Estátuas esquecidas são resgatadas para exposição em SP

Um depósito no bairro do Canindé, região central de São Paulo, abriga pedaços esquecidos de São Paulo.
 
Lagostas de bronze fazem companhia a uma águia de granito, às patas do cavalo de Duque de Caxias e a um escoteiro de 370 quilos, o veterano local, afastado do convívio público desde 1936.

São 16 esculturas, ou seus fragmentos, que uma vez adornaram praças, fontes e belvederes da cidade, mas foram removidas de seus endereços uma ou duas vezes até, enfim, caírem no ostracismo. Essas peças tiveram suas trajetórias pesquisadas ao longo de um ano pelo projeto “Memória da Amnésia”, concebido pela historiadora, artista e professora da FAUUSP Giselle Beiguelman.


Sala do Arquivo Público de São Paulo expõe monumentos e fragmentos que estavam no depósito. Foto: Ana Ottoni.

Em uma intervenção urbana inédita, elas foram limpas e transportadas ao Arquivo Público de SP – edifício do arquiteto Ramos de Azevedo (1851-1928) inaugurado em 1921 como Escola Politécnica-, onde serão objeto de mostra que integra as Jornadas do Patrimônio Histórico. 

“A exposição não é uma ode a esses monumentos. Trata de política de memória: quem decide o que deve ser esquecido?”, diz Beiguelman. Até 1975, quando foi criado o Departamento do Patrimônio Histórico, eram vereadores que encomendavam peças e determinavam onde seriam instaladas. A artista conta que queria investigar a invisibilidade dessas obras e os motivos que levaram a seu desterro.

 
O monumento ao poeta espanhol Federico García Lorca (1898-1936), morto na Guerra Civil Espanhola, sofreu atentado a bomba em 1969 e teve seus destroços retirados. Anos depois, restaurada pelo autor, Flávio de Carvalho, foi levada à Bienal, onde provocou reclame do embaixador da Espanha. Sequestrada por estudantes da ECA-USP em 1979, foi levada ao Masp para depois retornar à praça das Guianas.
 
“O Fauno”, de Victor Brecheret (1894-1955), hoje no parque Trianon, fora originalmente instalado no terreno do antigo Palácio Episcopal na praça Dom José Gaspar e retirado por causa do suposto descontentamento do arcebispo. 

 
“O Beijo”, que integrava um grande monumento em homenagem ao poeta Olavo Bilac (1865-1918), foi desmembrado e levado a um depósito em 1936. Instalado no Cambuci em 1956, foi banido após protestos de moradores por ser “indecoroso”. Em 1966, ornou o túnel da avenida Nove de Julho, sofreu nova ameaça e foi sequestrado por estudantes da Faculdade de Direito. Está até hoje no largo São Francisco. 
 

Sala do Arquivo Público de São Paulo expõe monumentos e fragmentos que estavam no depósito. Foto: Ana Ottoni.
 
“A invisibilidade dessas peças vem da falta de apropriação delas pelos paulistanos. São obras com histórias interessantes que precisam ser significadas e conhecidas”, diz Mariana Falqueiro, chefe da Seção de Monumentos e Obras da prefeitura. 
 
Ao longo do projeto, Beiguelman construiu um mapa dos deslocamentos de 60 monumentos nômades na capital paulista.
 
“É uma situação de nomadismo intenso -algo muito particular de São Paulo. Aqui, os nômades são, politicamente, órfãos. E vice-versa.”
 
A saga das estátuas – Categorias criadas pela pesquisa da mostra 

Banidos: Monumentos considerados como atentado ideológico ou ao pudor retirados das ruas. 
Clonados: Cópias de outras estátuas expostas como originais Ex: Leão do Ibirapuera.
Engradados: Cercados por grades. 
Invisíveis: Escondidos atrás de árvores ou de moitas ENCLAUSURADOS: Uma vez públicos, ocupam hoje espaços privados.

Serviço
‘Memória da amnésia’.

Quando: de 12/12 a 25/2, de seg. a sáb., das 10h às 17h (abertura 12/12 às 11h). 
Onde: Arquivo Histórico (pça. Cel Fernando Prestes, 152, Luz) Quanto: gratuito.

***
Fernanda Mena na Folha de S.Paulo.
 
 

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