Nos próximos anos, se bem cuidadas, as 300 mudas de araucárias, embaúbas, figueiras e tantas outras vão crescer e ocupar o vazio entre as ruas Pais Leme e Butantã.
O lugar era um daqueles tantos cantos que sobram na cidade. A Operação Urbana Faria Lima desapropriou casas, lojas, ampliou ruas e esse canto ficou funcionando como uma passagem sem graça para os pedestres. Tão sem graça e sem significado que não tem nem nome.
Urbanistas chama essas sobras de “vazios urbanos”, áreas que sobraram após a urbanização da cidade – beiradas de trilhos de trem, baixios de viadutos, sem significado especial para a cidade e sem vivências afetivas.
Nas paredes do larguinho ainda são visíveis os vestígios de um “jardim vertical”, melancólicos canteirinhos de PET, com plantas mortas por falta de cuidado, mas com a devida placa anunciando os patrocinadores do insucesso. Estudos mostram que a parede verde é um paliativo pouco eficiente, caro e que requer cuidados eternos para se manter, enquanto que uma árvore, depois que cresce se transforma num poderoso sequestrador de carbono e umidificador de ar.
Incomodados com o potencial não aproveitado do lugar, o botânico Ricardo Cardim, o paisagista Nik Sabey e o ativista Sergio Reis se reuniram e decidiram propor um bosque no lugar do vazio. Juntos, conseguiram que a prefeitura regional de Pinheiros aprovasse o plantio e foram atrás de mudas, terra, caçamba e até um caminhão de água. Sem patrocínio e sem dinheiro público.
Hoje, eles e mais de uma centena de pessoas foram lá plantar tudo isso.
Nik diz que as árvores vão crescer em tempos diferentes, num processo natural de seleção. O resultado deverá ser um pequeno bosque sombreado em poucos anos, que trará um respiro para as ruas áridas do entorno, cheias de ônibus, carros e lojas.
É interessante pensar que a Prefeitura acaba de anunciar o plantio de um milhão de árvores na cidade. Se forem plantadas com o mesmo cuidado que essas trezentas de hoje, e não em linhões de alta tensão ou em lugares inóspitos apenas para cumprir uma cota, podem tornar a cidade muito melhor. Mas é bom lembrar que o número de árvores tão grande precisa de centenas de projetos como o do bosque da Batata, com gente tão dedicada e interessada como esses cidadãos que hoje passaram a manhã de domingo plantando e pensando numa cidade que respira um ar um pouco melhor.
Talvez até ajudem aquele larguinho a ganhar um nome e a fazer parte da memória afetiva da cidade. Bem-vindo, Bosque da Batata!
***
Mauro Calliari é administrador de empresas, mestre em urbanismo e consultor organizacional. Artigo publicado originalmente no blog Caminhadas Urbanas do Estadão.