Mostra ‘Jamaica, Jamaica!’ retrata a evolução musical e política daquele país

Os visitantes da exposição têm contato com uma história repleta de luta, festas de rua e espiritualidade. Além é claro de abordar a vida e obra do músico mais conhecido do país: Bob Marley.

“A exposição tem curadoria de um museu francês mas tem obras e coisas que vieram de outros espaços, como Inglaterra, Estados Unidos, França e da própria Jamaica. Nós aqui recebemos grupos escolares, de diversas idades. E dependendo da formação de cada educador a gente pode falar tanto de contextualizações socioculturais até coisas conectadas mais a música, arte, todas voltadas a questão da Jamaica” disse Mona Perlingeiro, Supervisora do núcleo educativo do Sesc São Paulo.

Concebida pela Cité de la Musique – Philharmonie de Paris, a exposição ‘Jamaica, Jamaica!’ tem curadoria do diretor cinematográfico Sébastian Carayol, que compõe um mosaico com belíssimas fotografias, contemplando o panorama de importantes correntes musicais do século 19. Além disso, o público aprecia as capas de álbuns, materiais gráficos, documentos, instrumentos musicais originais, como a guitarra do cantor Peter Tosh, que tem formato de fuzil.

Times Store Callypsos, 10 inch silk screen. Foto: Divulgação.Na montagem brasileira há um desdobramento que explora, com exclusividade, a influência da Jamaica na cultura brasileira, principalmente nos estados do Maranhão, da Bahia e de São Paulo. Revelando a similaridade entre os dois países, ainda que a Jamaica seja entendida como uma nação que possui sua própria cultura de raiz. Dessa forma, o reggae chega com muita força e fica conhecido pelo mundo todo, fazendo uma conexão sociopolítica de época.

“No Brasil, bandas como Paralamas do Sucesso, nos anos 1980, e muitas bandas afrobrasileiras, foram influenciadas por bandas jamaicanas. Então você vê artistas como Gilberto Gil cantando versões do Bob Marley, em vários clássicos brasileiros, o Olodum, o samba-reggae que na Bahia é muito latente, tem o reggae mais atual, e também a música jamaicana evolui dentro do espaço brasileiro. No Maranhão, por exemplo, foi aberto recentemente o primeiro museu do reggae” diz a supervisora do Sesc.

Durante os anos 1950, quando a Jamaica ainda era uma colônia inglesa, os jovens se reuniam para compartilhar os poucos aparelhos de rádio que existiam na Ilha. Aos poucos essa movimentação foi ganhando corpo e dessas reuniões de grupos nasceram centenas de discotecas de rua.

Satan voicing in the back room at Sugar Minott’s S&M outlet. Foto: Beth Lesser.

Em 1962, o país se torna independente e o ritmo da vida social na cidade passa por uma transição e o otimismo se espalha por toda a ilha. Os aparelhos de som portáteis, chamados de sound system, percorrem as ruas junto às pessoas que curtem o som e a dança. E surge o ska que mistura ritmos locais tradicionais, como mento e calypso, jazz e rhythm and blues, e foi encabeçado por um grupo de garotos que saíram de um internato católico, que ficaram conhecidos como The Skatalites.

Na montagem várias figuras e movimentos que marcaram a história da Jamaica são lembrados, como Lee Perry que inovou com as técnicas de produção de dub; O filme The Harder They Come, em 1971, que introduziu o reggae à Europa,  protagonizado pelo ator  e cantor Jimmy Cliff; A figura do imperador da Etiópia, adorado no rastafári, movimento espiritual que transformou o reggae em uma potência da militância, mística e rebelde.

Pensando na história e riqueza da Jamaica a mostra não se limita ao sucesso de Bob Marley, embora haja o reconhecimento de que ele foi um grande ícone, chegando a vender 200 milhões de discos.

Yuyu Madoo, Skateland, 1987. Foto: Beth Lesser.

“A construção sobre o Bob Marley ela não é feita necessariamente pela riqueza cultural que você encontra na Jamaica. No entanto, a gente tende a conectar Bob Marley ao país de forma que ele é visto até maior que a própria ideia de Jamaica. Mas ele vem de um movimento em conjunto”, completa Mona Perlingeiro.

É certo que o ska, o dub, o reggae, a dancehall e diversas outras vertentes da música jamaicana tiveram um enorme poder de influência em cenas da música brasileira. E a explosão desses ritmos se dão ao tempo que surge a cultura de blocos afros, além do samba-reggae e axé music no Brasil.

“Eu não conheço muito da Jamaica, mas vi as cores que chamaram a minha atenção. Resolvi ver o que está rolando aqui e me deparei com muita informação, que a gente não tem pela falta de espaços como esse. Acho ruim é que está em um espaço centralizado, que as pessoas pretas da periferia basicamente não tem acesso. Seria legal se estivesse mais próximo da gente, nas quebradas mesmo. Mas já é um passo bem positivo” diz o visitante da exposição, Filipe Fontes, estudante de Teatro, pela SP Escola de Teatro.

Alpha Boys Band. Foto: Divulgação.Serviço

Exposição:”Jamaica, Jamaica!”
Curadoria de Sébastien Carayol e núcleo de conteúdos brasileiros formado por Caio Csermak, Camila Miranda, Dj Magrão, Lys Ventura, Rodrigo Brandão e Stranjah.
Datas e horários: até 26 de agosto de 2018.
De terça a sábado, das 9h às 21h; domingos e feriados, das 9h às 18h.
Local: Sesc 24 de Maio (Espaço Expositivo – 5º andar) | R. 24 de Maio, 109 – Centro, São Paulo.
Entrada gratuita.
Classificação indicativa: 12 anos.

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Por Letícia Fialho no Brasil de Fato.

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