Na Luz, a Cia Mungunzá inaugura o seu Teatro de Contêiner

As enormes caixas metálicas coloridas instaladas em uma antiga praça abandonada no bairro da Luz, centro da cidade de São Paulo, chamam a atenção de moradores e pedestres. A intervenção artística e arquitetônica, obra da Cia Mungunzá de Teatro, já tem nome: Teatro de Contêiner Mungunzá e abre suas portas ao público dia 11 de março, com a apresentação do premiado espetáculo Luis Antonio – Gabriela, que cumpre temporada de sexta a segunda-feira até 17 de abril.

Levantado em praticamente dois meses o Teatro de Contêiner Mungunzá é formado por 11 contêineres marítimos. No espaço cênico, que pode ser utilizado como arena, semi-arena ou palco italiano, dois deles quebram o escuro das caixas com paredes de vidro que possibilitam que atores e plateia possam ver e ser vistos por quem passa pela rua. Lanchonete, escritório, banheiros, camarim e área técnica completam a estrutura, que ocupa 40% do terreno. Na lateral superior da edificação, a pintura branca vai servir como tela de cinema para projeções ao ar livre.

A história

Num dia de novembro, uma fila de caminhões formou-se na Rua dos Gusmões, 43, na Santa Ifigênia. De cima deles, dez contêineres foram descarregados e, depois, empilhados no terreno abandonado de 1 mil m². Nesta semana, o clima de tardes com sol e noites de baixas temperaturas não incomodou a horta hidropônica montada ao lado do Teatro de Contêiner, novíssimo espaço cultural em São Paulo, criado pela Cia Mungunzá de Teatro, em parceria com a Subprefeitura da Sé. O local está situado numa rua tranquila da região, com um posto da Guarda Civil bem em frente do terreno.

Mas o projeto que vai ser inaugurado neste mes não foi concebido assim tão de supetão, conta o ator Lucas Beda. “Nós pesquisamos diversos lugares que estavam ociosos pela cidade.” Quando encontraram o endereço – a três minutos de caminhada da Estação da Luz -, o terreno acumulava entulho, tinha parte das cercas destruídas e servia de estacionamento para o comando geral da Guarda Civil Metropolitana.

Por meio de um termo de cooperação, a companhia será responsável por zelar pelo local durante três anos – prazo que ainda aguarda confirmação. Até o momento, já foi investido cerca de R$ 250 mil, em serviços como limpeza do terreno, terraplenagem, instalação elétrica e dos contêineres, vindos de um caixa próprio da Mungunzá, grupo fundado em 2008. Até o fim do período, o total aplicado será de R$ 2,1 milhões, obtidos com recursos de editais públicos e federais.

Em virtude do tamanho da empreitada, o grupo gastou tempo criando um projeto arquitetônico que refletisse o tipo de relação que os artistas gostariam de estabelecer com o local, ressalta Beda. O que resultou nos contêineres empilhados. Juntos vão abrigar banheiros, camarim, escritório e um espaço com lotação de 80 pessoas. Do lado externo, existe a horta criada por um morador do bairro e, no gramado, um playground feito com tambores de aço reutilizados, desenvolvido pelo grupo espanhol Basurama. Na lateral superior da edificação, a pintura branca vai servir como tela de cinema para projeções ao ar livre. “O objetivo não era levantar mais um prédio, mas o desejo de que as características da construção chamassem as pessoas à convivência”, explica o ator.

Ocupar. Espetáculo 'Luis Antonio-Gabriela' vai inaugurar o espaço. Foto: Divulgação.

E esse convite também se reflete nos portões abertos. “Não queremos entrar, fazer mais uma peça, trancar tudo e ir embora.” Vez ou outra, a conversa era interrompida por um morador de rua que perguntava se poderia apanhar alguns materiais descartados. “Aqui continua sendo um espaço público e queremos construir essa relação”, reforça Beda.

Entre as atividades que a companhia do premiado Luis Antonio – Gabriela deseja realizar está abrigar espetáculos de dança, shows de pequeno porte, oficinas e exposições. Tudo isso pautado por uma curadoria que será formada em 2017. Para a data de inauguração, o grupo planeja ocupar o novo palco com o espetáculo de 2011, dirigido por Nelson Baskerville. A montagem documenta a história de Gabriela, uma travesti de meia-idade que deixou a família e foi morar na Espanha. “Achamos que seria muito bonito fazê-lo aqui. Um espetáculo que, de certa forma, nos obrigou a entender a força do teatro”, conta o ator.

Questionado sobre o que ocorrerá ao fim do período de três anos, o ator disse que a companhia espera entregar um projeto que valorize o espaço urbano. “E que isso seja mais um motivo para continuarmos lá.” 

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Com informações Artesceterartescetera e Estadão Conteúdo.

 

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