Realidade cotidiana para alguns, as desigualdades sócio-espacias podem passar despercebidas aos olhos de outros, sobretudo do nível do chão – do ponto de vista individual que, por definição, não abrange o todo. De cima, a partir de um olho imaginário que enxerga a totalidade das relações, ignorar essas desigualdades seria mais difícil – é isso que nos apresenta a série Unequal Scenes, do fotógrafo sul-africano Johnny Miller.
Feitas a partir de um drone, as fotografias aéreas de Miller procuram destacar as rupturas no espaço físico causadas tanto pela discrepância de acesso a serviços básicos como por questões culturais e raciais. Iniciado em seu país natal, o projeto registra assentamentos de Joanesburgo e cidades próximas marcados por cicatrizes deixadas pelo apartheid – barreiras físicas que condicionam o desenvolvimento local até hoje, 24 anos após o fim do regime.
“Discrepâncias em como as pessoas vivem são, por vezes, difíceis de ver do chão. A beleza de poder voar é ver as coisas de uma nova perspectiva – ver as coisas como elas realmente são. Olhando diretamente de centenas de metros acima do chão, surgem cenas incríveis de desigualdade. Algumas comunidades foram expressamente projetadas com a segregação em mente, outras cresceram mais ou menos organicamente.” – Johnny Miller
Mais recentemente, Miller voltou seu olho aéreo para outras cidades dos Estados Unidos, México, Tanzânia, Quênia e Índia. Cada um destes lugares apresenta formas de ocupar o espaço e morfologias urbanas distintas e específicas de seus respectivos contextos, entretanto, as rupturas se mantêm, condicionando – e limitando – o desenvolvimento social e espacial.
Veja mais fotografias da série Unequal Scenes no site do projeto.
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Romullo Baratto é arquiteto e urbanista, mestre em arquitetura e cinema pela FAU-USP. *Artigo publicado originalmente no Arch Daily.