Paraibano, nascido em Brejo do Cruz, Zé escreveu essa música pensando nos habitantes de sua região que buscam trabalho atravessando a seca, e também se inspirou em ideias contidas em dois livros: “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley, e “1984”, de George Orwell.
Nessas quatro décadas de sua trajetória artística, esse paraibano arretado, talentoso e autêntico, tem usado originalmente o verbo e a voz inconfundível para tocar os nossos corações e se firmar como um dos mais consagrados compositores da MPB.
Cantor e compositor, Zé Ramalho está percorrendo o Brasil com shows de comemoração aos seus 40 anos de carreira. Eu tive a felicidade de assistir ao seu show em São Paulo.
Em quase duas horas de uma apresentação irretocável, acompanhado da afinadíssima “Banda Z”, ele interpretou os sucessos de sua carreira, como “Avôhai” (neologismo criado por ele da aglutinação das palavras “avô” e “pai”), “Chão de Giz”, “Mistérios da Meia-Noite”, entre a “Serpente e a Estrela”, dentre outras, e ainda encontrou espaço para homenagear o nosso eterno maluco beleza, Raul Seixas.
A casa de espetáculos “Tom Brasil” estava lotada para ouvir, cantarolar, vibrar e se emocionar com as interpretações inconfundíveis de Zé Ramalho. Na plateia uma diversidade de gerações. Dos maduros aos mais jovens, todos estavam ali para reverenciar o ser humano e ver de perto o artista brasileiro que escolheu se expressar por meio de suas músicas.
Suas letras são inesquecíveis, eternas e trazem em cada verso o seu jeito próprio de enxergar e se posicionar neste triste Brasil que, como ele descreveu em outro trecho de “Admirável gado novo”: “O povo foge da ignorância. Apesar de viver tão perto dela; E sonham com melhores tempos idos, Contemplam essa vida numa cela… Esperam nova possibilidade, De verem esse mundo se acabar”. Viva o Zé Ramalho, um gigante brasileiro! Por aqui, fico. Até a próxima.
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Leno F. Silva é diretor da LENOorb – Negócios para um mundo em transformação e conselheiro do Museu Afro Brasil. Escreve às terças-feiras no São Paulo São.