Exposição no MoMA ilumina latinos

Uma avenida São João pré-Minhocão é projetada em um telão no MoMa, no qual aparece novinho e faceiro o belo edifício Porchat, de Rino Levi. Imagens depois, vemos os edifícios Planalto e Viadutos, do autodidata Artacho Jurado, em cenas dos anos 50.

A São Paulo que se verticalizava e esbanjava otimismo aparece em “América Latina em Construção: Arquitetura 1955-1980”, a maior retrospectiva que, em 60 anos, o MoMa dedica à arquitetura latino-americana. O primeiro salão da exposição, na área mais nobre do Museu de Arte Moderna de Nova York, mostra lado a lado projeções de sete grandes cidades latino- americanas e demonstra diversas semelhanças entre as grandes obras dessas cidades no período –ainda que o diálogo entre elas fosse mínimo (melhorou um pouquinho apenas décadas depois).

Além de apresentar um “quem é quem” da arquitetura latino-americana ao público dos EUA, certamente vai apresentar vários nomes e obras aos próprios latinoamericanos que visitarem o museu. Quantos brasileiros conhecem o estupendo campus da Universidade Central da Venezuela, de Carlos Raúl Villanueva, a poucos quilômetros de um parque desenhado por Burle Marx, em Caracas?

Ou os edifícios residenciais do colombiano Rogelio Salmona, de tijolos aparentes que revestem de fachadas a calçadas em Bogotá? E quantos dos nossos vizinhos conhecem Paulo Mendes da Rocha?

Nos mesmos anos em que Oscar Niemeyer (1907-2012) criava a identidade visual da nova capital do Brasil, um grupo de mexicanos, liderado por Pedro Ramírez Vázquez (1919-2013), fazia seu monumentalismo modernista, no Museu Nacional de Antropologia e no estádio Azteca, que viraram a assinatura do PRI (Partido Revolucionário Institucional).

Apesar de ser uma das pioneiras do modernismo, a região foi esquecida por muito tempo no circuito arquitetônico.

Livros em inglês sobre os grandes nomes da região, com exceção de Niemeyer e do mexicano Luis Barragán, são escassos.

“Tenho três diplomas universitários em arquitetura e não aprendi nada sobre a América Latina em aula”, confidenciou Barry Bergdoll, um dos curadores da mostra e diretor do Departamento de Arquitetura do MoMA.

A exposição, aberta até 19 de julho, faz justiça e destaca nomes como Lina Bo Bardi, o porto-riquenho Henry Klumb e o mexicano Juan Sordo Madaleno, além do grande projeto habitacional peruano Previ, a uma nova e numerosa audiência – o MoMa recebe por mês quase 300 mil visitantes, mais do que os dez museus mais visitados de São Paulo juntos.

Iniciados em beisebol.

Apesar da beleza e da relevância do patrimônio construído em exibição, a mostra não se livra dos cacoetes de exposições de arquitetura pelo mundo, apesar do apelo “de massas” do museu. Há quase um monopólio de obras públicas em detrimento da arquitetura feita para o “mercado” (um ícone como o Conjunto Nacional, de São Paulo, aparece apenas no catálogo).

Há espaço um tanto exagerado para o argentino Amancio Williams, que construiu uma única famosa casa em Mar del Plata, mas que foi o mentor do brilhante arquiteto Emilio Ambasz, principal doador da exposição.

O que decepciona, porém, é a dificuldade em dialogar com os leigos. “Aquelas plantas dos prédios são um pouco como papo de iniciado em beisebol, só os arquitetos entendem”, disse o próprio presidente do MoMA, Glenn Lowry, em entrevista coletiva.

Fotos recentes dos prédios (do brasileiro Leonardo Finotti) são poucas, e os vídeos históricos não mostram como eles sobreviveram ao uso. Nem um mísero Google Earth ou Street View à mão. A exposição é convencional para uma arte tão 3D como a arquitetura, especialmente para um museu que tem um orçamento 12 vezes maior que o do Masp (parece até mais).

Há três anos, o museu Metropolitan, também em Nova York, dedicou uma exposição ao grande escultor italiano Bernini (1598-1680). Painéis gigantes permitiam comparar as obras reais aos moldes de argila dos estudos preliminares em exposição, e ferramentas digitais demonstravam o trabalho do artista. Renascimento acessível. Mas mostras de arquitetura ainda estão longe desse esforço didático e de sedução do público.

Raul Juste Lores é correspondente da Folha de S.Paulo em Washington.

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