Artistas querem criar polo cultural no Centro de Fortaleza

Bairro que concentra a maioria dos equipamentos culturais da Capital, o Centro tem, contraditoriamente, sufocado espaços de arte. O outrora comentado corredor cultural que ligaria o Benfica à Praia de Iracema – tendo a região central como miolo – parece esquecido e, cada vez mais, artistas e públicos se dispersam. Neste 13 de abril, dia em que Fortaleza celebrou 290 anos, o Vida&Arte questiona: a arte ainda tem espaço no “coração” da Cidade?

O artista plástico Rian Fontenele luta para que sim: o Centro ainda seja um polo cultural. Ele fez de sua casa, no encontro da Travessa Maranguape com Avenida Adolfo Caminha, um ateliê de pintura que resiste em meio à desordem da feira difundida a partir da rua José Avelino. Para Rian, porém, se manter ali é uma “odisseia de quem tenta resistir à agressão urbana e ao descaso desta cidade de muros altos e indiferente”.

Ao trocar o apartamento em que morava no Meireles pelo galpão de 450 metros quadrados nessa área de comércio, o objetivo era demarcar mais um espaço para as artes. “O Ateliê foi construído como um simbolo de entrega e vivência às artes, sua construção foi, de fato, uma experiência de requalificação urbana desta zona degradada”.

O artista plástico Rian Fontenele em sua casa-galeria no Centro. Proposta é fazer do bairro um “distrito artístico”. Foto: Ethi Arcanjo.

Para se fortalecer nesse movimento contrário à falta de ordenamento público na região, Rian se junta agora a outros artistas para resistir. Ele se alinhou aos seus vizinhos da Travessa da Imagem e do Galpão Super 8 para formar o núcleo de projeto que deve tomar corpo nos próximos meses. “A construção de um distrito artístico traria um uso diurno e noturno, construindo um roteiro entre galerias, ateliês, estudios, movimentando e agregando valor ao Centro Histórico da cidade”, relata Rian.

O fotógrafo e pesquisador Silas de Paula também encabeça esse movimento, ao lado de Rian e Marcos Montenegro (Travessa da Imagem). Ele antecipa que o primeiro passo dessa resistência é uma ação chamada Imagens não reveladas. “A ideia é revelar o Centro, mostrando projetos e artistas que habitam essa região”, explica. Partindo das artes visuais, o grupo pretende incluir o teatro, a dança, a música e demais áreas. “Não há a manutenção de pensamento sobre o Centro, a ideia agora é discutir e intervir diretamente”, avalia Silas.

Para ele, a feira da José Avelino é um símbolo da falta de ordenamento no bairro. “Aquilo é uma loucura. Fica completamente fechada a rua, é uma desorganização. Os artistas não são contra o vendedor de rua, mas não pode essa zona”, critica o professor universitário.

“Estamos pensando um projeto conjunto em que pretendemos discutir arte e propor projetos como formação e acompanhamento teórico e prático com jovens artistas e curadoria crítica”, completa Rian.

Silas pondera: ações como essa que agora se desenha são uma forma de provocação. “Se a gente consegue trabalhar várias linguagens, nós conseguiremos fazer mostras e fechar as ruas, assim como as feiras fazem. Temos que chamar atenção para que a sociedade discuta”, incentiva.

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Paulo Renato Abreu em O Povo On Line.

 

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