Mirantes revitalizados da região da Paulista ganharão espaço cultural e bicicletário

No próximo dia 23, a Prefeitura de São Paulo vai inaugurar dois mirantes na região da avenida Paulista, centro da capital. O evento ocorre no mesmo domingo em que a avenida será fechada para os carros pela segunda vez –a primeira ocorreu no dia 28 de junho, durante inauguração de uma ciclovia na região. Os mirantes foram cedidos a empresários para obras de revitalização. Um deles, que fica em uma rua atrás do Masp, terá vista para a avenida Nove de Julho.

Em cada ponta do mirante será instalado um balcão de madeira. Em um deles vai funcionar um café. No outro, um restaurante. O empresário Facundo Guerra, dono do PanAm e do Riviera, é sócio do projeto ao lado do escritório MM18 Arquitetura, autor do plano.

Segundo a assessoria de Facundo, a data da inauguração, inicialmente prevista para o dia 16 de agosto, foi mudada para coincidir com o novo fechamento da Paulista. Por vários anos, esse espaço atrás do Masp serviu de dormitório para moradores de rua.

O outro mirante ficará na praça Marechal Cordeiro de Farias, conhecida como praça dos Arcos, também na região da Paulista. 

No local, haverá um bicicletário e um espaço de gastronomia. Segundo o prefeito Fernando Haddad (PT), a ideia foi inaugurar os espaços no mesmo dia em que a avenida Paulista será fechada aos veículos pela segunda vez. 

A gestão petista trata esse evento como um segundo e talvez último teste, antes do provável anúncio de fechamento da avenida todos os domingos para lazer. “Vai ser um momento de expansão do projeto que a gente chama de parque Paulista”, disse o prefeito, em entrevista à Folha. O fechamento da avenida vai ocorrer durante inauguração da ciclovia da av. Bernardino de Campos, que fará a ligação entre a Paulista e a rua Vergueiro, no Paraíso (zona sul).

 

Avenida e Túnel 9 de Julho. Arquivo / Folhapress.

O casarão Belvedere Trianon, local onde a elite se reunia para fazer eventos no começo do século 20, foi demolido para a construção do Masp, nos anos 1950. O espaço que restou —de mais de 400 m² sobre a avenida 9 de Julho e atrás do museu— está sendo recuperado para se tornar um novo ponto de encontro dos paulistanos. Concedido pela prefeitura a empresários para a revitalização, o local – cujo acesso é feito para quem vem da avenida Paulista pela rua Professor Otávio Mendes— está passando por uma grande reforma e vai se chamar Mirante 9 de Julho.

O empresário Facundo Guerra, dono do PanAm e do Riviera, é sócio ao lado do escritório MM18 Arquitetura, autor do projeto. A reforma, que prevê ainda a revitalização do entorno, se dará em três fases. A primeira vai recuperar a parte interna do mirante, de 230 m², a ser entregue em agosto.

Depois será a vez dos chafarizes da 9 de Julho. A última etapa é a construção de estrutura metálica com vidro em cima da laje do mirante, que funcionará como galeria. Só a primeira fase tem investimento dos sócios de R$ 840 mil, segundo o edital.

Dentro do salão do mirante serão instalados um balcão de madeira em cada ponta. Em um deles vai funcionar um café. No outro, um restaurante. Lira Yuri, que ao lado de Henrique Fogaça opera O Mercado – Feira Gastronômica, será a responsável por fazer um rodízio de chefs. “Vai ser uma cozinha volátil, com um chef por mês”, afirma Facundo Guerra.

Um espelho será colocado na ponta do café de modo a refletir as colunas originais, dando a sensação de infinito. O miolo do salão vai permitir tanto uma exposição quanto uma festa. Antes da construção da galeria sobre a laje, haverá exibições de filme em um telão instalado abaixo do viaduto Professor Bernardino Tranchesi. A escadaria de acesso à laje vai funcionar como plateia.

A ideia de transformar um espaço esquecido pelos paulistanos em um centro cultural começou há dois anos.

“O local estava pintado de azul, vermelho e amarelo, tinha tapumes e casinhas dentro. Quinze pessoas moravam lá”, conta o arquiteto Marcos Paulo Caldeira, da MM18.

Guerra explica que conheceu o mirante há dez anos. “É um espaço muito importante para a história da cidade e fica perto do maior cartão-postal. É como encontrar um lugar abandonado ao lado da torre Eiffel.”

