Lucro ‘natureba’: Brasil já é o 5º maior mercado de alimentação saudável

A velocidade de crescimento do segmento impressiona: de 20%, em média, desde 2012 contra 8% no resto do mundo.

É de olho nesse potencial que diversas companhias surgem no mercado. As novidades vão desde uma empresa criada para reformular as lanchonetes das escolas até fundos de investimento que apostam na importação de purê de frutas embalados em sachês. Muitos negócios começaram de maneira despretensiosa. É o caso da Lanche&CO, que se propõe a reformular as cantinas escolares retirando salgadinhos e refrigerantes do cardápio para dar lugar a opções frescas e naturais. A especialista em alimentação natural e fundadora da empresa, Lara Folster, viu o que era só cuidado com o filho virar a fonte de renda da família.

— Era difícil enviar sanduichinho de pão caseiro na lancheira do meu filho enquanto os amigos comiam os industrializados. Aí propus ao colégio fazer o lanche para toda a escola — contou Lara, que iniciou seu negócio no Colégio Wellington que fica no bairro de classe média baixa da Freguesia do Ó.

De marmita fresca a papinha gourmet 

A Lanche&CO já está hoje em três escolas de São Paulo, uma no Rio e outra em Santos. Quando é contratada por uma escola, uma das metas da empresa é oferecer opções saudáveis sem elevar o gasto mensal dos pais com o lanche.

Mas o potencial de retorno econômico de ideias como essa é tão atrativo que o fundo de investimento Joá e a Play Capital lançaram em novembro a PIC-ME, que vende purês de frutas embalados em sachês sem açúcar ou conservantes. A previsão é estar em 95% do território nacional em 2017.

— Nossa expectativa é ter faturamento de R$ 9 milhões neste ano. Para 2017, queremos mais que dobrar o resultado — disse Thiago Burgers, diretor executivo da PIC-ME, que é vendida em São Paulo, Rio, Ceará e na Região Sul.

A projeção de crescimento de dois dígitos é a característica em comum entre os negócios ligados a versões mais saudáveis de alimentação. Estudo da consultoria internacional Mintel comprova que a crise passa longe deste setor: quatro em cada cinco (ou 83%) brasileiros estão dispostos a gastar mais para obter um alimento saudável. O material, obtido com exclusividade pelo GLOBO, aponta ainda que 30% dos consumidores querem maior variedade de itens desta categoria disponíveis no varejo.

— Apesar do cenário econômico pouco favorável, a preocupação com o corpo e com o estilo de vida pode impulsionar o crescimento do mercado de alimentos saudáveis — explicou Naira Sato, especialista da Mintel.

Não à toa a Verde Campo, especializada em produtos lácteos saudáveis, como os sem lactose, quintuplicou sua oferta de 2012 para cá. A empresa transforma diariamente 130 mil litros de leite em 70 itens diferentes. Álvaro Gazolla, diretor comercial da empresa mineira, diz que, desde 2012, a empresa tem tido crescimento acelerado. No ano passado, a Coca-Cola anunciou a aquisição da empresa, por meio da Leão Alimentos, numa operação que está próxima da conclusão. Em 2012 e 2013, o faturamento da Verde Campo cresceu 75% ao ano. Em 2014 e 2015, a expansão foi de 45%.

— Quando começamos, a aceitação dos produtos saudáveis era muito melhor em cidades litorâneas, que sempre tiveram mais preocupação com o corpo até por estética. Mais recentemente o interesse cresceu e já está em todo o país. Há uma preocupação com a saúde muito mais latente — disse ele, frisando que o foco da empresa é desenvolver produtos com baixo teor de gordura, açúcar e sódio.

Uma das mais antigas neste segmento é a Mãe Terra, fundada em 1979. Para 2016, Alexandre Borges, sócio e diretor-presidente da Mãe Terra, prevê alta de vendas entre 20% e 30%. Para sustentar a perspectiva de crescimento acelerado, a marca tem feito parcerias, como a mais recente com a apresentadora Bela Gil e com a companhia aérea Gol com snacks integrais nos voos.

— Nossa missão é democratizar o consumo de produtos naturais e orgânicos no Brasil. Ter preço acessível é fundamental desde que nossos princípios e a qualidade sejam mantidos — disse Borges.

Já o produto criado por Paula Franco, que fundou a Miss Croc há dois anos e meio e pode ser usado como substituto de salgadinho, como crocante de salada ou para incrementar pratos, é vendido por R$ 26 um pote de 140g:

— Neste ano, dobramos nossa capacidade produtiva porque a demanda é realmente muito forte.

Alimentos frescos, preparados com pouco sal e pouca gordura, feitos na hora também integram a categoria. Foi com esse pensamento que a publicitária Cacau Melo decidiu abandonar a carreira para abrir a All Light, que faz marmitas com toque gourmet. O menu completo, desde o café da manhã até o jantar, é vendido por R$ 71 por dia.

As marmitas frescas (feitas pela manhã) estão só em São Paulo. De olho na demanda nacional, Cacau elaborou versões congeladas:

— Hoje entrego 150 kits de menu completo em São Paulo e produzo dez mil congelados por mês. Quando comecei tinha só dez clientes.

Estudo da consultoria Nielsen em parceria com a Equilibrium corrobora o entusiasmo dos empresários: 44% dos consumidores dão preferência a produtos sem corantes artificiais e 42% optam por itens sem sabores artificiais. Entre as novas mães, a moda é oferecer papinhas orgânicas ao rebentos. As opções estão em quiosques nos shoppings, lojas on-line e físicas. Nos menus, ao invés das tradicionais sopinhas, estão ragú de carne e escondidinho. A Papa Baba é uma das últimas a entrar no mercado. Os preços vão de R$ 9 a R$ 15, bem mais alto que as tradicionais papinhas da Nestlé (R$ 4,50 em média).

A DoPomar chegou ao mercado em 2012 com a Petit Fruit, linha de purês de fruta sem conservantes. Nos últimos dois anos, viu as vendas saltarem de 200 mil para 1,25 milhão de unidades por ano. Está em varejistas de peso, como Pão de Açúcar e Walmart, além dos focados em alimentos saudáveis, como Mundo Verde e Via Verde. Este ano, deu início a uma expansão de portfólio. Em março, lançou a LaSoupe, linha de sopas em creme, e a Alfa, fruta em barra. Os purês e as sopas, por enquanto, vêm da França. Com os novos produtos, dobrou a equipe para 50 funcionários e prevê duplicar o faturamento para R$ 6 milhões:

— A partir do ano que vem, vamos fabricar os purês no Brasil. A quantidade de açúcar vai cair de 3% para zero. Sem importação, o preço para o consumidor final vai recuar em 15% e poderemos exportar — explica o sócio Raphaël Feuilloy.

***

Por Roberta Scrivano em O Globo. Colaborou Glauce Cavalcanti.

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