‘Frágeis democracias’ diz o nosso gringo Peter Rosenwald

Há apenas uma semana, uma multidão gigante se amontoou sob a via elevada que cobre a Rua 13 de maio em São Paulo, protegendo-se de uma chuva torrencial que alguns devem ter acreditado ser a vingança de Deus por suas infindáveis ​​campanhas políticas barulhentas.

No mesmo fim de semana da tempestade, depois de um processo amargo e historicamente confuso e caótico, Brett Kavanaugh, indicado por Donald Trump, acusado de tentativa de estupro quando estudava no ensino médio e de mentir para o Comitê Judiciário do Senado, foi elevado à Suprema Corte dos Estados Unidos, para um um cargo vitalício. E os eleitores brasileiros foram às urnas e deram 46% de seus votos ao oficial militar aposentado Jair Bolsonaro, chamado de Donald Trump brasileiro, que disse: “Sou a favor de uma ditadura… Nunca vamos resolver os sérios problemas nacionais com essa democracia irresponsável ”. Sem dúvida, ele tem em mente um candidato para ditador em especial.

A menos que um milagre aconteça, Bolsonaro poderá conquistar a presidência brasileira no segundo turno e Kavanaugh não perderá tempo em adicionar a sua forte filosofia de direita a uma Suprema Corte já altamente conservadora.

Robert Muggah, co-fundador do Instituto Igarapé, um think tank baseado no Rio de Janeiro, escrevendo no “New York Times”, faz a pergunta: “a democracia no Brasil pode ser salva? (https://www.nytimes.com/2018/10/08/opinion/brazil-election-bolsonaro-authoritarian.html)

É a mesma questão que vem sendo colocada sobre os EUA e, mais genericamente, sobre a própria democracia. A “democracia” como filosofia governamental perdeu seu fascínio? E como Jeffrey W. Rubin escreveu no The Guardian britânico: “À medida que Jair Bolsonaro, pró-tortura, se aproxima da vitória presidencial, a democracia nas Américas raramente pareceu tão frágil.” Sua fragilidade não é uma descoberta nova. Como Churchill disse: “A democracia é a pior forma de governo, exceto todas as outras que têm sido tentadas de tempos em tempos”. É bom ter eleições democráticas livres após a queda de algum outro sistema governamental, mas a história ensinou que as sementes da verdadeira democracia funcional não crescem rápida ou facilmente. Elas precisam de um cultivo cuidadoso para criar raízes e ganhar força suficiente para resistir a todos os perigos naturais que as ameaçam. Vejam só os resultados da Primavera Árabe e África do Sul. 

Como nossas sociedades cresceram para esperar e acreditar na gratificação instantânea, só girar o botão ou a chave do código e todos os nossos problemas serão resolvidos, se espera cada vez mais isso. As promessas dos políticos são soluções rápidas a curto prazo: restringir a imigração, cortar impostos e regulamentações governamentais, ignorar o aquecimento global e o meio ambiente em ruínas, parar de se preocupar com os pobres, os necessitados e quaisquer grupos étnicos ou sexualmente diversos não-brancos. Mantenha-se a mensagem política curta e memorável, seja verdade ou não. Deixemos que a cobertura da democracia esconda um esforço cada vez maior dos ricos para se tornarem mais ricos e poderosos, protegendo autocraticamente o que eles acreditam ser seus “direitos” históricos, aterrorizados de serem roubados à medida que perdem sua maioria numérica e se tornem apenas outra minoria.

Maioria dos brasileiros prefere o regime democrático como melhor forma de governo. Imagem: Reprodução.

Uma pesquisa recente do Pew Research Center descobriu que “embora os americanos estejam em amplo acordo sobre ideais importantes relacionados à democracia nos EUA, eles acham que a nação está aquém de realizar muitos desses ideais”.

De acordo com Robert Muggah, “… enquanto pesquisas recentes sugerem que a maioria dos brasileiros apóia a democracia, eles estão mais desunidos do que nunca. Mais da metade admitem que iriam “seguir adiante” com um governo não-democrático se “resolvesse problemas”. (Bolsonaro está entre eles.) “É um fato, diz a The Economist“Muitas democracias nominais têm deslizado para a autocracia, mantendo a aparência externa da democracia através de eleições, mas sem os direitos e instituições que são aspectos igualmente importantes de um sistema democrático em funcionamento”. 

É isso que estamos vendo no sucesso popular de Trump, Bolsonaro e muitos outros líderes autoritários tomando o poder em todo o mundo? E se for, é de se surpreender que a depressão esteja aumentando?

***
Peter Rosenwald 
mora em São Paulo e combina sua ocupação como estrategista de marketing para grandes empresas brasileiras e internacionais. Tem também carreira em jornalismo onde atuou por dezessete anos como crítico sênior de dança e música do ‘The Wall Street Journal’. Escreve toda semana no São Paulo São.

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