ajudar a inaugurar a mais nova unidade da rede. 

A ideia da fabricante de montar espaços expositivos começou em 1976, com a abertura de uma sala em Wetzlar. Hoje, são 13 pontos, em cidades como Frankfurt, Los Angeles, Milão, Tóquio e Nova York. “Até o final do ano vamos inaugurar mais um, em Turim, na Itália.” 

A especialista afirma que a fotografia, como obra de arte, está cada vez mais próxima das pessoas. “Quase todo mundo faz fotos com celulares e as imagens são as principais ferramentas das redes sociais”, diz. “É claro que uma boa câmera ajuda a obter um bom registro, mas o importante é quem está atrás das lentes.”

 

                                                                                                                                                          ‘Honeytrap’ (EUA). Foto: Andy Summers.                                            

Com as imagens que abrem a mostra inaugural da Leica Gallery em São Paulo, os brasileiros poderão conhecer a face documentarista do músico Andy Summers, que começou a levar os instantâneos a sério a partir de 1979. Sua produção na área contabiliza dezenas de exposições e três livros de fotografia: “Throb” (ed. William Morrow & Company, 1983), “I’ll Be Watching You – Inside The Police 1980-83” (Taschen, 2007) e “Desirer Walks the Streets” (Nazraeli, 2009), com cliques feitos durante viagens e turnês da banda de sucessos como “Every Breath You Take” e “Roxanne”, que terminou em 1986 e fez uma turnê de reunião entre 2007 e 2008. 

A exposição de São Paulo, que conta com a presença de Summers, foi apresentada no ano passado na Leica Gallery de Los Angeles, mas chega com seis imagens extras. O acervo, com preços a partir de R$ 5 mil, é composto de retratos, cenários e detalhes de pessoas, em dimensões de até 31 cm x 47 cm, registrados a partir dos anos 80. Fica em cartaz até outubro. O plano é trazer, neste ano, o americano Ralph Gibson, que já fez uma série de fotos no Brasil. A galeria pretende organizar quatro mostras ao ano. 

Para 2016, a agenda da galeria deve encaixar seleções do nova-iorquino Bruce Guilden, da prestigiada agência Magnum, e do cantor Lenny Kravitz, que desenhou uma edição limitada de 125 câmeras para a Leica. Em março, o vencedor de quatro Grammys consecutivos na categoria melhor vocal masculino de rock também abriu uma mostra na Leica Gallery de Los Angeles com o conteúdo que mostrou no livro de fotos “Flash” (teNeues, 2015). A chegada de fotógrafos conhecidos por talentos em outras áreas pode, segundo analistas do mercado de arte, atrair mais dividendos para o setor e aproximar o público das galerias especializadas na venda de imagens. 

Em maio, a feira francesa Paris Photo, uma das maiores do mundo, desembarcou pelo terceiro ano nos galpões dos estúdios cinematográficos Paramount, em Los Angeles, para provar que o caminho para popularizar a venda da fotografia como arte pode ser mais curto do que se pensa. A curadoria trouxe 79 galerias de 17 países, como a brasileira Lume, e apostou em nomes emergentes do ramo e no público local para chamar a atenção dos consumidores. As atrizes Demi Moore e Gwyneth Paltrow estavam entre os visitantes. Na edição do ano passado, Brad Pitt ganhou as manchetes dos tabloides e das publicações de artes plásticas por ter adquirido um trabalho do americano Danny Lyon, conhecido por imagens em preto e branco que enquadraram gangues, policiais e protestos de rua nos anos 60.

Mesmo com iniciativas espetaculares de difusão do meio, ainda há muito a ser feito. De acordo com levantamento do site Artprice, que cataloga resultados de leilões de mais de 590 mil artistas, a fotografia representa menos de 2% do mercado de arte global. No ano passado, todas as fotografias vendidas em arremates internacionais somaram cerca de US$ 180 milhões, volume próximo ao observado em 2009, ano de crise econômica. Os autores que mais movimentam as cifras do segmento incluem a americana Cindy Sherman, o alemão Andreas Gursky e o australiano Peter Lik, com preços médios, por foto, entre US$ 2 milhões e US$ 6 milhões. 

No Brasil, o mercado de fotografia pode ganhar neste mês mais um incentivo, com a nona edição da SPArte/Foto, no shopping JK Iguatemi (SP). O evento reúne 31 galerias que representam brasileiros como Christian Cravo, Lenora de Barros e João Castilho. No ano passado, uma das tendências da feira foi a venda de fotos com tiragens menores e preços mais elevados.

Site: leicagallerysp.com.br

Jacilio Saraiva no Valor Econômico, São Paulo.

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