Câmara aprova em primeira votação projeto que prevê Parque Minhocão e o elevado sem carros

O texto da lei cria o ‘Parque Minhocão’, que deverá estar plenamente em funcionamento em até quatro anos.

O vereador José Police Neto, um dos autores da Lei, realça que a determinação já consta do Plano Diretor, e que a única coisa que os autores do PL fizeram foi colocar a ideia em prática. “São cinco anos de debate aqui na Câmara. A sociedade está pronta para transformar esse monte de concreto em um parque definitivo”, afirma Police.

Para ter efeito de lei, a medida precisa passar por nova sessão de votação na Câmara, ainda sem data para acontecer. Caso aprovada, ela seguirá para sanção do prefeito João Doria.

Police Neto, um dos mais aguerridos vereadores paulistanos na luta por uma mobilidade urbana sustentável (é dele, por exemplo, o Estatuto do Pedestre), explica ao Diário do Transporte como se dará a desativação gradual do minhocão:

“A desativação gradual do elevado será combinada com a implantação do Parque Minhocão. Iniciaremos com a compatibilização dos horários ao rodízio. O uso da via Elevada para carros se dará exclusivamente das 7 h às 20 h de segunda à sexta-feira. O Parque Minhocão funcionará de segunda a sexta-feira após às 20h, sábados, domingos e feriados integralmente. A segunda etapa será o fechamento da via para carros nas férias escolares. Ou seja, em Janeiro e Julho o Parque Minhocão será integralmente dedicado ao lazer, esporte e cultura, de todas as escolas do entorno. É bom lembrar que há mais de 25 anos o Elevado é espontaneamente transformado em parque, quando os carros são impedidos de circular. O próximo desafio será tornar o Parque Minhocão verde. Ricardo Cardim (Floresta de Bolso) e Nik Sabey (Novas Árvores por aí) já são parceiros”, diz Police.

Minhocão: uma cicatriz urbana.

Flagrante do trânsito no “Minhocão“ em São Paulo-SP, no começo dos anos 70. Foto: São Paulo Antiga.

O Minhocão, oficialmente chamado de elevado Presidente João Goulart, é uma cicatriz na paisagem urbana de São Paulo. Construído às pressas, mirando apenas nos proprietários de automóveis, ele reflete bem uma visão distorcida de transporte que durante décadas, e até hoje, persiste nas cidades brasileiras.

Prefeito à época, Paulo Maluf tratou o projeto como um dos grandes destaques de seu “jeito de governar”, à base de grandes obras viárias. Nomeado prefeito pelo regime militar, Maluf desdenhou das opiniões contrárias ao projeto. O minhocão, quando foi anunciado pelo prefeito no finalzinho dos anos 1960 (vídeo aqui), já estava ultrapassado como solução viária nas principais cidades do mundo.

Se de um lado o elevado agradou aos proprietários de automóveis, de outro destruiu não só a paisagem urbana, como ignorou seus danosos efeitos sobre a qualidade de vida de milhares de paulistanos que moravam no entorno. O elevado, construído sobre as avenidas São João e General Olímpio da Silveira (além da Amaral Gurgel), ficou pronto em 14 meses, no início de janeiro de 1971.

Maluf o chamaria então de “a maior obra de concreto armado da América Latina”.

A Prefeitura de São Paulo, para a inauguração do gigante de cimento, fez publicar convite nos principais jornais paulistanos. Para homenagear seus padrinhos de poder, Maluf escolheu chamar sua obra faraônica de elevado Costa e Silva, “uma das grandes figuras da Revolução de 1964”.

O inferno urbano provocado pela intervenção tresloucada de um prefeito biônico passou a funcionar todos os dias da semana, 24 horas por dia. Somente em 1976, após inúmeras reclamações dos moradores da região, o Minhocão passou a ser fechado na madrugada, entre meia noite e cinco horas da manhã. Em 1989 a prefeitura puxou o horário de fechamento para as 21:30, impedindo a circulação de automóveis aos domingos.

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Por Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transportes. *Artigo publicado originalmente no Diário de Transporte.

 

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