MASP organiza mostra sobre desfiles-show da Rhodia nos 60’s

No fim dos anos 50, quando a moda ainda engatinhava no Brasil, o publicitário italiano radicado em São Paulo Livio Rangan – figura visionária, dono de uma criatividade inesgotável e com estampa digna de galã da Cinecittà – teve a ideia de orquestrar campanhas e desfiles grandiosos que mesclassem peças assinadas por estilistas nacionais, arte e cultura pop. Por trás do ambicioso projeto estava a Rhodia, empresa francesa que, em 1919, havia instalado por aqui uma fábrica de lança-perfumes – isso mesmo, o famoso Rodouro, que animou nossos Carnavais até a proibição do spray, em 1961.
 
Antevendo essas mudanças, a Rhodia entrou firme e forte na produção de fibras sintéticas em 1955. Para vendê-las no País tropical, referência mundial em algodão, traçou uma mega estratégia de marketing em parceria com Rangan, que durou pouco mais de uma década, encerrando-se em 1970. “Livio foi um grande diretor de arte, de teatro, um ótimo metteur en scène. Seu trabalho na Rhodia era um pretexto para mostrar o que realmente sabia fazer: arte no palco, em filmes, na fotografia”, avalia a ex-modelo e jornalista Zizi Carderari, casada com o publicitário de 1974 até 1984, quando ele morreu precocemente, aos 51 anos.
 

Mailú, Mila e Lilian com peças criadas por Alceu Penna para o desfile-show Rio 400 anos, em 1964. Foto: Rhodia/ Divulgação.
 
O italiano passou a dirigir a publicidade da Rhodia e a idealizar editoriais para revistas ligadas à indústria têxtil, tendo como alvo os clientes dos fios da empresa. Numa era pré-semanas de moda, as peças eram lançadas na Feira Nacional da Indústria Têxtil, a Fenit, em desfiles-show que exibiam criações dos estilistas mais incensados da época, pioneiros da alta-costura made in Brazil, como Dener, Ugo Castellana, José Ronaldo, Guilherme Guimarães e Jorge Farré. As coleções eram desenvolvidas utilizando as matérias-primas mais modernas da Rhodia sob a coordenação do ilustrador mineiro Alceu Penna, autor do icônico figurino de Carmen Miranda e da série de crônicas de moda “Garotas do Alceu”, publicada na lendária revista O Cruzeiro e que influenciava os costumes das brasileiras de então.

Para acentuar o cunho cultural (e inédito) da empreitada, Livio – um workaholic que sonhava alto e dormia pouco – decidiu convidar artistas plásticos para desenhar as estampas das cem peças únicas apresentadas a cada coleção. A lista de colaboradores é extensa e ilustre: Iberê Camargo, Tomie Ohtake, Milton Dacosta, Nelson Leirner, Ivan Serpa, Manabu Mabe, Alfredo Volpi, Willys de Castro. Parte das criações assinadas pelo grupo se perdeu ao longo do tempo (caso de peças de Ohtake, Iberê e Dacosta), mas 79 modelos com estampas de 28 artistas foram doados em1972 para o Museu de Arte de São Paulo, formando um conjunto batizado de Coleção Masp Rhodia. A boa notícia é que, a partir do dia 23 deste mês, todos os itens serão exibidos por lá na mostra Arte na Moda – a última vez que esse acervo esteve em sua íntegra às vistas do público no museu foi há 43 anos, na época de sua doação. 
 
Bastidores de um editorial de moda para a Rhodia, de 1960, com o fotógrafo Otto Stupakoff (ao fundo) (Foto: Rhodia/ Divulgação)

Bastidores de um editorial de moda para a Rhodia, de 1960, com o fotógrafo Otto Stupakoff (ao fundo). Foto: Rhodia / Divulgação.
 
Em clima de Tropicália meets Carnaby Street, os desfiles da Rhodia uniam moda e arte,mas não só isso: havia também música, dança e poesia. O ator Raul Cortez fazia as vezes de mestre de cerimônia, e o roteiro costumava ter assinaturas ilustres – nascia do humor de Millôr Fernandes ou da sensibilidade de Carlos Drummond de Andrade. Coreografias do americano Lennie Dale (que pouco depois, nos anos 70, fundaria o lendário grupo de dança andrógino Dzi Croquettes) eram embaladas por performances ao vivo de nomes em ascensão namúsica, como Gal Costa, Caetano Veloso, Gilberto Gil ou Rita Lee – linda à frente de sua banda naqueles tempos, Os Mutantes. Em meio às apresentações musicais, aconteciam os desfiles propriamente ditos, cujos castings eram atração à parte.

Este é apenas um trecho da matéria Revolução made in Brazil, leia o texto completo na edição de outubro da Vogue Brasil.

 
 

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