‘Construímos cidades para carros e elevadores’ diz o arquiteto Max Schwitalla

 
No Rio de Janeiro onde participou do Fórum Internacional de Arquitetura e Urbanismo 2015, ex-skatista alemão que estuda “montanhas russas” acredita que a beleza do jeito brasileiro está no pensamento menos tecnológico e mais humano.

“Estudei arquitetura na Alemanha e, em 2006, tornei-me mestre pelo Instituto Federal de Tecnologia de Zurique (ETH). Já trabalhei com o Rem Koolhaas, um dos principais pensadores de arquitetura vivos, e, agora, em meu estúdio, realizo experimentos para repensar a mobilidade urbana” 
 
Conte algo que não sei. 
Atualmente, tem-se a ideia de que as cidades são os locais mais importantes do planeta, por sua concentração populacional. Mas o que a maior parte dos designers urbanísticos faz hoje é tentar se certificar de que os carros possam percorrer esses espaços, e, os arquitetos, que os elevadores estejam “bem embrulhados”. Ou seja, construímos cidades para carros e elevadores. Precisamos repensar se esse é o modelo que mais desejamos. 
 
Como mudar isso? 
Primeiro, através de um reconhecimento dessa realidade por todos. Os carros estão isolando as pessoas umas das outras, e se tornando uma dor de cabeça brutal. Assim, espero que não seja só a arquitetura que traga as mudanças, mas que elas partam das próprias pessoas. 
 
Quão grande é o desafio da mobilidade nas cidades?
Definitivamente, é um dos principais, à medida que nossas vidas se tornam fisicamente mais ou menos móveis. Viemos para as cidades para encontrar com outras pessoas. Se eu não consigo ir do ponto A ao ponto B, o conceito de cidade fracassa. 
 
Qual é a solução, então? 
Acredito que as principais tecnologias que impulsionam a mudança não são aquelas ligadas à mobilidade em si, como carros, mas sim as móveis e digitais, como as que permitem compartilhar carros, por exemplo. Além disso, a macromobilidade está se tornando cada vez mais importante, com scooters e bicicletas elétricas. Temos um projeto baseado em um estudo com montanhas russas. A ideia é que se você tem um morro e o asfalto, pode ligá-los por meio de um sistema que passa por cima das favelas e, depois, por debaixo da terra.
 
O que despertou sua paixão por este viés da arquitetura?
Aos 14 anos aprendi a ler a cidade de uma forma completamente diferente andando de skate: para o skatista, os elementos considerados obstáculos à mobilidade se tornam oportunidades para fazer manobras. Esta leitura tridimensional do espaço me ensinou a vê-lo por meio do movimento. Essa é minha paixão por trás do urbanismo: o modo como nos movemos pela cidade informa e molda o design urbano.
 
O que chamou a sua atenção no Rio desde a sua última visita, há dez anos? Posso ser sincero?
As pessoas estão mais gordas. Não só no Rio, mas no Brasil como um todo. Não sei o que acontece. Por isso devemos colocar as pessoas em foco, e não os carros e elevadores.
 
Qual imagem passou a ter de nós após namorar uma brasileira por quatro anos?
O que aprendi a partir da convivência com ela e os seus amigos, uma geração jovem de fotógrafos, arquitetos e artistas, foi uma grande ambição em trazer uma escala humana ao seu trabalho. Essa para mim é a beleza do jeito brasileiro de pensar: vocês tem um ponto de vista menos tecnológico, e mais humano.
 
Qual é a sua cidade favorita? 

Barcelona. Por causa da sua mobilidade, mas também por reunir de forma harmoniosa um certo hedonismo, uma escala humana, uma identidade cultural e uma beleza, mesmo com a presença de um poder econômico por trás disso.
 
Thiago Jansen em O Globo.
 

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