Mostrou ao Rio de Janeiro que, se quisermos, “Celacanto não provoca maremoto”, não provoca sismos, não provoca guerras. Muito pelo contrário, a gentileza é agente provocadora de paz e gratidão… era José Agradecido.
Vivemos um momento conturbado em que o coletivo tem tomado muito mais as formas ‘eu’ e ‘meu’, em que as almas têm se trancado em feudos, murados de egos, aflorados em ids, desequilibrados em superegos.
Momentos de um ‘venha a nós, deixando ao vosso reino absolutamente nada’.
Ímpar em sua singularidade, o “eu maior” rege esse império, mesmo que esta monarquia seja protegida por exércitos brancaleônicos fardados em utopias e quimeras.
As chamas das fogueiras da vaidade, mais que nunca, são lume do egoísmo, atiçadas pelo mal querer, pelo mal poder e, principalmente, pela má vontade. A soberba toma formas inusitadas, encimadas pela falta de humanidade.
“…El amor es torbellino de pureza original…/…El amor con sus esmeros al viejo lo vuelve niño / Y al malo sólo el cariño lo vuelve puro y sincero…” é a mais pura tradução da alquimia do amor nos versos de Violeta Parra.
A vaidade vem tentando fincar raízes, mas o terreno é pantanoso, instável e perigoso; porque “…O homem que diz sou / Não é!/Porque quem é mesmo é / Não sou! / O homem que diz: Tô / Não tá! / Porque ninguém tá / Quando quer…”. Saravá Baden! Saravá Vininha! Saravá Ossanha!
Os tentáculos ardilosos da veleidade fazem imergir ufanismos perversos capazes de afastar, sobremaneira, o que há de melhor em cada um. Aforismos. O amor deve ser pago com amor? Gentileza gera gentileza?
Nome-do-pai…? Adágios de realidade em sociedade. Mero apotegma existencial.
Dias difíceis em que a solicitude e prestatividade ficaram em baixa. O “novo normal” suscitou sentimentos divergentes, pintou cenários plúmbeos, deixou a psique à deriva. Generosidade não é mais a palavra de ordem… Talvez Freud explique, ou não…
A velha esperança de tudo se ajeitar deve brotar no amor sublime e na partição do pão nosso de cada dia.
Por mais tapumes Lerfá-Mu em chão de giz! Por mais ‘Gentilezas’, por mais rosas vermelhas do bem querer, por mais loucos de amor e malucos-beleza. Que brotem sementes, frutificando todo sentimento nas metáforas mais sutis e belas, delicadas e diferentes.
Deixa fluir o amor!
Leia também: Mobilidade inclusiva
***
Por Carlos Monteiro em artigo do Pro Coletivo, parceiro de conteúdo do São Paulo São.