Uma visita aos segredos guardados no subsolo da Catedral da Sé

Por Márcia Minilo.

O que muitos não sabem é que, sob seu altar mor, escondida 7 metros abaixo do nível da rua, no traçado geográfico onde passa a linha imaginária do Trópico de Capricórnio e perto do marco zero da cidade, encontra-se a cripta, uma capela subterrânea em perfeito estado de conservação.

Com duas entradas quase escondidas à direita e à esquerda do altar principal, apenas uma pequena parcela dos que visitam a catedral se aventura em conhecer o local, cercado de lendas e mistérios que a Igreja Católica e os guias da visita não confirmam.

Altar de mármore em posição contrária, época em que as missas eram rezadas em latim e de costas. Foto: Marcia Minillo.
Altar de mármore em posição contrária, época em que as missas eram rezadas em latim e de costas. Foto: Marcia Minillo.


Uma dessas histórias é que existe ali uma passagem secreta ligando a catedral a outras duas igrejas paulistanas, a de São Francisco e a de São Bento. 

História que os que ali trabalham fazem questão de negar, desmistificando assim uma das mais folclóricas lendas urbanas do centro histórico.

Restos mortais e mostra sobre o Santo Sudário

Exposição do Santo Sudário. Foto: Marcia Minillo.
Exposição do Santo Sudário. Foto: Marcia Minillo.
Exposição do Santo Sudário. Foto: Marcia Minillo.
Exposição do Santo Sudário. Foto: Marcia Minillo.

Enfrentando dificuldades técnicas e falta de recursos, em janeiro de 1919, o então primeiro arcebispo de São Paulo, dom Duarte Leopoldo e Silva, inaugurou oficialmente a cripta – 35 anos antes da inauguração da Catedral Metropolitana Nossa Senhora da Assunção de São Paulo, mais conhecida por Catedral da Sé.

Com trinta câmaras mortuárias destinadas à guarda dos sarcófagos de bispos, cardeais e arcebispos da arquidiocese de São Paulo, 17 câmaras estão ocupadas e outras 13, vazias. A maioria dos restos mortais foi levada para lá na década de 1930. Os túmulos estão dispostos em ordem cronológica de falecimento. Calcula-se que levará de três a quatro séculos para que todos sejam preenchidos pelo alto clero da arquidiocese de São Paulo.

Túmulo do regente Feijó (à dir.) e câmaras mortuárias de cardeais. Foto: Marcia Minillo.
Túmulo do regente Feijó (à dir.) e câmaras mortuárias de cardeais. Foto: Marcia Minillo.

Na cripta, além dos restos mortais de todos os bispos de São Paulo nos seus dois séculos de hierarquia, estão também os túmulos do cacique Tibiriçá e do regente Feijó – este último, sacerdote e estadista brasileiro, considerado um dos fundadores do Partido Liberal da época. O cacique Tibiriçá, ”príncipe da terra” em tupi, foi quem escolheu o terreno onde seria erguido um dos mais importantes símbolos paulistanos. Considerado o primeiro cidadão paulistano, Tibiriçá foi o primeiro a ser enterrado na cripta. Porém, um tempo depois, seus restos mortais foram transferidos para o Pátio do Colégio, onde se encontram até hoje.

Escultura em mármore de Carrara, do artesão Francisco Leopoldo e Silva. Foto: Marcia Minillo.
Escultura em mármore de Carrara, do artesão Francisco Leopoldo e Silva. Foto: Marcia Minillo.

O último bispo sepultado na cripta foi dom José Túlia, em 1992. Outro registro recente é a transferência, em 2004, dos restos mortais do padre Bartolomeu de Gusmão (falecido na Espanha em 1724), inventor do balão e primeiro cientista brasileiro em caráter oficial.

As sepulturas de Tibiriçá e do regente Feijó ficam numa área separada da maioria das câmaras dos outros bispos e cardeais. Entre os dois túmulos, encontra-se um catafalco – suporte de caixão do século XVI, onde se faziam as celebrações de morte.

Até 1967 as missas nas igrejas católicas eram celebradas em latim e de costas para o público, o que explica a forma e posição do altar dentro da cripta.

A capela é ornamentada por dois grandes monumentos, ambos executados em mármore de Carrara pelo artesão Francisco Leopoldo e Silva, irmão de dom Duarte, arcebispo metropolitano de 1907 a 1938. As duas esculturas que representam o juízo final foram esculpidas na Itália e trazidas ao Brasil para ornamentar os corredores laterais da cripta.

