Mobilidade inclusiva

De acordo com o livro “Cidades de Pedestres”, com organização de Victor Andrade e Clarisse Cunha Linke, entre os temas emergentes do século XXI, um dos mais importantes e estratégicos para a promoção da qualidade de vida nas cidades é o pedestre. “O conceito de caminhabilidade – proveniente do inglês walkability – trata deste tema ao definir atributos, no ambiente construído, convidativos ao caminhar, tais como acessibilidade, conforto ambiental, atratividade de usos, permeabilidade do tecido urbano, entre outros. Essas características influenciam a predisposição das pessoas caminharem. E caminhar é a forma mais democrática de se locomover”, diz um trecho do livro, que tem versão online gratuita: http://itdpbrasil.org/wp-content/uploads/2018/12/Cidades-de-pedestres_FINAL_CCS.pdf

Precisamos, portanto, trazer à tona o debate sobre gênero, idade, cor e classe social associado à caminhabilidade, favorecendo as pessoas que se encontram em situações mais vulneráveis. Homens que habitam as regiões centrais (e que, em sua maioria, usam transporte motorizado individual), podem, por exemplo, ter uma percepção do espaço urbano bem diferente do que a de mulheres das periferias que são mães de filhos pequenos, e sofrem com calçadas esburacadas, transporte público deficiente e ruas desertas e mal iluminadas para caminhar. 

Jane Jacobs (de óculos) e manifestantes em protesto para salvar a Penn Station da demolição de 1963. Foto: Walter Daran / Hulton Archive / Getty Images.

A ativista social e escritora americana Jane Jacobs (1916-2006) foi uma voz que ecoou forte para o bem da política urbana e de cidades caminháveis e saudáveis. Segundo ela, os espaços públicos da cidade são reflexos das relações de poder, das diferenças sociais, das distinções nas formas de lazer e sociabilidade, entre outros aspectos fundamentais para uma análise de gênero.

No Brasil, são as mulheres que mais andam a pé e usam transporte coletivo, por isso é essencial políticas públicas que contemplem suas reais necessidades. Que vejam como elas andam (e até tropeçam), quanto tempo levam para se deslocar diariamente e percebam o medo que têm ao andar em ruas sem a menor segurança. 

Todos precisam se locomover, independentemente da idade, do gênero, da cor, da condição social e das limitações físicas. Foto: Mabel Amber.

O racismo sistêmico, em discussão no Brasil e em todo o mundo, também precisa ser combatido para vivermos e nos locomovermos de forma justa e democrática, caminhando com segurança, qualidade de vida e sustentabilidade, com foco no desenvolvimento urbano completo, levando serviços, empregos e equipamentos de educação, cultura e saúde para as periferias.

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Artigo assinado pelo Pro Coletivo, blog parceiro de conteúdo, especializado em assuntos da multimodalidade.

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