Lisa costuma ir aos supermercados e feiras na hora em que as caixas com os vegetais não comercializados são esvaziadas. Ela analisa um a um e separa os que não estão extremamente maduros e não têm mofos, cortes e estragos. Pesquisas feitas pela professora apontam que 30% de tudo o que é produzido acaba indo para o lixo.
“[Há] Muito desperdício. Fico muito triste, vendo tantos que precisam”, afirma a mulher, que defende o reaproveitamento. “Também como o que cato, porque acho que sobras são para todos, não só para as pessoas mais necessitadas.”
Em média, Lisa consegue 25 kg de alimentos nos dias de coleta. As frutas e legumes são então higienizados e guardados na geladeira. A sopa é feita na casa dela, e a distribuição acontece às 20h30, na calçada em frente à Rodoviária do Plano Piloto. Ela também leva pães – que se não fosse pela iniciativa, iriam para o lixo – doados por uma padaria.
Sopa feita por professora do DF para moradores de rua. Foto: Lisa Hargreaves / Arquivo Pessoal.
“Eu faço o caldo. É na minha casa, demoro três horas. Coloco em recipiente térmico”, explica a professora, que mora a dez quilômetros do ponto onde faz as doações. “Às vezes [essa] é a única refeição do dia [desses moradores de rua]. Nas distribuições, atendo cinco, seis famílias. Às vezes [há] mais.”
Lisa conta com a ajuda de uma amiga no transporte e distribuição dos alimentos. Há algumas semanas, outra pessoa se inspirou na atitude dela e passou a catar alimentos de um supermercado para distribuir em uma creche, um abrigo de deficientes e a famílias pobres de Águas Lindas, no Entorno do DF.
“As pessoas ficam impressionadas com a ideia, gostam e geralmente apoiam. Os beneficiados só agradecem. […] As doações de alimentos são raras, mas às vezes algum amigo doa uma cesta, um pacote de feijão”, diz.
Lisa afirma que gostaria que o projeto se expandisse. Para ela, o ideal seria que as pessoas catassem alimentos perto de casa ou do trabalho e os distribuíssem a quem tivesse necessidade. A professora também destaca a importância de olhar o que está na geladeira e não vai ser usado.
“E quem precisa pode ser seu vizinho de casa, um amigo doente, um colega de trabalho sozinho. A comida se torna um pretexto para olhar e se aproximar do outro. Eu distribuo também para uma vizinha e para os dois porteiros do prédio onde moro. Vivemos um momento de solidão crônica, e precisamos pensar em estratégias criativas e sustentáveis para cuidar mais um do outro”, defende. “[Quando doo me sinto] Muito feliz e satisfeita. Missão cumprida.”
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Raquel Morais / Do G1 DF.