“Há talentos musicais entre as crianças, mas a principal orientação nesta fase do nosso projeto é a educação de base”, afirma a maestrina Regina Hiromi Kinjo, que integra o projeto da ONG responsável pelo trabalho social. Ela argumenta que a convivência das crianças no projeto ajuda também no comportamento do grupo. “Hoje eles já entram e saem da sala sem correria”, explica a maestrina.
Com 20 violinos, violas e violoncelo, instrumentos doados que foram recuperados e preparados para a turma pelo Ateliê de Luteria de São Paulo, o projeto da orquestra de crianças e adolescentes mantém também um coral. Segundo a gestora da ONG, Ester Leão, de 60 anos, o projeto usa recursos da Lei Rouanet e serve de opção para crianças de áreas carentes de uma região.
“Nós temos 13 projetos sociais na ONG, como dança e esportes e, entre eles, estão o coral e a orquestra, criada no ano passado”, conta a gestora. “Identificamos que nesta região do Campo Limpo, Capão Redondo, Vila das Belezas, não havia nenhuma iniciativa como aquela que há em Heliópolis, por exemplo”, diz.
A comunidade de Heliópolis é famosa pelo trabalho do Instituto Baccarelli, que forma cidadãos no mesmo sentido, com resultados reconhecidos na comunidade internacional. Ester revela que buscou autorização no Ministério da Cultura para captar até R$ 391 mil pela Lei Rouanet, mas que chegou apenas ao valor de R$ 120 mil no ano passado. A solicitação do uso do incentivo fiscal deve ser renovada para o próximo exercício, diz ela.
“Nossa ideia é prosseguir e já estamos com 190 crianças. Há carentes, mas também outras crianças do bairro fazem parte”, declara Ester. Ela lembra que a ideia foi inspirada exatamente na atuação do Instituto Baccarelli, que conta com a regência do renomado Isaac Karabtchevsky. Ester diz ainda que além da maestrina Kinjo, a equipe dela tem os músicos Eliézer Motta e Jucivan Alves dos Santos, coordenador do projeto, que já passaram pelo Baccarelli. Segundo Ester, a ideia que está em andamento no Morumbi tem o apoio da Igreja Batista da região.
Durante a abertura do espetáculo da Orquestra New Life Symphony e da Orquestra de Câmara do Mackenzie, na Sala São Paulo, os pequenos se apresentaram orientados pela maestrina. Muitos deles nunca tinham entrado num espaço como aquele. “Foi uma oportunidade que a gente normalmente não teria”, diz a técnica em imobilização hospitalar Maria Luiza Ferreira de Carvalho Medrado, de 35 anos, mãe de Raul, de 8 anos, um dos integrantes do coral, que acompanhou o filho na apresentação. Ela conta que está desempregada e que os ingressos para os pais assistirem à estreia foram distribuídos pela ONG. Raul estuda na 8ª série da EMEF Francisco Rebolo, escola do bairro.
Para o adolescente Eduardo de Oliveira de Sá, de 12 anos, que está aprendendo a tocar violoncelo, a visita à sala de concertos foi “muito legal”. Ele nunca tinha ido ao local e gostou da oportunidade de tocar e cantar no coral. “Eu toco violoncelo e gosto também do saxofone”, explicou o garoto no dia seguinte à apresentação. Estudante da 7ª série do colégio Porto Seguro, morador da Rua Chicó Gomes, ele costuma frequentar as aulas de música duas vezes por semana, às terças e quintas -feiras, por uma hora, durante a tarde. Eduardo contou ainda que o irmão dele, Gustavo, de 8 anos, também está no projeto, e toca violino. A mãe deles, Vera, explica que a família incentiva a participação dos meninos na orquestra. “Eles gostam de lá e, se depender de mim, vão continuar com a música. A gente incentiva sim”, afirma Vera.
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Por Pablo Pereira em seu Blog da Garoa no Estadão.