Mercado do disco se reinventa para atrair cliente ‘comum’

Longe dos tradicionais sebos de discos de vinil escondidos entre as galerias do centro de São Paulo, o empresário Paulo Sakae Tahira pede para abaixar o som ambiente da Patuá Discos para conversar com a reportagem. No estoque, clássicos como Beatles se encontram com o trabalho de de bandas contemporâneas como a paulistana Bixiga 70. Sakae, na verdade, integra uma cena cada vez mais crescente de empreendedores que veem na popularização do vinil um meio criativo para faturar com música.

A ideia é inovar nos produtos, no público e no atendimento. Na Patuá, por exemplo, três dos quatro vendedores falam inglês, outros dois dominam também o espanhol e um terceiro chega até o francês. Entre os sócios, estão três DJs e até mesmo uma consultora de startups.

Com investimento inicial de R$ 100 mil para abrir a loja na Vila Madalena, em São Paulo, há dois anos, e faturamento médio mensal de R$ 20 mil, o empresário acredita estar apenas no começo das possibilidades do seu negócio e, por isso, ele pretende fechar o ano com crescimento de 30%.

Paulo Sakae Tahira, proprietário da loja Patuá Discos. Foto: Vivian Codogno.

“Nosso conceito é inspirado nas lojas europeias, que criam toda uma cena em volta do negócio. Promovemos eventos com artistas que sejam ‘lincados’, lançamos discos, trazemos DJs de fora. É o conceito de instore, que transforma a loja em um espaço de permanência”, explica Sakae. “Trouxemos a expertise das startups, o business do vinil, a clareza sobre ritmo de investimento e o capital de giro (necessário)”, conta.

Lojas como a Patuá têm surgido pela cidade. Com foco que vai além dos colecionadores, esse mercado cresceu pelo quinto ano consecutivo na América Latina em 2015, região que mais amplia o consumo de vinis no mundo, com 11,8% de aumento em relação ao ano anterior. De acordo com o levantamento Global Music Report 2016, o Brasil é o segundo maior mercado latino de discos de vinis, atrás apenas da Argentina.

Conforme analisa o diretor da Faculdade de Administração e do Programa Gestão do Luxo da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), Silvio Passarelli, empreender no mercado de discos de vinil pode ser uma estratégia certeira, desde que a proposta seja tratada sob o prisma do mercado de nicho. “Hoje, o vinil é o comportamento desviante enquanto mídia para consumo de música”, comenta. “Esse é, sem dúvida, um mercado para jovens empreendedores”, pontua.

De jovem para jovem, a chef de cozinha Thalita Barros, de 37 anos, quis aproximar o cliente do balcão de um restaurante e diminuir a distância entre o comprador do disco e a vitrola. Assim ela viabilizou, há dois anos, a loja Conceição Discos. Localizada no bairro de Santa Cecília, também distante do circuito tradicional do vinil paulistano, a empreendedora fatura em média R$ 80 mil por mês com um misto de bar, restaurante e loja de discos. Cerca de 40% da receita vem dos vinis.

“Sou colecionadora de vinis há 20 anos e notei que negócios novos estavam surgindo, mas ainda com cara de loja. No meu espaço, quis que o cliente pudesse ouvir seu disco novo acompanhado de uma comida fresca”, conta Thalita, que disponibilizou o seu próprio acervo de 600 vinis para começar. A coleção foi liquidada em oito meses e hoje a empresária alimenta seu portfólio edições importadas e discos provenientes de outros colecionadores.

Formato

A perspectiva jovem motivou o também DJ Bruno Borges a investir na Casa Brasilis, loja de vinis novos e usados que oferece, além do produto musical, cursos para DJs e encontros musicais. Para além do produto, Borges produz, desde o fim de 2014, o disco de vinil quadrado, uma subversão ao formato tradicional. “É um jeito mais legal, né? É arte! Além de arte, é um quadro que toca”, define o empresário. A ideia é que o produto seja visto como um presente para datas comemorativas.

O disco quadrado é confeccionado com policarbonato, plástico usado na construção civil e que custa bem menos que o polivinil carbonato, material dos vinis convencionais. Com impressão quase artesanal, o vinil quadrado comporta no máximo três músicas de um lado, menos do que um antigo compacto.

“A ideia da Casa sempre foi quebrar a mística de que o vinil é caro e raro. Eu quero vender lançamentos para o consumidor comum a R$ 15, R$ 20. E isso virou um movimento na cidade”, conta Borges, que vende uma média de 300 discos por mês, com preços que chegam a R$ 230.

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Vivian Codogno no Caderno PME do Estadão.

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