Catorze anos depois, a situação toma rumo distinto: o espaço tem reinauguração prevista para o segundo semestre, com o nome Arcade Omelete. Em paralelo, outros dois cinemas do centro expandido também devem reabrir, com propostas distintas: o Cine Bijou, na Praça Roosevelt, e o Cine Rex, na Bela Vista.
Além de novo nome, o Ipiranga terá um perfil mais próximo da cultura pop e gamer. “Será um novo ponto de sociabilização, como eram os cinemas no passado, só que atualizando para o público de hoje, de um jeito diferente”, explica Marcelo Forlani, sócio-fundador do grupo Omelete e um dos idealizadores do projeto, bem como Facundo Guerra (grupo Vegas).
A sala principal terá foco em games, com cerca de cem computadores e a transmissão de campeonatos profissionais. Trará ainda uma área de convivência e espaço com jogos antigos, como fliperama e tabuleiros, e promoverá torneios internos, além de receber festas. A proposta se assemelha com a da Comic Con Experience, evento realizado pelo grupo Omelete anualmente e que reuniu, em 2018, 262 mil pessoas.
Também no novo Ipiranga, a sala 2 receberá maratonas e sessões especiais de filmes e séries, assim como eventos do site de cultura pop Omelete. “A ideia não é utilizá-lo como um cinema padrão, não é bater de frente com as grandes redes”, explica Forlani. “Todo o local será voltado para convivência e socialização entre os fãs de games, cinema, séries, cosplay, enfim, cultura pop.”
De 1943, o Cine Ipiranga tem projeto do arquiteto Rino Levi e é tombado, assim como outros expoentes da antiga Cinelândia Paulista, como o Marabá, localizado do outro lado da Avenida Ipiranga e hoje parte da PlayArte Cinemas. “Tem também o lado histórico, de estar em um lugar que é tão importante para São Paulo. O foyer (hall) já é um portal, subir aquelas escadas é diferente”, comenta Forlani.
Filmes autorais
Outro cinema do centro expandido que deve abrir em breve é o Cine Bijou, que funcionou na Praça Roosevelt entre os anos 60 e 90 e tornou-se conhecido por exibir filmes autorais, pelo porte reduzido – eram 88 poltronas – e por ter sido um espaço de resistência durante a ditadura militar.
O Bijou está sendo recuperado pelo Satyros, companhia teatral que já tem dois espaços na Roosevelt. O objetivo é reabri-lo em junho, mais próximo o possível de sua versão original. A ideia nasceu um pouco no improviso, quando uma escola de teatro deixou o local. “A gente pegou o espaço meio no susto”, conta Ivam Cabral, um dos fundadores da Satyros.
A sede principal do cinema recebe atividades teatrais há mais de 20 anos. “Agora, será um espaço de cinema, sobretudo, com filmes de arte, produções independentes, que não conseguem chegar no circuito”, conta.
Ivam também adianta que está em desenvolvimento um projeto de sessão especial chamada provisoriamente de Filme da Minha Vida, em que um cinéfilo apresenta uma obra que considera marcante. A proposta também inclui resgatar as características originais do espaço, como o letreiro da fachada. Para isso, os investimentos iniciais serão de R$ 150 mil.
Também está em desenvolvimento um projeto para o espaço do antigo Cine Rex, inaugurado em 1940 e que deu lugar ao antigo Teatro Zaccaro. Em fase inicial, cogita-se remodelar o imóvel, mantendo a edificação original, que é tombada, para receber apresentações variadas. O novo espaço cultural é idealizado pela empresa Prevent Senior, que ainda não divulgou detalhes.
Transformação
Para Lúcio Gomes Machado, professor aposentado da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP), o cinema de rua tem o potencial de transformar o entorno. “Ele retoma a função da rua, que é ter gente. E o fato de atrair pessoas para a rua faz com que o entorno se revitalize de maneira importante. Tendo mais coisas na rua, há uma força de sinergia. Um empreendimento atrai outro, o que ajuda a remontar a cena cultural na cidade.”
Machado ressalta que os cinemas que serão reabertos estão ligados à história da capital. “O Cine Ipiranga é uma das obras de arquitetura mais importantes da cidade. Já o Cine Bijou é emblemático porque fez parte da formação de cinéfilos, projetando filmes que não estavam no circuito.”
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As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.