Como melhorar a mobilidade sem ser ‘anti-carros‘?

Sim, nos referimos aos eternos e inevitáveis congestionamentos diários que todos enfrentam.

Então, se é vantagem para todos os setores, por que ainda não implantamos um sistema alternativo de mobilidade em nossas ruas? Há muitas respostas para esta pergunta. A começar pela resistência à mudança por parte dos cidadãos, à falta de prioridade dada a este assunto nos programas políticos e ao fato de não haver um modelo universal ou mágico que possa solucionar todos os problemas de uma vez em todos os lugares. Superando estas barreiras, podemos começar analisando quem usa de fato as ruas, quem não usa e seus motivos.

Para começar, os traçados urbanísticos de grandes cidades como Madri revelam como 70% do espaço público é usado por um único meio de transporte, o carro, que só transporta 40% dos passageiros. Isto é sensato? A transformação para uma uma cidade mais acessível e universal para todos passa por dividir o espaço equitativamente com o objetivo final de que todos encontrem seu espaço e ninguém se sinta excluído das ruas. Isso passa, não por excluir o carro, como muitos acreditam ser as novas propostas de viabilidade, mas por incluir àqueles que ainda não estavam contemplados no plano. Além de algumas formas de mobilidade – como as bicicletas -, também passa por convidar a natureza a fazer parte de nossas ruas. Um desenvolvimento urbano sustentável nunca pode se esquecer deste elemento vital no cotidiano das pessoas.

Todas estas reflexões encontram-se no projeto Calles Completas. Não se trata de um termo novo – há experiências prévias, como as Superilles e a Zona 30 Chamberí na Espanha, além de outras a nível internacional, como as Complete Streets em países como os Estados Unidos e Canadá. Há ainda exemplos que podem ser encontrados em toda a América Latina – mas Paisaje Transversal e Hécate Ingeniería, em aliança através da #Churruca15, os trouxeram a nossos municípios com uma ideia: humanizar e encher de vida o contexto urbano. Com a ferramenta da Tripla Dimensão no Espaço Público garantimos que todas as partes fundamentais da diversidade urbana sejam incorporadas e corrijam o desequilíbrio existente:

Diversidade de usos e gestão

As ruas devem ser pensadas sob a perspectiva de serem percorridas por transporte público, veículos, bicicletas e a pé. Sem esquecer de outros modos de mobilidade com a cadeira de rodas, é claro. Muitas vezes os pedestres são subvalorizados e não são incluídos como prioritários nos planos, mesmo que superem em número os cidadãos que se deslocam por outros meios. Por outro lado, as ruas das cidades devem convidar a seus residentes, e isso pode ser alcançado envolvendo a cidadania na gestão dos espaços públicos.

As ruas devem ser pensadas sob a perspectiva de serem percorridas por transporte público, veículos, bicicletas e a pé. Imagem: Bryan Hanes and Parsons Brinkerhoff.

Segurança e conforto

Há estudos – de todo tipo – que demonstram que o desenho de algumas vias desencoraja grande parte da sociedade a usa-las. Muitas mulheres, pessoas de idade, aqueles com diversidade funcional ou os setores infantis da população, são expulsos das ruas porque estas não contemplam as condições adequadas em termos de desenho ou distribuição do espaço: pode ser falta de luz, espaços de passagem estreitos, falta de conforto pelo excesso de ruído, a falta de segurança por dividir espaços com outros transportes mais agressivos, etc.

Deve se levar em conta – não apenas do ponto de vista da mobilidade – que as ruas também são para “estar”, não apenas para “passar”. Por isso, é necessário garantir que haja espaços de permanência, verificar se estes estão adequados ao lugar (clima) e se são atraentes para realmente serem usados pelas pessoas. Aqui entra o valor dos elementos naturais que melhoram muitos outros aspectos.

Acessibilidade universal e conectividade

Se os pedestres não querem passar por uma rua por ser incômoda ou desagradável, podemos falar realmente que a cidade está conectada? Entendemos que não, por isso é necessário garantir que todas as pessoas, independentemente de sua condição (gênero, idade, físico, etc) e da forma com que se deslocam, tenham opções de mobilidade e opções de lugares para permanência. Sempre de maneira proporcional. Sem dúvida, o desenho do espaço público e a mobilidade são ferramentas poderosas para garantir a acessibilidade universal e a criação de espaços e ruas mais inclusivos.

É importante dividir o espaço equitativamente com o objetivo de que todos encontrem seu espaço e ninguém se sinta excluído das ruas. Foto: NACTO

Todas estas ideias confluem no projeto Calles Completas que tem como ponto de partida o urbanismo tático e o placemaking: intervenções ágeis que vinculam mobilidade, espaço público e participação, encaminhadas para gerar ruas cheias de vida através de protótipos avaliáveis. Este tipo de proposta tem uma série de vantagens, como seu baixo custo, a temporalidade das ações, a agilidade das medidas, a adaptabilidade a diversos espaços diferentes, etc. Ainda sim, como em tudo, há um grande perigo.

Lamentavelmente, vemos como o urbanismo tático pode ser entendido como “curativo” por parte de algumas corporações para evitar sua responsabilidade de intervir de forma integral e rigorosa em suas ruas. Além disso, o urbanismo tático tende a ser interpretado como um fim em si mesmo, quando na verdade é um meio para conseguir mudanças estruturais na cidade através da lógica do urbanismo em “beta permanente”. De modo que este tipo de intervenção deve estar sempre incorporada a uma estratégia mais ampla e deve ser completada com outros tipos de ações, assim como um sistema de avaliação que nos permita avançar para intervenções ótimas e duradouras. 

Tratamos de tudo isso e muito mais na conferência TEDx em Madri (assista o vídeo). Nosso companheiro de Paisaje Transversal, Iñaki Romero, explicou todos os aspectos e aprofundou-se nas fases que devem ser desenvolvidas em Calles Completas para ter um resultado satisfatório, tanto em termos de mobilidade quanto de redistribuição do espaço público.

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