Seu gigantismo acabou por impor forte segregação social com cara de segregação espacial. As periferias estão fora dos benefícios dos grandes ajuntamentos humanos. Dai seu problema crônico de transportes, de mobilidade urbana.
Mais grave é que seu enriquecimento se deu de forma concentrada, sob a égide do automóvel e dos shopping centers. A dualidade que se criou, de modo estrutural, é notável.
E porque isso tudo é odioso precisamos mudar o curso da cidade, assumir o espaço público como denominador comum, capaz de aproximar extremos na medida em que for valorizado. Os investimentos em tudo o que é bem comum é o caminho para diminuir distâncias: parques, árvores, transporte, atividades nas ruas, liberdade para uso múltiplo dos espaços – tudo isso fará de São Paulo o que são seus habitantes.
Uma cidade plural são seus trabalhadores, seus intelectuais, seus artistas; são seus servidores públicos – do lixeiro ao prefeito – e assim por diante. 467 anos de existência é tempo suficiente para olharmos a cidade como composta de pessoas mais do que edifícios e carros. Este desafio está diante de nós, e só seremos cidadãos melhores olhando o espaço público como aquele território de convivência muitas vezes reprimida ou escondida.
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Carlos Alberto Dória, sociólogo e conselheiro do São Paulo São, tem vários livros publicados sobre sociologia da alimentação. Mantém e edita o blog e-BocaLivre.