Para a inauguração, ainda falta iluminação e mobiliário. O interior está sendo feito pelo diretor de arte Frank Dezeuxis. Ele explica que a concepção não vai interferir na história do local.

“Usamos materiais naturais, como madeira, ferro, concreto e vidro, para que nada chame mais a atenção do que o lugar”, explica Dezeuxis.

A curadoria do Mirante 9 de Julho ficará a cargo do produtor cultural Akin Bicudo, responsável, por exemplo, pelo coletivo Metanol FM. Ele conta que pretende “cruzar diferentes disciplinas” em um mesmo ambiente. “Juntar festa de rua com exposição e mostra de cinema.”

Ele diz que pretende abrir o local para novas ideias. “Podemos fazer uma feira gastronômica, mas diferente da tradicional”, diz Bicudo.

Como se trata de um espaço público, não será cobrado ingresso para entrar no local. Outras atividades, como workshops, podem ser cobradas. “A gente não quer colocar nenhum tipo de filtro que separe as pessoas.”

Para a revitalização dos chafarizes, que fica embaixo, na avenida 9 Julho, será recuperado o projeto original, sem o jardim, só com calçadão e iluminação de LED. Caldeira diz que pretende criar um espaço para food trucks, por exemplo, para atrair as pessoas até lá. Uma faixa de vegetação poderá ser colocada próxima ao meio-fio, para diminuir o barulho dos veículos.

As fontes na avenida foram reformadas em 2006, pelo então prefeito José Serra (PSDB). Menos de três meses depois, elas já estavam deterioradas. Hoje, não funcionam.

Parceria

Em agosto de 2014, a prefeitura fez um chamamento público procurando interessados em participar do Termo de Cooperação, com propostas de parceria, execução e implantação de projetos de revitalização no viaduto Professor Bernardino Tranchesi e no entorno. Como contrapartida, foram exigidas melhorias urbana, ambiental e paisagística. A cessão é de 36 meses.

A Subprefeitura da Sé ressalta que houve cinco interessados e, dentre esses, esta foi escolhida como a melhor proposta para a cidade.

“Quando estiver pronto, daremos para a cidade um novo cartão-postal”, afirma Alcides Amazonas, subprefeito da Sé. Ele diz ainda que está fazendo um levantamento para levar esta experiência a outros locais. Só na região central de São Paulo há 50 viadutos.

Amazonas disse à São Paulo que, “em momento de crise financeira”, está fazendo parcerias com empresas para parklets, cuidados de canteiros etc. “Conversei com o prefeito [Fernando Haddad, PT] no ano passado, pois precisamos ampliar as parcerias para o espaço embaixo dos viadutos. Via de regra, são mal utilizados.”

O arquiteto Marcos Paulo Caldeira e sua sócia, Mila Strauss, dizem que investem no projeto porque se interessam pela região central. “E para deixar uma marca nossa. Nosso escritório é aqui [Higienópolis] e moro na Paulista. A gente faz restauros há dez anos e quer devolver esse espaço para a cidade”, diz Mila.

História

Parte remanescente da primeira fase de ocupação residencial da avenida Paulista, o Belvedere Trianon era o local onde a elite fazia eventos. Quando projetou a avenida, inaugurada em 1891, o engenheiro Joaquim Eugênio de Lima reservou um espaço mais ou menos na metade da avenida para um belvedere (mirante, em italiano).

O local tinha vista para o centro da cidade e para o vale do riacho Saracura, “onde mais tarde seria riscada a avenida 9 de Julho”, segundo o historiador Roberto Pompeu de Toledo, no seu mais recente livro, “A Capital da Vertigem” (Objetiva, 584 pág.).

O arquiteto, historiador e professor da FAU-USP Benedito Lima de Toledo conta que, “quando o tempo estava bom”, ia lá ver a cidade. “O terraço em forma de semicírculo era muito acolhedor”, descreve.

Segundo levantamendo do DPH (Departamento do Patrimônio Histórico), o espaço começou a ser construído em 1912, a partir de projeto de Ramos de Azevedo, que também foi o responsável pela execução da obra.

A inauguração foi em 1916. Para a construção do Masp, ele foi demolido. “A condição era preservar a vista”, relembra Toledo.

Depois de ficar 20 anos no auge, nos anos 1930 o Belvedere começou a ser abandonado, ficando sem conservação e manutenção.

Tatiana Babadobulus e redação Folha de S.Paulo.

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