Em Heliópolis, uma Escola Municipal ‘para além das paredes’


Heliópolis é um bairro da Zona Sul da capital paulista que historicamente, desde a sua fundação, tem uma população muito ativa e organizada, que reivindicava melhores serviços públicos, como moradia, saúde e educação. Nos anos de 1990, a força mobilizadora dos moradores, em diálogo com uma nova gestão escolar na 
EMEF Campos Salles, uma das principais escolas da região, foi trazendo ao bairro um novo olhar sobre a forma de se pensar e fazer educação.

comunidade passou a participar ativamente da construção e monitoramento do projeto político pedagógico da EMEF Campos Salles por meio de comissões formadas pelos movimentos sociais e pais de alunos, atuando tanto na estrutura física da escola, quanto impulsionando, por exemplo, espaços para o acesso à cultura e ao esporte.

Pouco a pouco, a escola foi se abrindo à comunidade. O muro de alvenaria que a rodeava, deixou de existir. A praça em frete ao prédio, que havia se tornado ponto de venda de drogas, foi revitalizada, e tudo virou um só espaço, conectando de verdade a escola ao bairro. Nos anos de 2000, o diretor da EMEF, Braz Nogueira, concluiu um curso de extensão em Educação Integral, onde conheceu experiências inspiradoras, como a Escola da Ponte, em Portugal, que o encorajaram a levar a ideia da Educação Integral para Heliópolis. Em assembleia junto aos moradores e as comissões da escola, foi decidido que a escola iria passar por um processo de transformação radical. As paredes das salas foram derrubadas, transformando-as em grandes galpões e o currículo escolar deu espaço ao trabalho coletivo dos estudantes.

Mas, tudo isso foi só o início, pois a escola começou a atuar em parceria com outros espaços educativos do bairro, como os Centro da Criança e do Adolescente (CCAs), as comissões e associações de moradores, reunidas na União de Núcleos, Associações e Sociedade de Moradores de Heliopolis e São João Clímaco (UNAS), a rádio comunitária local, e, se tornando referência aos estudantes como um espaço que podiam frequentar não só para estudar.

Essa cultura impulsionada pela articulação da escola foi tomada como uma das bandeiras da UNAS, principal entidade representativa do território, e logo agregou outras escolas da região. A agenda da Educação Integral como um direito inegável e indissociável do desenvolvimento da comunidade tornou-se uma bandeira das organizações, equipamentos públicos e moradores da comunidade.

Como exemplo, a UNAS e a escola organizam a Caminhada da Paz, que, desde 1999, reúne mais de dez mil moradores para celebrar a cultura de paz na comunidade e reivindicar políticas públicas e participação da sociedade na diminuição dos índices de violência da região. Índices estes que diminuíram sensivelmente ao longo dos anos.

A UNAS também realiza várias outras ações formativas com a comunidade – desde atividades culturais até formação para empregabilidade e geração de renda. Entre as que mais inovadoras, está a Balada sem Álcool, iniciativa da entidade com a Rádio Comunitária e com os jovens Alcoonscientes para promover um espaço de diversão onde o consumo de álcool não é permitido.

Engajar os professores e qualificar o uso pedagógico das atividades produzidas no QMágico. Foto: Divulgação / EMEF Campos Salles.

Para entender

Responsáveis: Todos os setores de Heliópolis.

Envolvidos e parceiros: Atualmente, a Campos Salles possui parceria com o Instituto Baccarelli, fazendo com que mais de 200 alunos da escola recebam formação musical. Outra parceria é com o Instituto Esporte e Educação, onde mais de 200 estudantes praticam voleibol.

Financiamento: gestão dos recursos já recebidos pela Secretaria de Educação e construção de redes de parceria com movimentos sociais locais e outros equipamentos públicos. Fundamentalmente, nenhuma entidade recebeu mais recurso, mas passou a aloca-los em uma agenda da Educação Integral, que se tornou comum a todos os envolvidos.

Principais Resultados: A escola e a comunidade local se tornaram um único espaço. A escola se abriu para a comunidade, derrubando tanto os muros concretos quanto os invisíveis, fazendo com que a comunidade se apropriasse de todos os espaços que a cercavam. Além disso, os outros espaços que compõem o bairro também se tornaram educativos, descentralizando o processo de aprendizagem na figura unicamente da escola. Concomitantemente, Heliópolis vem melhorando seus índices sociais e houve sensível decréscimo da violência.

E o sonho continua. Quer saber mais?

Assista, a entrevista com Orlando Jeronymo, coordenador da EMEF Campos Salles.

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Com informações Centro de Referências em Educação Integral e The Greenest Post.

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