A dura poesia das esquinas de São Paulo, imortalizada em 1978 nas palavras de Caetano Veloso, é o motor da arte de Ângela Leon na exposição ‘Guia Fantástico de São Paulo’, cujos desenhos originais podem ser vistos na galeria Guayasamín da Casa América de Madrid, até o dia 5 de novembro.
A designer madrilenha, que vive há mais de quatro anos na cidade brasileira, pensa em fazer uma segunda edição do projeto editorial que retrata a cidade misturando realidade e ficção. “O Guia nasceu através de crowdfunding e com a ajuda dos paulistas. Há um sentimento coletivo de apropriação dos espaços e um público que está interessado nisto agora “, disse Leon durante a abertura da exposição do Guia, como parte do programa ‘América nos Une’, na Casa América.
“Recomendado para todos que enxergam uma cidade, mas sonham com outra”, diz o texto de abertura da exposição. Na verdade, os desenhos de Leon constroem uma imagem diferente da maior metrópole da América do Sul, cuja figura é marcada pelo concreto usado para construir seus edifícios, ruas e avenidas. Em seu trabalho, a designer evoca o lado humano e cultural da cidade ao lembrar, por exemplo, os cinemas que funcionavam nas ruas do centro na década de oitenta, muitos dos quais, hoje, se tornaram igrejas evangélicas.
Com a ajuda do arquitecto Miguel Rodriguez , diretor do Basurama Brasil, e o apoio de outros coletivos culturais, o guia poderá saltar dos desenhos para a realidade, através de intervenções artísticas em conhecidos festivais paulistas como os do Baixo Centro e a Virada Cultural. Assim, em uma espécie de realidade mágica, os cidadãos poderão *pendurar balanços no viaduto Costa e Silva, mais conhecido como Minhocão, que também pode ser converter em uma piscina de 10 centímetros de profundidade com a ajuda do arquiteto e artista Luana Geiger, – mesmo que por apenas por 24 horas.
León destaca essa colaboração entre artistas como parte do processo de reconquista do espaço público e de dar valor ao cotidiano e às manifestações populares da cidade. Em um dos desenhos se vê uma típica feira de rua de São Paulo, com suas frutas e verduras empilhadas. Essa imagen, que marcou León e Rodríguez, deu início ao projeto Caixa de Som, do coletivo Basurama. Registrado em vídeo e em cartaz na exposição, trata-se de um instrumento que permite que “crianças de 0 a 99 anos” misturem os gritos dos vendedores das feiras, com ritmos populares, como o funk carioca por exemplo.
“São Paulo é uma cidade que tem uma imagem ruim de congestionamentos, poluição… Este trabalho mostra uma visão otimista e quase de um sonho de cidade, não a metrópole que esmaga”, disse a conselheira cultural do evento da Embaixada do Brasil em Madrid, Rita Berede Curtis. Como mostra um outro vídeo da exposição, que regista uma intervenção feita no Viaduto do Chá: “A cidade é para brincar.”
*Balanços já foram pendurados no Viaduto do Chá, no centro da Capital – foto acima.
Natasha Rodrigues da Silva no El País. Tradução da Redação / São Paulo São.