O último bispo sepultado na cripta foi dom José Túlia, em 1992. Outro registro recente é a transferência, em 2004, dos restos mortais do padre Bartolomeu de Gusmão (falecido na Espanha em 1724), inventor do balão e primeiro cientista brasileiro em caráter oficial.

As sepulturas de Tibiriçá e do regente Feijó ficam numa área separada da maioria das câmaras dos outros bispos e cardeais. Entre os dois túmulos, encontra-se um catafalco – suporte de caixão do século XVI, onde se faziam as celebrações de morte.

Até 1967 as missas nas igrejas católicas eram celebradas em latim e de costas para o público, o que explica a forma e posição do altar dentro da cripta.

A capela é ornamentada por dois grandes monumentos, ambos executados em mármore de Carrara pelo artesão Francisco Leopoldo e Silva, irmão de dom Duarte, arcebispo metropolitano de 1907 a 1938. As duas esculturas que representam o juízo final foram esculpidas na Itália e trazidas ao Brasil para ornamentar os corredores laterais da cripta.

Sobre a Catedral da Sé

Largo da Sé em 1907. Foto: Aurélio Becherini.

No dia 25 de janeiro de 1912, segundo historiadores, dom Duarte Leopoldo e Silva, reuniu os representantes das principais famílias da cidade e constituiu uma comissão com a finalidade de levantar fundos para a construção de uma nova Catedral Metropolitana. A pedra fundamental foi lançada em 1913.

Projetada pelo arquiteto alemão radicado em São Paulo, Maximilian Hehl, ex professor da USP, a catedral levou 44 anos para ser construída, sendo inaugurada (incompleta e sem contemplar o projeto original) em 1954.

O estilo gótico (representando o Deus que está nas alturas em junção com a cúpula renascentista representando o novo homem) dá à Catedral o aspecto imponente, significando o resplendor da igreja – orgulho para o povo paulistano na época da inauguração.

Catedral da Sé em construção, 1954. Foto: Acervo Estadão.

Construída com materiais nobres, a maioria importados da Itália, o altar, o piso branco e preto, esculturas e câmaras mortuárias são em mármore de Carrara. O teto em forma de arco é de tijolo aparente, sustentado por pilastras em granito, assim como as escadas, corrimãos e colunas.

A cripta quase foi destruída pela falta de conservação, umidade e infiltração acumuladas durante anos. Os restauradores encontraram os túmulos sujos, com pichações e as inscrições das lápides, quase ilegíveis.

Todo o conjunto, catedral e cripta, foram fechados para reforma em 1999 e reaberto em 2002, quando foi concluído o projeto original.

Colunas de concreto e tijolos vindos da Itália. Foto: Marcia Minillo.
Colunas de concreto e tijolos vindos da Itália. Foto: Marcia Minillo.

O altar de mármore branco e todas as câmaras mortuárias tiveram suas condições agravadas pela umidade exagerada, causada por anos de infiltração e pelo excesso de limpeza inadequada de alguns túmulos. Nos túmulos de Tibiriçá e Feijó, por exemplo, foram utilizados materiais que provocaram manchas nas esculturas e uma enorme oxidação ao longo dos anos.

A cripta, que até 1999 sempre foi aberta à população, após a reforma passou a receber apenas visitas monitoradas e cobradas, com o intuito de zelar pela conservação e preservação do patrimônio.

Serviço:

Cripta e Catedral da Sé
Horário de funcionamento: de segunda a sexta, das 8h às 19h; sábado, das 8h às 17h; domingo, das 8h às 13h.
Horário das missas: de segunda e sexta, às 9h, às 12h e às 18h; terça, quarta e quinta, às 12h e às 18h; sábado às 12h; domingo às 9h, 11h e 17h.
End.: Praça da Sé, s/n – Centro – São Paulo (Metrô Sé).
Tel.: (11) 3107-6832
Site www.catedraldase.org.br

***
No Sampa Inesgotável em parceria de conteúdo com o São Paulo São.

 

Tags

Compartilhe:

Share on facebook
Share on twitter
Share on pinterest
Share on linkedin
Share on email
No data was found

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Categorias

Cadastre-se e receba nossa newsletter com notícias sobre o mundo das cidades e as cidades do mundo.

O São Paulo São é uma plataforma multimídia dedicada a promover a conexão dos moradores de São Paulo com a cidade, e estimular o envolvimento e a ação dos cidadãos com as questões urbanas que impactam o dia a dia de todos.