Tamanha é a pressa que suspiramos aliviados ao chegar nos lugares, lembrando então que é preciso respirar. Sempre, mas sempre dez minutos salvariam o dia.
Por que não saímos dez minutos antes, para quem sabe aproveitar tão escassos minutos de paz? Talvez, bem lá no fundo, não queiramos minutos de paz. Porque sofremos de falta de tempo crônica, agravada pelo vício da produtividade. Minutos de paz significam minutos perdidos, de um tempo que não pode esperar.
Com mais dez minutos, daria tempo de ter enviado só mais aquele e-mail. Ou de ter passado para buscar a roupa que está na costureira há semanas. Como considerar curtir minutos de paz, se dá para eliminar mais um item da interminável lista de tarefas?
Viver sem pressa é uma verdadeira experiência. Para mim, um enorme desafio. Sem pressa, eu poderia fazer novas escolhas. Outro meio de transporte, por exemplo. Dá para ir a pé, talvez de bicicleta. Ou simplesmente seguir tranquila, sem me irritar se algum louco sem pressa parar na minha frente sem um bom motivo aparente. Para variar, daria para curtir a jornada.
Viver sem pressa me tornaria também mais flexível. Sem quinze compromissos agendados, sem nenhum espaço livre entre eles – considerando que o tempo de deslocamento às vezes se traduz num milagre, ou num atraso – eu poderia esticar um café da manhã na padaria de vez em quando. Teria mais tempo para ajudar aos outros. Tempo para ajudar a mim mesma.
Mas como nada na vida é de graça, curar o vício da produtividade e conquistar uma vida mais flexível, exige o sagrado exercício do sacrifício. Sacrifício das milhares de coisas que não serão feitas. E que, na verdade, não tem importância. Mas ocupam um espaço infinito em nosso precioso templo do tempo.
Não existe milagre. Podemos continuar planejando fazer dez coisas, conseguir fazer quatro, passar o dia com pressa e acabar frustrados. Ou podemos planejar fazer três coisas, ignorar todas que não serão feitas, e com sorte ganhar nossos dez minutos de paz. Eu continuo tentando.
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Por Fernanda Granato no We Love.