‘Rima’: nosso gringo Peter, achou deslumbrante o desempenho de Antonio Nóbrega

São justamente as formas e as modalidades poéticas populares brasileiras as principais referências de Rima. Foto: Silvia Machado / Divulgação.

O RIMA é uma escapada dos shows anteriores de Nóbrega. Onde anteriormente, a inspiração de Nóbrega vinha mais da música folclórica popular e da dança, aqui ele se voltou para poesia rimada,estrofes brasileiras e as histórias, antigas e novas, que fornecem temas para as peças. É um material muito rico. Ele reuniu composições inéditas e autorais – compostas em parcerias com letristas e poetas amigos Bráulio Tavares e Wilson Freire – e relembra canções e poemas relacionados ao imaginário poético popular brasileiro.

Esta é a coisa mais próxima que temos aqui em São Paulo do tradicional menestrel brasileiro cujo ‘Cordel’ se desenvolveu em comunidades camponesas isoladas do Nordeste onde, como observou Larry Rohter, a palavra falada ou cantada é mais valorizada do que a escrita. “Como benefícios de uma forma de arte indígena, os mesmos bailarinos que criam os poemas, inspirados em eventos atuais ou lendas antigas, são geralmente os que os imprimem, ilustram e falsificam.”

Nóbrega relembra canções e poemas ligados ao imaginário poético popular brasileiro. Foto: Silvia Machado / Divulgação.

“Somos poetas menestréis, porque o que escrevemos é em rima e vem da nossa imaginação”, disse José João dos Santos, que sob o pseudônimo Azulão, ou Big Blue, já escreveu e publicou mais de 300 títulos de cordel. “Mas também sou jornalista, levando a notícia aos pobres e aos iletrados de uma forma que eles entendem e confiam mais do que jornais ou televisão”. (https://www.nytimes.com/2005/06/18/arts/minstrel-poets-of-brazilian-backlands.htm)

Assim como os menestréis antes dele, Nóbrega não tem reservas em usar os acontecimentos atuais como assunto, especialmente agora numa arena política altamente carregada. Esse gringo foi transportado de volta para um pequeno teatro de arena no Rio, no final da noite, no início dos anos 60, onde, contra um pano de fundo de projeções de cenas brasileiras, ouviu Maria Bethânia cantar ‘Carcará’ e sentiu uma onda de solidariedade abraçar o público da mesma forma como o fez ontem à noite (domingo 4).

Rima é um misto de show, espetáculo, aula, sarau e recital, no qual a grande estrela é a palavra rimada. Foto: Silvia Machado / Divulgação.

Nóbrega afirma que uma de suas intenções, como as do Cordel, é difundir a versátil gama de estrofes e rimas criadas por poetas populares, especialmente do Nordeste brasileiro. Ele diz: “Como conheço a poesia popular brasileira, logo percebi que sua construção era um edifício simbólico de vários andares. Minha convivência com cantores, emboladores e folheteiros e a leitura de obras de grandes escritores e documentaristas da poesia popular, como Leonardo Mota, Câmara Cascudo, Mário de Andrade, entre outros, me inspiraram”. O resultado, diz ele, “é um espetáculo misto, show, classe, festa, recital… onde a grande estrela é a palavra rima. A palavra rimante que trata de questões e assuntos relacionados ao nosso universo individual e coletivo”.

Este show de 80 minutos acabou rápido demais!

Acompanhados pelos músicos Edmilson Capelupi (cordas dedilhadas), Edson Alves, (cordas dedilhadas) Cléber Almeida (percussão e bateria), Léo Rodrigues (percussão e bateria), Olivinho (acordeom) e Zezinho Pitoco (clarinete, sax alto e zabumba). Um dos momentos marcantes teve Nóbrega com seu violino e Léo Rodrigues com apenas um pandeiro duelando em uma extraordinária e desgastante competição rítmica.
 
Que sorte os brasileiros têm de ter um tesouro vivo, como Nóbrega, produzindo um novo trabalho maravilhoso como o RIMA!

Serviço

Rima [com interpretação em Libras].
Sextas 3 e 10, sábados 4 e 11 e domingos 5 e 12 de maio de 2019.
Sextas e sábados às 20h e domingos às 19h.
[duração aproximada: 80 minutos].
Sala Itaú Cultural (piso térreo) – 224 lugares.
Entrada gratuita.
Clique aqui para saber mais sobre a distribuição de ingressos.

***
Peter Rosenwald mora em São Paulo e combina sua ocupação como estrategista de marketing para grandes empresas brasileiras e internacionais. Tem também carreira em jornalismo onde atuou por dezessete anos como crítico sênior de dança e música do ‘The Wall Street Journal’. Escreve toda semana no São Paulo São.

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