Morro do Querosene ocupa suas ruas com cultura e causas ambientais

Nem de James Brown, nem o funk ostentação. O último final de semana foi de FUMQ (Fonte de Arte no Morro do Querosene) nas ruas da Fonte e Padre Justino, na vila Pirajussara, travessa da altura do número 500 da Corifeu de Azevedo Marques, uma das principais avenidas do bairro do Butantã, zona Oeste paulistana. Foram três dias de festa, de sexta a domingo passado, da mais alta qualidade expressiva cultural de uma comunidade que levanta várias bandeiras de lutas sociais, culturais e ambientais há mais de 30 anos. Como a da conservação de uma área ao lado do Morro do Querosene, de 39 mil metros quadrados de Mata Atlântica e três nascentes, além da construção do Centro Cultural da Fonte do Peabiru.

Realizada pela Associação Cultural do Morro do Querosene (ACMQ), com apoio da comunidade e do PROAC-SP, a FAMQ teve danças, teatro, shows musicais, saraus de poesia, oficinas, intervenções e apresentações artísticas, atestando a intensa diversidade cultural de múltiplas nacionalidades, como a africana, e ao mesmo tempo com uma identidade própria do Morro do Querosene, formada por pessoas de vários cantos e culturas do país.

Um cortejo abriu a festa na sexta-feira, 28, e percorreu as ruas do Morro do Querosene pedindo licença, convidando e semeando clima de paz e alegria na vizinhança. Após, teve uma Roda de Conversa com o tema “ÁGUA & CULTURA”, formada por: Nabil Bonduki (secretário municipal de Cultura), o historiador Júlio Abe Wakahara, Laura Capriglione, do coletivo Jornalistas Livres, o etno-musicólogo Eric Galm, o pesquisador de culturas populares do Espaço Cachoeira, Paulo Dias, Luiz Campos e José Bueno, ambos do coletivo Rios & Ruas, Hamilton Faria, do Instituto Polis, Alessandro Azevedo, pelo Pontos de Cultura da Lei Cultura Viva e Adriano Sampaio, da Praça das Nascentes, entre outros.

Durante os três dias, passaram mais de 10 mil pessoas pela FAMQ, segundo estimativa da ACMQ. “Para nós, é um número bastante expressivo de pessoas sensibilizadas pelas causas do Morro do Querosene. Nossa cultura é forte, imponente, tradicional e única. Mas a degradação ambiental da última década nessa área é lastimável. Queimadas, espécies arbóreas envenenadas, a construção de um posto de gasolina que pode contaminar o aquífero, depósito de entulho e lixo, esgoto lançado a céu aberto, tudo isso acontece há anos por aqui e a nossa luta é diária e contínua”, diz Cecília Pellegrini, vice-presidente da ACMQ.

A vegetação exuberante ainda reside na memória dos moradores mais antigos que estão dispostos a resgatá-la juntamente com a comunidade mais recente. “A preservação e aproveitamento da área constitui excelente oportunidade para a melhoria da qualidade do ar, lazer, consolidação de projetos sócio culturais, ações para a capacitação e orientação profissional, orientação sobre saúde e prevenção de doenças, além da criação de Centro de Referência de Estudos do Peabiru,  espaço tão necessário para reuniões dos moradores e festas como esta e tantas outras que realizamos tradicionalmente aqui.”


Em 1998, ano de fundação da Associação Cultural do Morro do Querosene, foram catalogados 41 oficineiros que se dispuseram a dar “workshops” no bairro, oferecendo a oportunidade de participação de uma experiência comunitária educativa, legítima e de base. “Por mais de 20 anos, e ao longo de cada um deles
acontecem muitas festas no Morro do Querosene, como as do ‘Futebol da Libertação dos Escravos’, passeios ciclísticos, Festas Juninas, de ‘Cosme e Damião’, ‘Lavagem do Morro’ e a tradicional festa do ‘Bumba Meu Boi’.

A necessidade de uma sede é um projeto trabalhado há muitos anos pela comunidade, segundo Cecília, pois tal espaço é fator fundamental para o desenvolvimento de atividades socio-culturais e polo aglutinador que possibilitará trabalhos de orientação educacional e profissionalizante que atenda não somente ao bairro do Butantã, mas pessoas de toda a cidade.

Ela conta ainda que em 2012,  um inexplicável represamento da água fez submergir a fonte de uma das três nascentes, ameaçando a ruptura de um dos muros de pedra, deixando o local com aspecto de um pântano silencioso e triste. “Atualmente, duas das nascentes jorram cerca de 80 mil litros de água por dia diretamente para o esgoto. Não é um absurdo? Ainda mais com a crise hídrica. É um absurdo, mas nós não vamos desistir”, finaliza Cecília.

Texto e fotos: Viviane Ávila #saopaulosao #jornalistaslivres 

 

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