Muitas dúvidas, algumas reflexões sobre os pernilongos de SP (e duas receitas caseiras de repelentes)

Moro a cerca de 500 metros do Rio Pinheiros e nos últimos meses era tanto pernilongo que as pessoas perderam qualidade de vida e, principalmente, do sono. Ontem a prefeitura fez uma ação emergencial no rio e, como por milagre, quase todos os pernilongos da minha casa (que tem tela em todos os cômodos) sumiram. (Leia aqui!)

A agilidade em buscar solução para o problema merece elogios, mas diversas dúvidas ficaram zunindo na orelha.

Pelo que andei pesquisando, as larvas do culex (pernilongo comum) se adaptaram às águas poluídas e gostam de temperaturas em torno de 25 graus para se desenvolver. Demoram cerca de 2 semanas para atingir o estado adulto e a partir daí podem viver até 3 meses. Quando a temperatura ambiente chega a cerca de 10 graus, o mosquito não consegue mais voar, não se alimenta mais e morre. A espécie só não entra em extinção porque as larvas ficam dormentes esperando o calor voltar.

Apenas as fêmeas picam e elas podem voar cerca de 2,5 km em busca de alimento. Essa entrevista feita em 2013 pelo Marcelo Duarte com a bióloga Sirlei Antunes Moraes, autora do blog “Mosquito Culex” tem diversas informações interessantes. 

A notícia de ontem diz que foram jogados 500 kg de larvicida no Rio Pinheiros. Feliz porque os pernilongos da minha casa praticamente desapareceram, agora eu pergunto:

– Se o larvicida só ataca as larvas, por que as pernilongas adultas sumiram imediatamente?
– Do que é feito o larvicida usado pela prefeitura? É um composto biológico ou químico? Pode afetar a saúde humana de quem mora perto do rio? E a saúde de quem usa o trem da CPTU cuja plataforma fica praticamente dentro do rio?
– A prefeitura está usando ou vai usar inseticida também? Quais os nomes comerciais e princípios ativos dos produtos? 
– A prefeitura está ciente de que não existe inseticida totalmente seguro? Todos são parentes dos agrotóxicos e das armas químicas e oferecem altos riscos, sobretudo para as crianças e gestantes (já que pode a exposição pode gerar má-formação fetal). Quem quiser mais informações sobre o assunto pode assistir à palestra que a Dra. Silvia Brandalise, uma das maiores especialistas em câncer infantil do mundo apresentou na Câmara Municipal de São Paulo em 2013 e a Betina Schmid registrou aqui!
– Ainda sobre inseticidas: eles eliminam os predadores dos mosquitos e exterminam abelhas, o que é dramático pois as cidades têm sido refúgio para elas devido à contaminação por agrotóxicos no campo. E nossa sobrewvivência como espécie depende de alimentos polinizados pelas abelhas. A prefeitura está levando isso em consideração? 
– Qual a estratégia de curto e longo prazo do poder público e da sociedade civil para lidar com esse problema que, devido às mudanças climáticas já estabelecidas, veio para ficar?
– O que é feito nos outros países para combater os pernilongos?
– O que as populações tradicionais das regiões quentes do planeta têm a nos ensinar no capítulo convivência com insetos?
– Quando deixaremos de buscar soluções que brigam contra a natureza e passaremos a regenerar o meio ambiente, trazendo de volta os inimigos naturais dos mosquitos (lagartixas, sapos, aranhas, morcegos)? Aliás, isso já começou por iniciativa dos cidadãos, aqui mesmo em SP, como mostra essa matéria do Estadão.

Enquanto espero as respostas, aprendi com a Monica Meira a construir lamparina de citronela (capa). Pegue um pote de vidro com tampa, faça um furo nela, faça o pavio (eu trancei tirar de lençol velho), encha o pote de folhas de citronela picadas (eu colhi do meu jardim), coloque o óleo de girassol até encher, passe o pavio pelo furo e coloque fogo. De vez em quando tem que puxar o pavio para cima. Se puder deixe uns dias a citronela ficar curtindo no óleo antes de usar. 

E sobre o repelente de cravo que não lembro com quem aprendi a fazer. Ingredientes: 500 ml de álcool, 10 g de cravo, 100 ml de óleo (usei óleo mineral porque, embora seja menos natureba, dura mais na pele). Deixar o cravo uns 3 dias curtindo no álcool, coar e misturar tudo.

 

***
Cláudia Visoni é jornalista independente e ambientalista.

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