Intervenções humanizam as cidades

Com 70 mil carros circulando diariamente em seus 2,7 km, o Minhocão tem impacto sobre 232 mil pessoas dos subdistritos Consolação, Santa Cecília, Perdizes e Barra Funda. Poluição dos veículos e sonora são as principais queixas de quem mora no entorno, alguns com janelas a apenas cinco metros de distância da via.

Foram necessárias diversas intervenções artísticas no local para que a sociedade paulistana percebesse que o volume de concreto cinza, sem vida, poderia ser transformado em um espaço de lazer e de convivência. No lugar de carros, circulariam pessoas, bicicletas e skates. “Sentia a necessidade de criar um lugar mais agradável e poético no meu entorno. Com apartamentos pequenos de 40 m2, a cidade se torna uma extensão da nossa casa”, afirma Felipe, hoje diretor da Associação Amigos Parque do Minhocão.

Com proposta audaciosa de fechar definitivamente as ruas do elevado para os carros e, no lugar, criar um parque linear, a associação tem conseguido resultados. Ainda que não seja um consenso entre os moradores, desde 2015 o Minhocão fecha para veículos em dias de semana das 21h30 às 6h30 e das 15h00 do sábado até às 6h30 da segunda-feira.

Nos últimos anos, questionamentos sobre o atual modelo de desenvolvimento econômico refletiram na forma de pensar as cidades. “Tempo perdido no trânsito, atrasos e estresse têm um custo alto para a sociedade”, diz José Bueno, arquiteto e urbanista, idealizador do movimento Rios e Ruas. Desde 2010, a organização trabalha para inspirar ações para tornar conhecidos os rios de São Paulo para, mais tarde, “desenterrá-los”. “Os rios poderiam ser utilizados para turismo, transporte e fomento cultural”, afirma. Enquanto isso não acontece, milhares de paulistanos passam pela experiência de fazer os percursos sobre os rios enterrados. “As pessoas interagem com quem está na rua e percebem um mundo que não existe de dentro do carro.”

Atividades de artistas de rua, blocos de Carnaval, jardim vertical, praças com wi-fi e iluminação pública são demandas frequentes nas secretarias – são tantas que o governo estuda a criação de um novo departamento para lidar com as questões. “Passou a época em que governar era abrir estradas”, diz Fernando de Mello Franco, secretário de desenvolvimento urbano de São Paulo. “Enquanto a construção de um túnel pode custar centenas de milhões de reais, para fechar a avenida Paulista preciso apenas de meia dúzia de funcionários.”

Intervenções mais pontuais que apostam nas parcerias público-privado-população também são uma nova tendência. “A sociedade não pode esperar tudo do poder público”, diz Renata Minerbo, arquiteta da empresa social Acupuntura Urbana. A organização realiza ações em diferentes escalas, em ambientes urbanos e rurais, sob demanda de uma empresa com ajuda da população.

Por outro lado, o paulistano ainda se queixa da cidade. É o que mostra a pesquisa Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município (Irbem) sobre a satisfação com a qualidade de vida em São Paulo, realizada pela Rede Nossa São Paulo em parceria com Ibope. Segundo a Irbem 2016, 36% dos entrevistados acreditam que a vida na cidade piorou em relação aos últimos anos, enquanto 30% responderam que se tivessem oportunidade, morariam em outra cidade.

“O problema de São Paulo é a desigualdade. Os serviços continuam concentrados em alguns bairros, enquanto outros ficam sem nada”, diz Oded Grajew, coordenador geral da Rede Nossa São Paulo e do Programa Cidades Sustentáveis. “São Paulo não pode ser governada de forma centralizada.” Segundo Oded, o ideal seria que houvesse 12m2 de área verde para cada habitante. Alguns distritos de São Paulo não dispõe nem de 1m2 por pessoa.

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Gisele Paulino para o Valor Econômico.

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