Moradores dos Jardins se unem pelo direito de ‘ir à padaria a pé’

Poderá um morador das imediações da avenida Europa, nos Jardins (zona oeste de SP), sair de casa a pé, andar alguns metros e encontrar um lugar para tomar café? 

Ou, em nome da tranquilidade de uma das áreas residenciais mais valorizadas da cidade, os cafés devem continuar restritos a poucas ruas e acessíveis quase sempre apenas por carro? 

O dilema, que envolve muitos interesses e poderá mudar a cara de regiões tradicionais da cidade, está latente nos Jardins. 

A proposta de revisão da lei de zoneamento em curso na Câmara prevê que vias como a avenida Europa e a rua Colômbia recebam estabelecimentos como restaurantes de até cem lugares e supermercados de médio porte. 

Atualmente, só há permissão para estabelecimentos como lojas e farmácias. 

A medida deixou contrariados moradores que temem perder a tranquilidade com a mudança. Em uma audiências organizada pelos vereadores, no dia 22 de junho, esse grupo subiu o tom. 

Houve bate-boca com o secretário Fernando de Mello Franco (Desenvolvimento Urbano). A posição da prefeitura é que não haverá mudança nas ruas internas dos Jardins. Mas a administração municipal não quer abri mão de liberar algumas modalidades de comércio em corredores como o da avenida Europa e da rua Colômbia. 

Contra os moradores que não querem comércio perto de casa, surge agora outro grupo, com posição contrária. 

O grupo tem como um dos líderes o empresário Abdul Fares, comerciante da avenida Europa e morador dos Jardins. “Nós queremos que a avenida Europa, a rua Colômbia e a Gabriel Monteiro da Silva possam ter cafés e restaurantes”, diz Fares. 

Em maio, ele foi expulso da Associação Ame Jardins, que é contra a ampliação do comércio nas região por temer que ele se transforme em uma “nova Vila Madalena”.

Procurada pela reportagem, a entidade não explicou a expulsão de Fares. 

O grupo do empresário coletou no início do ano 30 mil assinaturas de moradores, frequentadores, trabalhadores e proprietários de imóveis dos Jardins. 

O documento defende mais comércio em algumas vias na região, preservando o miolo residencial. 

“O que não queremos é viver em um gueto e de forma segregada. Tenho direito de ir a pé a uma padaria, um café ou a um restaurante. Que mal isso faz?”, diz Fares. 

“As pessoas que trabalham no comércio legal da Europa e da Gabriel também precisam ter onde fazer um lanche ou mesmo almoçar”, diz. 

A crítica de que a ampliação do comércio vai trazer insegurança para as áreas residenciais ou vai destruir o meio ambiente não procede, dizem os moradores. 

“Muitos dos imóveis, por causa da restrição de uso, estão vagos. Isso só aumenta a insegurança”, diz Gisele Rozenboim, que há mais de 50 anos mora na alameda Gabriel Monteiro da Silva. 

Sobre a cobertura vegetal, o grupo diz que mais de 90% das 75 praças da subprefeitura de Pinheiros são mantidas por comerciantes. 

Estudos técnicos feitos em regiões residenciais da cidade mostram que normalmente há mais árvores nas praças e calçadas do que dentro dos lotes residenciais.

Eduardo Geraque na Folha de S.Paulo

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