Nova York terá parque para absorver águas poluídas

Batizado apropriadamente de ‘Sponge Park’, ou Parque Esponja, o terreno de 195 m² será inaugurado na próxima primavera para interceptar milhares de litros de água da chuva, com poluentes como metais pesados e cocô de cachorro, antes que possam entrar no canal. A capacidade de absorção do parque vem das plantas que toleram ambientes inundados como carduáceas, ciperáceas e Rosa rugosa, bem como uma rede de leitos de areia e solo destinados a reter a água.

“Eu não queria chegar numa comunidade e dizer que eu estou colocando um pântano no quintal dela”, disse Susannah C. Drake, arquiteta e paisagista, fundadora do DLANDstudio, que projetou o Sponge Park. “Isso não decolaria. Mas todo mundo entende o que faz uma esponja, mesmo que não entenda o que é infraestrutura verde ou fitorremediação.”

O parque faz parte de uma iniciativa maior, em Nova York e outras áreas urbanas de todo o país, para evitar que a água da chuva contaminada corra diretamente para os rios ou sobrecarregue as estações de tratamento de esgoto. Em sistemas de esgoto combinado, como em Nova York, onde a mesma tubulação recebe o esgoto e as águas pluviais, até mesmo uma chuva moderada pode sobrecarregar as estações de tratamento, fazendo com que o esgoto não tratado transborde para os cursos d’água.

A questão se tornou urgente no poluído Canal Gowanus, que foi encampado pelo programa de emergências ambientais Superfund, do governo federal, em 2010. O canal de 1,9 km tem canos de descarga – pontos que desviam a mistura de esgoto e água pluvial para o canal a fim de não sobrecarregar a estação de tratamento local em tempo chuvoso – além de uma dúzia de ruas que terminam no Gowanus, onde a água da chuva cai como cascata no canal.

O Sponge Park é um projeto piloto de US$ 1,5 milhão (R$ 5,8 milhões), supervisionado pelo Departamento de Proteção Ambiental da prefeitura, que vai verificar se esses espaços podem efetivamente evitar que a poluição entre no canal.

Drake disse que uma análise feita por sua empresa mostrou que, na maioria das chuvas, o parque captaria toda a água que flui para a parte baixa da Second Street, que termina no canal. Durante as tempestades mais fortes, o parque conseguirá pelo menos limpar e filtrar a água antes que ela flua para o canal. A água da chuva em si é bastante limpa, mas vai carregando poluentes das ruas, incluindo lixo, fezes de cães e pássaros e contaminantes produzidos pelos carros, como líquido anticongelante, cádmio, zinco e óleo.

O Sponge Park tem “a quantidade certa de terra e matéria orgânica, porque queremos atingir o equilíbrio adequado entre a permeabilidade e a capacidade de retenção de água.”

Drake entrou com um pedido para patentear o projeto do parque, que possui leitos alternados de cascalho e plantas. E ela registrou o nome Sponge Park na esperança de que ele possa ser replicado em outros lugares.

Andrea Parker, diretora-executiva da Gowanus Canal Conservancy, disse que o Sponge Park é um componente fundamental da nova rede projetada pela prefeitura para absorver a água da chuva e melhorar a qualidade da água. “O Sponge Park será um espaço onde as pessoas poderão ver a infraestrutura verde em ação”, disse ela.

A cada ano, na cidade toda, cerca de 110 milhões de m³ de esgoto e águas pluviais poluídas são descarregados por centenas de canos nos canais da cidade quando as estações de esgoto ficam sobrecarregadas. Esses transbordamentos ocorrem até 75 vezes por ano, de acordo com o grupo ambiental Nature Resources Defense Council, e são o maior desafio à qualidade da água em Nova York, impedindo que rios e baías cumpram as normas federais para banho, pesca e habitat natural.

A agência ambiental da prefeitura está no meio de uma campanha de 20 anos e US$ 2,4 bilhões (R$ 9,3 bilhões), usando dinheiro público e privado, para proteger os cursos d’água locais com uma rede baseada na ecologia.

Além de usar a infraestrutura tradicional, chamada de infraestrutura cinza, com tanques e tubulações, o programa está implantando telhados verdes, jardins, solos especiais e superfícies porosas para capturar e reter o escoamento das águas pluviais –muitas vezes através do paisagismo, usando jardins nas calçadas e playgrounds.

É uma abordagem que está ganhando força em todos os Estados Unidos, onde 860 municípios têm sistemas de esgoto combinados, de acordo com Adrian Benepe, vice-presidente e diretor de desenvolvimento de parques para o Trust for Public Land, um grupo de conservação sem fins lucrativos.

Gowanus Canal Sponge Park – Brooklyn, Nova York. Foto: American Society of Landscape Architects.

Em Nova York, a organização supervisiona a construção de sete locais projetados para captar a água da chuva, dos 40 que estão planejados, e também vai desenvolver quase 40 parques na Filadélfia. O grupo também está envolvido em vários outros projetos de infraestrutura verde, de Los Angeles a Boston.

“A cidade de Nova York City está sendo um laboratório para a infraestrutura verde, e o Departamento de Proteção Ambiental da cidade tem sido muito criativo ao experimentar novas soluções”, disse Benepe.

Ele acrescentou que o Sponge Park pode ser um “modelo internacional”, especialmente porque a maioria das cidades europeias também têm sistemas de esgoto combinados.

Mas o Canal Gowanus, um via estreita e de água suja que sofreu com décadas de abuso industrial, tem outro conjunto de desafios. Ao longo de toda a extensão do canal, a Agência de Proteção Ambiental Federal descobriu contaminantes como pesticidas, metais e produtos químicos cancerígenos conhecidos como PCBs (bifenilas policloradas).

Em 2010, a Agência de Proteção Ambiental estimou que a limpeza, que ainda não começou, duraria de dez a 12 anos e custaria mais de US$ 500 milhões (R$ 1,9 bilhão).

Ainda assim, Drake disse que uma das metas do Sponge Park é evitar lançar mais poluição no canal enquanto várias outras agências começam a limpeza. O parque usará componentes modulares que podem ser montados rapidamente.

“Foram oito anos de planejamento e ficará pronto em oito semanas”, disse ela sobre o Sponge Park. “É como montar um Lego.”

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Lisa W. Foderaro no The New York Times.

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