“Mamilo Livre”: pôsteres de seios nus espalhados na cidade

 
Mamilos femininos e masculinos, nus, estampam paredes e muros da capital paulista. Em folhas de tamanho A3, em impressão preto e branco e no estilo lambe-lambe eles atraem os olhares de quem passa pelo Largo da Batata, em Pinheiros, ou pela Praça XIV Bis, na Bela Vista.
 
A ousadia não tem rostos. As fotos pertencem a 12 pessoas, voluntárias e anônimas, entre as quais uma transsexual e uma senhora de 65 anos. Todas elas emprestaram seus peitos à causa de uma dupla de feministas cuja intenção é questionar as interdições e tabus que recaem sobre o corpo das mulheres.
 
– A Constituição diz que homens e mulheres são iguais e possuem os mesmos direitos. Então por que os homens podem andar sem camisa sem problemas e as mulheres não, podem até ser presas por isso? – questiona a psicóloga e blogueira Letícia Bahia, uma das idealizadoras do movimento chamado de “Mamilo Livre”.
 
No Brasil, os seios femininos entraram no centro de uma discussão pública graças a diversos incidentes em que mulheres foram repreendidas por amamentar em público. Em um desses casos, em fevereiro de 2014, a modelo Priscila Navarro Bueno foi censurada por seguranças do Museu da Imagem e do Som (MIS) enquanto amamentava seu bebê. A repercussão do caso provocou, alguns dias depois, um mamaço – dezenas de mães foram à porta do MIS amamentar seus filhos coletivamente.
 
Para Letícia Bahia, no entanto, a questão extrapola o direito à amamentação sem constrangimentos. Qualquer mulher deveria poder andar livremente cobrindo ou não os seios. Segundo Letícia, que trabalha como educadora sexual de adolescentes, a questão por trás da proibição da nudez é o machismo.
 
– Para que os homens não desejem o corpo feminino e não se descontrolem, as mulheres têm que se cobrir? Isso é punir a vítima – argumenta a psicóloga, que fez o trabalho em parceria com a fotógrafa Julia Rodrigues, que comanda um projeto para testar a censura da rede social Facebook com fotos com diferentes graus de nudez. Ambas fizeram uma pesquisa jurídica e concluíram que não podem ser processadas ou presas por ferir a sensibilidade pública com seus cartazes. Tampouco podem ter o trabalho retirado das paredes por conta da lei Cidade Limpa que, há alguns anos, impede peças publicitárias e outdoors nas ruas da capital paulista. Mas imaginam que irão chocar. Ao contrário do que acontece nos Estados Unidos e na Europa, onde há grandes dias de “topless”, no Brasil ir a uma praia sem a parte de cima do biquini provoca polêmica. Letícia, adepta do uso do “Tata top”, um sutiã que imita os mamilos, afirma que costuma provocar reações nas praias. 

 
A peça, vendida no exterior, está disponível em três diferentes cores para se adequar aos tons de pele de quem usa. Agora, Letícia quer esbugalhar os olhos fora das praias. – Aqui no Brasil ainda estamos engatinhando na discussão, mas é importante tirar da internet. Vamos parar de falar para convertidos e abrir para quem discorda também falar, ampliar essa conversa – diz Letícia.

Acesse o site do projeto #mamilolivre 

Mariana Sanches em O Globo.

 

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