Hiperrealismo em São Paulo; a australiana Piccinini e suas criaturas modificadas

Patrícia Piccinini é uma artista australiana hiperrealista e chegou em São Paulo com ComCiência, sua exposição individual que alterna o fofo e o estranho.

O tema é simples: criaturas imaginárias que poderiam passar a existir devido as alterações genéticas que a modernidade tanto gosta de espalhar com suas guerras recheadas por armamentos químicos e nucleares, assim como com a indústria e seus alimentos geneticamente alterados. A exposição fica aberta ao público até o dia 4 de janeiro, no Centro Cultural Banco do Brasil.

Já são vinte anos de trabalho, primeiramente impulsionado pelas promessas e decepções das pequisas médicas e da tecnologia, agora também pautado no medo do anormal num mundo em que tudo pode ser curado – uma preocupação quase coincidente com a do filósofo francês Georges Canguilhem, que dedicou parte de sua obra no estudo do normal e do anormal, junto com suas determinações sociais.

As obras da artista plástica apelam para o lado fofo e acolhedor das estranhas criaturas. Assim como os bichos diferentes já vistos na televisão (como Alf, ET ou o Yoda) não há muito o que temer no território dedicado à exposição individual de Piccinini, que usa fibra de vidro e silicone para aumentar a sensação de realidade em suas criações. “Eu amo a combinação de surpresa e encanto. Isso faz com que eu me sinta otimista sobre as pessoas e o mundo”, diz Piccinini.

É recorrente dentre as iniciativas do CCBB trazer artistas com potencial de público, como em Picasso e a Modernidade Espanhola, em que organizou obras do mestre cubista, Dalí, Miró entre outros, e ficou aberta até junho deste ano. Desta vez, a intenção é fazer como a Pinacoteca, palco das experimentações de Ron Mueck, outro hiperrealista australiano de reconhecimento mundial.

Segundo Marcello Dantas, curador do ComCiência, “Patrícia aponta para um futuro não muito distante no qual teremos o poder de criar novos seres. Ela não oferece uma resposta ou uma moral, mas questiona até onde vamos”.

Patrícia inclusive considera que suas criaturas fazem parte do destino imediato da humanidade, “vai se tornar uma realidade, quer eu goste ou não. Não exatamente o que eu imagino, claro, mas na China você já pode comprar como animal de estimação uma “miniatura” fofa de porco geneticamente modificada. Essas coisas já estão acontecendo, é só uma questão de o quê e quando”, diz a artista.

“Comforter” (2010), de Patricia Piccinini. Divulgação: ComCiência.

***

Confira a entrevista da artista ao Guia da Folha:

Guia – O que te levou a criar este universo? 
Patricia Piccinini – Trabalho com essas ideias há 20 anos. Primeiro me interessei pelas promessas e decepções de pesquisas médicas e da tecnologia. Como artista, temo pelo destino do estranho e do diferente num mundo onde podemos “curar” tudo.

Suas figuras são uma forma de investigar o humano?
Com certeza. Uma coisa que é muito claro na pesquisa genética é que todo organismo da Terra está mais estreitamente relacionado do que imaginamos. Eu não acredito na ideia de que os seres humanos são fundamentalmente diferentes dos outros animais.

Acredita que as esculturas são uma forma do ser humano repensar seus preconceitos? 
Sim. De alguma forma, vejo minhas criaturas como um símbolo das diferenças que encontramos enquanto pessoas na sociedade. Muitas vezes nós construímos outros seres humanos como “alienígenas” para justificar nossa xenofobia ou discriminação. Espero que o público se veja na estranheza de minhas criaturas, ou comece a ter simpatia por elas.

Você se lembra de alguma história de alguém que tenha visto suas exposições? 
O que eu geralmente ouço é das pessoas que inicialmente estavam muito perturbadas ou desconfortáveis com as esculturas, mas aprenderam a amá-las. Eu amo a combinação de surpresa e encanto. Isso faz com que eu me sinta otimista sobre as pessoas e o mundo.

Gostaria que esse mundo criado por você se tornasse real? 
Vai se tornar uma realidade, quer eu goste ou não. Não exatamente o que eu imagino, claro, mas na China você já pode comprar como animal de estimação uma “miniatura” fofa de porco geneticamente modificada. Essas coisas já estão acontecendo, é só uma questão de o quê e quando.

Serviço
CCBB – Rua Álvares Penteado, 112, região central.
Segunda e quarta a domingo: 9h às 21h.
Até 4/1/2016. Livre.
Na Rua Sto. Amaro, 272 c/ serviço de van grátis até o CCBB.
Grátis.

****
Com informações Obvious e Guia da Folha de S.Paulo.

 

Tags

Compartilhe:

Share on facebook
Share on twitter
Share on pinterest
Share on linkedin
Share on email
No data was found

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Categorias

Cadastre-se e receba nossa newsletter com notícias sobre o mundo das cidades e as cidades do mundo.

O São Paulo São é uma plataforma multimídia dedicada a promover a conexão dos moradores de São Paulo com a cidade, e estimular o envolvimento e a ação dos cidadãos com as questões urbanas que impactam o dia a dia de todos.