A novidade no “Top 10” foi Sofia, que apareceu em décimo lugar na escolha dos pais. Alice ganhou posições e ocupou o lugar de Beatriz, que saiu dos 5 primeiros, ainda que siga na lista, mas agora na sétima posição. Vale lembrar que Portugal é mais criterioso na aprovação de nomes das crianças, o que felizmente impede a criatividade de pais que já escolheram, em outros países, nomes como Covid Marie e Corona Kumar. Sem contar com o menino indiano que ganhou o nome de Lockdown… Por aqui, nomes femininos mais “incomuns” no ano passado foram Luana (275), Yara (192), Caetana (147), Noa (120) e Alana (103). Esse grande “arrojo” se deve basicamente aos filhos de pais imigrantes. Aliás, há nomes que só são aceitos se pai ou mãe forem estrangeiros. Nestes casos, a composição e a ortografia podem seguir a legislação do país de origem. Do contrário, os nomes devem ser portugueses ou adaptados, gráfica e foneticamente, à língua portuguesa. Tem mais: os nomes não podem suscitar dúvidas sobre o sexo da criança. Ou seja, nada de Nadir, Ariel, Rene e Darci, por exemplo.
Se entre as meninas Maria ganhou de lavada, entre os varões a disputa foi mais acirrada. Levou Francisco (1411), quase empatado com João (1358). Ainda no pódio, Afonso (1306), nome forte por aqui, por sempre ser uma lembrança daquele que foi o primeiro rei de Portugal, Dom Afonso Henriques. Tomás (1266) veio em quarto e Duarte (1261) completou os Top 5. Santiago, que em 2019 estava em terceiro, caiu para sétimo na escolha dos pais. Miguel encerra a lista dos 10 principais nomes de meninos. Entre os nomes mais “diferentes” por aqui estão Enzo (355), Kevin (188), Noah (158) e Davi (141). Alguns nomes que já foram bem mais escolhidos, como Carlos (108) e Ricardo (118), deixaram de ser opção para os bebezinhos portugueses.
Um levantamento mais amplo, considerando os últimos 16 anos de nascimentos em Portugal, confirma um certo conservadorismo na escolha dos nomes, principalmente entre as meninas. Nas quase duas últimas décadas, apenas 5 nomes de meninas foram se revezando no Top 3: Maria, Ana, Beatriz, Matilde e Leonor. No caso dos meninos, a variedade tem sido maior: João, Tiago, Diogo, Martim, Rodrigo, Afonso, Santiago e Francisco lideram a preferência ao longo destes anos. João, apesar de ter perdido para Francisco em 2020, é a principal escolha no acumulado deste período.
Uma diferença curiosa em relação aos nomes aqui e no Brasil é o fato de usarmos, no país tropical, muito o apelido para identificar as pessoas. Para começar, a palavra Apelido por aqui é o equivalente ao sobrenome no Brasil. O que chamamos de apelido é Alcunha em Portugal. Aquele negócio de ter amigos como o “Minhoca”, o “Cabeça”, o “Zé Arroto”, o “Fiapo”, o “Zé Pipoca”, o “Pinduca”, o “Chulapa” e coisas assim é bem mais brasileiro do que português. Sem falar no hábito que temos de usar apenas parte do nome, como Rafa, Lu, Pat, Bia, Alê etc. Para os portugueses, essa “intimidade” toda não parece fazer muito sentido. Minha mulher é Daniela para todos os portugueses, mesmo os mais próximos, e Dani para mim, desde o primeiro beijo. Mesmo os nomes bem comuns em Portugal, como Manuel, Joaquim, Francisco e José, não viram automaticamente Mané, Joca ou João, Chico e Zé.
Ah, outra importante diferença: nomes como Tospericargerja, Joseneide, Suzelaine, Claudeniza e Romarison, por exemplo, são bem brasileiros e certamente não teriam muita chance por aqui. E para não dizer que estou cometendo bullying com meus conterrâneos, o meu nome – Marcos – também praticamente não existe em Portugal. Na melhor das hipóteses, Marco ou Marcus. Quem sabe peço para me chamarem de Caco, apelido carinhoso usado pelos meus irmãos.
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Marcos Freire mora com a família em Ovar, Portugal, pequena cidade perto do Porto, conhecida pelo Pão de Ló e pelo Carnaval. Marcos é jornalista, com passagens pelas principais empresas e veículos de comunicação do nosso país. Escreve quinzenalmente no São Paulo São.