Moradores da Zona Leste de SP serão premiados por preservação da Vila Maria Zélia

O conjunto de edificações distribuídas em cinco ruas foi a primeira vila operária da capital paulista, construída em 1917 para abrigar 2,5 mil funcionários que trabalhavam na tecelagem da Companhia Nacional de Tecidos e Juta. Além da fábrica, a área incluía escolas, armazéns, salão de baile, campo de futebol e a capela São José.

Por ocasião do centenário do local, a Associação Maria Zélia, formada pelos atuais moradores das 171 casas já tombadas pelos patrimônios do município e do estado de São Paulo, promoveu palestras sobre sua história, visitas guiadas, criou o Centro de Memória, lançou um livro de contos sobre o bairro, uma exposição fotográfica das construções e um documentário.

“Um dos aspectos mais interessantes desta cidadela é que, ao mesmo tempo em que servia de moradia para os trabalhadores da fábrica ao lado, com toda a infraestrutura de escola, farmácia, sapataria e igreja em uma época em que se questionavam os cortiços, era um controle do patrão sobre aquelas pessoas”, explica Ana Luiza Jardim Frangello, uma das integrantes da Associação Cultural Maria Zélia.

Todo esse projeto promovido pelos moradores foi reconhecido pelo Iphan, que vai lhes conceder o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade. Outros sete projetos do Brasil serão premiados pela educação patrimonial que promoveram no último ano, como iniciativas espontâneas, que resinificam lembranças e formam acervo de referência para outros estudos.

Mapa da vila operária Maria Zélia, construída há cem anos no bairro do Belém, zona leste de São Paulo. Foto: Divulgação/Associação Cultural Vila Maria Zélia.

“O anúncio dessa premiação nos deixou emocionados porque nosso trabalho é reconhecido em nível nacional. É importante porque divulga a história da vila e também porque moramos em um país que não tem memória, onde as histórias e o que elas significam acabam esquecidas”, diz Ana Luiza.

Cada um dos oito projetos premiados receberá o valor de R$ 30 mil. Ana Luiza diz que a associação, criada há 15 anos, deverá investir o prêmio na própria vila e na promoção de atividades culturais, como oficinas e exposições.

Reconhecimento

Residência ampliada e com fachada restaurada. Foto: Marcia Minillo.

O Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, instituído pelo Iphan em 1987, tem como objetivo o reconhecimento de ações de proteção, preservação e divulgação do Patrimônio Cultural Brasileiro e é uma homenagem ao primeiro dirigente da Instituição.

Dezenas de projetos foram inscritos por entidades governamentais, empresas privadas, instituições sem fins lucrativos e pessoas físicas de grupos e coletivos de todo o país.

Os trabalhos foram avaliados por comissões estaduais formadas por profissionais que atuam em diferentes áreas culturais, até a escolha dos premiados pela Comissão Nacional de Avaliação.

A cerimônia oficial dos premiados está marcada para novembro, em Belém do Pará, mas representantes do Iphan visitaram a vila nesta manhã. Confira a lista de premiados no site do Iphan.

Em ruínas

Antigo armazém guarda características da época. Foto: Marcia Minillo.

Quem idealizou a vila operária Maria Zélia foi o dono da fábrica de tecidos, o médico Jorge Street. Anos depois, ele precisou vender as propriedades, outras famílias e empresas assumiram, e alguns dos imóveis acabaram com o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) por falta de pagamento.

Em junho de 2017, o Ministério Público Federal (MPF) entrou com uma ação civil pública contra o INSS por conta do mau estado de conservação. A perícia do órgão apontou diversas infiltrações na estrutura e risco de desabamento.

Um dos espaços, a antiga Escola dos Meninos, acabou interditado. Na Escola das Meninas, o quadro negro continua preso à parede, mas o local está sem telhados e sem os mármores que cobriam os degraus da escada.

O que restou da escola de meninas. Foto: Marcia Minillo.

O MPF quer que o INSS faça a restauração dos seis imóveis. “Esses prédios têm que ser interditados, com instalação de tapumes e mesmo interdição de entrada, depois deve ser feita a contratação emergencial desses serviços e, então, o restauro completo dos imóveis”, diz Suzana Fairbanks, procuradora da república.

Além disso, com o tombamento da vila, a limpeza das ruas e a segurança da área se tornaram um desafio e dependem exclusivamente de doações de moradores para a associação de amigos da Vila.

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Por Vivian Reis do G1/SP.

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