Uma das áreas mais ricas da Riviera Francesa — com uma taxa de crimes próxima a zero — acaba de se tornar a primeira na França a instalar câmeras de vigilância “falantes”. A intenção é repreender qualquer um que seja flagrado cometendo atos de incivilidade. Ou seja, nada de estacionar mal, jogar lixo na rua ou deixar de recolher as fezes do cachorro.
Lar de diversos milionários, Mandelieu-la-Napoule, mais conhecida por suas praias e moradias isoladas, virou tema de debate entre defensores de liberdades civis por causa da introdução dessas câmeras, equipadas com alto-falante. O sistema permite que policiais deem broncas nos cidadãos a partir de um centro de controle.
Há anos, os franceses protestam contra a utilização generalizada de câmeras de segurança, que seriam uma intromissão indevida à privacidade. Segundo o jornal britânico Telegraph, as objeções diminuíram desde os ataques de Paris, em novembro do ano passado. Contudo, muitos veem o “bônus” de alto-falantes como um passo longe demais.
No jornal Le Parisien, a medida é descrita como o “Grande Irmão de Mandelieu”. A publicação sugere que a cidade tem questões mais urgentes para gastar seu dinheiro em vez de “uma voz dos céus para impedir que você saia da linha”.
O vice-prefeito, Sébastien Leroy, defende o contrário: as câmeras vão ajudar a economizar. Isso porque poupariam gastos com limpeza. Ainda assim, para Laurent Mucchielli, pesquisador da Universidade de Aix-Marseille, especializado em crimes, a ideia é impraticável. “É muito difícil de observar o que está acontecendo em tantas telas ao mesmo tempo.”
“É horrível. O governo e os políticos encontram muitas desculpas, como o terrorismo, para nos controlar. Nossas liberdades estão se tornando mais e mais reduzidas”, disse a moradora Maïwenn Lesage, de 22 anos, ao Telegraph.
Duas outras cidades francesas mostraram interesse em introduzir o sistema, e 20 áreas na Grã-Bretanha já o adotaram. Mas diferentemente das câmeras francesas, as britânicas também têm microfones para que os “infratores” possam se explicar.
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Fonte: Época Negócios On Line.