Mapa mostra que 30% da área de São Paulo é de Mata Atlântica

 

O novo  mapa, publicado no Diário Oficial da cidade, é o primeiro passo para a consolidação do Plano Municipal da Mata Atlântica e vai ajudar na definição de áreas prioritárias e estratégicas para conservação e recuperação. É uma exigência do Plano Diretor e atende à lei federal da Mata Atlântica. A expectativa é que esse plano de ação esteja definido até novembro deste ano e pode levar à definição de novas unidades de conservação, criação de parques e projetos para criar conectividade entre as áreas, visto que os trechos urbanos estão, em geral, isolados.

“Com esse levantamento em mãos agora temos de fazer com que ele converse com outros planos do município, como o de habitação, que também está sendo lançado hoje. Tem de casar com desenvolvimento urbano, com saneamento, com tratamento de resíduos. Está tudo interligado. Mas é esse mapa que vai dar o norte para podermos aliar tudo isso com a preservação”, disse ao Estado o secretário do Verde, Rodrigo Ravena.

Ele afirma que se surpreendeu que os remanescentes respondam por 30% da área de São Paulo. “Todo mundo achava que seria menos. Mas em geral a gente pensa só em mata tradicional e o trabalho contabilizou outras fisionomias de Mata Atlântica.” Ravena se refere aos campos de várzea, gerais e alto montanos, que se caracterizam por uma cobertura mais herbácea em vez de arbórea, mas que também são importantes para a conservação. “Aumenta a área que tem de ser tratada como Mata Atlântica”, diz.

O trabalho levantou a existência de 4.496 polígonos – o menor deles com apenas 85 metros quadrados – que somados têm uma área de 45.906,64 hectares. A maioria é bem pequena: 23,44% dos polígonos (1054) tem até 0,5 hectare; 18,91% (850) têm entre 0,5 e 1 hectare e 19,04% (856) medem de 1 a 2 hectares. Somente 36 deles têm mais de 100 hectares e apenas dois medem mais de mil hectares – ambos estão localizados na APA Capivari-Monos.

 

É a primeira vez que fragmentos tão pequenos são contabilizados. Levantamento recente feito pela ONG SOS Mata Atlântica com imagens de satélite só tinha conseguido ver fragmentos com mais de 1 hectare, representando uma área de 25.797 hectares.

“São Paulo está em uma situação caótica de crescimento. O mapa vem para dar diretrizes de como crescer respeitando esses territórios. Ele vai ajudar a planejar onde pode crescer e onde tem de proteger”, comenta Márcia Hirota, diretora executiva da SOS Mata Atlântica. “É também um marco legal que vai servir para orientar os futuros prefeitos. Todos os candidatos têm de fazer seus planejamentos considerando esse mapeamento. É o que vai garantir que a população tenha água, mais áreas verdes, mais qualidade de vida”, diz.

Ela afirma que mesmo áreas tão pequenas como algumas das contabilizadas pelo trabalho são importantes para a conservação e para o bem-estar da população. “Uma área com árvores é muito mais agradável, confortável, que uma área árida, sem verde.”

Pressão. O trabalho não mostra ainda qual é a condição desses fragmentos, se estão sob pressão ou degradados. É o que deve mostrar a próxima etapa do trabalho. “Vamos olhar o fragmento e também o que está no entorno dele para definir ações”, explica o biólogo Ricardo Garcia, um dos responsáveis pelo levantamento.

Algumas pressões, no entanto, já são bem conhecidas. Os remanescentes da região Sul de São Paulo, por exemplo, os maiores da cidade, há anos vêm sofrendo com invasões por moradia, como mostrou no ano passado reportagem do Estado na APA do Bororé. O secretário Ravena reconheceu que este ainda é um problema e disse que a secretaria vem desmontando novas invasões. “Tem muito problema fundiário, muita área privada. As negociações (para a conservação) vão ter de passar pelo cidadão”, disse.

Dependendo da situação de cada área será definido um tipo de ação. “Pode virar uma nova unidade de conservação, ou um parque urbano. Áreas privadas podem ganhar incentivos como pagamentos por serviços ambientais”, explica Anita Correia de Souza Martins, coordenadora do Plano Nacional da Mata Atlântica.

Ela afirma que o diagnóstico também pode levar a uma revisão da legislação que permite a supressão de vegetação no município para impedir o corte das áreas definidas como prioritárias. E ainda orientar o plantio em locais que hoje se vê que não têm vegetação nenhuma. “Precisamos pensar uma estratégia de conexão, porque o isolamento dos remanescentes é gigantesco, seja com a arborização ou plantio de novas praças”, afirma Anita.

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Giovana Girardi no blog Ambiente-se do Estadão.

 

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