O transporte público deve pensar nas mulheres

Garantir o acesso equitativo de homens e mulheres aos sistemas de transportes está relacionado à forma como ele atende as necessidades de segurança, eficiência e mobilidade sustentável de ambos os gêneros.

De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), as atividades femininas geralmente estão atreladas à combinação de múltiplos destinos e paradas dentro de uma viagem maior como resultado das responsabilidades com a casa e cuidado à família. Isso torna mais caro para as mulheres andarem de transporte público, uma vez que elas pagam por numerosas tarifas, passagens para um sentido ao longo de uma viagem fragmentada.

Mulheres também podem estar em viagem com os filhos, pais idosos ou compras de supermercado, o que traz complicações e inconveniências se o sistema de transporte não é confiável, simples ou fisicamente confortável. Finalmente, as rotas para além dos corredores centrais podem não funcionar nos horários de pico, quando as mulheres estão mais propensas a precisar do transporte público para acessar suas redes sociais e econômicas.

Em muitos casos, as mulheres têm mais responsabilidades domésticas, como cuidar das crianças e da família, além de manter os laços com a família e a comunidade. O transporte público tem potencial de oferecer oportunidades de trabalho, acesso à saúde e educação às mulheres. O mau planejamento, contudo, prejudica o acesso igualitário das mulheres a este serviço, que pode se tornar inalcançável, e limita sua autonomia financeira.

Outra questão refere-se ao assédio sexual e a violência em estações e veículos, problemas que persistem em cidades pelo mundo. Quando as mulheres continuam se sentindo inseguras e inaptas a reportar incidentes, o transporte público deixa de ser uma forma equitativa e acessível de mobilidade.

Como Londres, Toronto e Nova Delhi estão tornando o transporte mais igualitário

Um design de qualidade é fundamental para espaços públicos mais inclusivos para mulheres, mas assegurar a igualdade de gênero também deveria ser prioridade no planejamento, aquisição, operação e avaliação de todos os modais de transporte. Assim, como as cidades estão mudando para tornar a segurança e o acesso uma realidade para as mulheres?

A Transport for London (TfL), agência de transportes de Londres, utiliza a tecnologia da informação para melhorar a segurança das mulheres. Exemplo é o Technology Innovation Portal da TfL, que permite que usuários enviem ideias e soluções para resolver desafios chave, como a segurança das mulheres. Em 2004, a TfL criou o Women’s Action Plan (plano de ação das mulheres, em tradução livre), para tarifas com desconto e ônibus com piso baixo e sem degraus.

A agência consultou 140 grupos de advocacia feminina em Londres e lançou uma campanha anual, a Safer Travel at Night, com o objetivo de entender preocupações específicas. Hoje, o Women’s Action Plan e a iniciativa pela equidade foram louvados pelo Transportation Research Board (TRB) como os maiores esforços de operadores de transportes em prol das necessidades femininas.

O Comitê Metropolitano de Ação Contra Mulheres e Crianças de Toronto (METRAC) é uma relação colaborativa formada por diversas organizações femininas comunitárias, a Comissão de Transportes de Toronto, e o Departamento de Polícia de Toronto, para conduzir auditorias de segurança no sistema de transportes da cidade. A parceria atua para empoderar mulheres na comunidade ao desenvolver recomendações em políticas e pesquisa baseadas nessas auditorias de segurança. Então, a METRAC engaja atores de governo para melhorar a segurança nos bairros, escolas, campi, locais de trabalho, instituições e espaços públicos. No passado, a METRAC entregou com sucesso áreas designadas de transportes, estacionamentos bem iluminados, programas de prevenção a assaltos e melhores políticas e práticas de segurança em hospitais e outros locais de trabalho.

Jagori é uma ONG indiana que atende problemas femininos de segurança em Nova Delhi com foco no direito de participar de uma cidade equitativa, democrática e inclusiva, livre de violência e medo. A ONG enfatiza na responsabilidade de governança local e círculos de planejamento urbano que incluam as mulheres na tomada de decisão. Desde o lançamento, em 2004, a Campanha Delhi Segura da Jagori conduziu 40 revisões com apoio do aplicativo Safetipin, que mapeia os índices de segurança de espaços públicos e identifica como eles podem melhorar com foco nas mulheres. 

Tornando a igualdade de gênero uma prioridade no planejamento de transportes

Políticas, agências de transporte e organizações da sociedade civil precisam colaborar entre si para reduzir o assédio sexual e a violência no transporte público, pois iniciativas isoladas – como câmeras – não são suficientes. Em vez disso, agências de transporte precisam medir, planejar, implementar, monitorar, avaliar e compartilhar percepções a fim de fazer progressos a longo prazo e entregar melhorias concretas. É preciso identificar pessoas e atribuir responsabilidades para que as ideias e iniciativas sejam implementadas com sucesso.

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Publicado originalmente em inglês por  no TheCityFix.

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