Plataformas de financiamento coletivo arrecadam mais

 
Sites de financiamento coletivo (crowdfunding) estão crescendo em apoio e diminuindo em quantidade no Brasil.

 
Passados cerca de cinco anos desde que se tornaram novidade no País, as plataformas, hoje mais maduras, contabilizam um número crescente de usuários e projetos, quadro que se deve a uma maior confiança sobre esse tipo de negócio e a uma onda de novos empreendedores que buscam nesse modelo uma forma de testar suas ideias sem esvaziar o bolso. 
 
O crowdfunding funciona assim: um idealizador coloca seu projeto em um site de financiamento coletivo e estipula quanto dinheiro precisará para torná-lo realidade. 
 
Ele então oferece recompensas diferentes por faixa de valor aplicado por apoiadores. Se o valor for alcançado até um prazo estipulado, o idealizador recebe o montante. Algumas plataformas, mais flexíveis, admitem o recebimento mesmo sem ter-se alcançado a meta. 
 
Levantamento feito pelo Estado mostra que de 76 plataformas de crowdfunding criadas no País, apenas 31 permanecem ativas com projetos ou campanhas lançadas há pelo menos três meses. 
 
Dentre as sobreviventes, está a Kickante, um dos sites de apoio coletivo a projetos que registram crescimento relevante neste ano. “De outubro de 2013 até o final do ano passado tínhamos 1 mil campanhas e R$ 4 milhões em arrecadação. Somente em 2015, foram 8 mil projetos lançados e mais de R$ 10 milhões arrecadados”, afirma Tahiana D’Egmont, responsável pela Kickante. 
 
Para ela, o atual cenário econômico e o aumento de desemprego colaboraram indiretamente para a popularidade da plataforma. “A crise na economia é algo muito positivo para a gente. Crescemos muito neste momento”, conta Tahiana. 
 
Quem explica essa relação é o analista Claudio Soutto, da Deloitte, que aponta para o empreendedorismo como uma cultura crescente no País. “O modelo de emprego no Brasil e de profissão está mudando muito. Daqui alguns anos, a maioria dos empregos será de pequenas empresas que prestam serviço para outras organizações. O empreendedorismo hoje é muito mais acentuado do que anos atrás.” 
 
Para ele, esses novos pequenos empresários veem nos sites de financiamento coletivo uma forma de provar a demanda por seus produtos ou serviços, partindo de investimento e riscos muito baixos. 
 
“São plataformas democráticas, que permitem que qualquer pessoa, de qualquer classe, com uma boa ideia chame atenção de um público maior. É um prato cheio para o empreendedorismo”, acredita. 
 
Pesquisa realizada pelo Catarse embasa a relação entre crowdfunding e empreendedores. Segundo ela, 32% dos donos de projetos são donos de empresas. Uma das empresas que mais ajudaram na popularização do modelo de financiamento de projetos – sejam eles a gravação de um álbum musical, o desenvolvimento de um jogo ou o apoio a um projeto social – também relata uma explosão semelhante de seus índices. 
 
O Catarse, criado em 2011, contabilizou um crescimento de 23% no primeiro semestre deste ano na comparação ano a ano. “Nosso crescimento foi um ciclo: passamos confiança para quem tinha um projeto, ele passou confiança para quem queria apoiar e por aí vai”, conta Diego Reeberg, fundador do Catarse. ”Hoje, a maioria dos projetos que entram foram por recomendação de outras pessoas que usaram a plataforma.” 
 
As plataformas de nicho, que aceitam apenas projetos ligados a temas específicos, como livros, animais de estimação ou cervejas, também acompanham a alta. “Arrecadamos R$ 1,2 milhão apenas nesses primeiros seis meses. 
 
Na história da empresa, que criei em 2012, foram R$ 3,4 milhões”, conta Ariel Tomaspolski, cofundador da Juntos.com.vc, focada em projetos sociais. Segundo a dados da Massolution, empresa dos EUA que pesquisa e presta consultoria para o setor, a alta na arrecadação realizada pelo mercado de crowdfunding é observável em todo o mundo. 
 
Entre 2010 e 2014, o valor obtido com campanhas saltou de US$ 880 milhões para US$ 16,2 bilhões. A projeção para este ano mais do que dobra, podendo chegar a US$ 34,4 bilhões.

À brasileira 

 
Apesar da crescente popularização do crowdfunding, o brasileiro ainda tem receio de participar deste tipo de negócio. A falta de conhecimento sobre a ferramenta e o medo de realizar transações na internet são alguns dos motivos da falta de adesão, segundo Monica Penido, pesquisadora da área.
 
 “As pessoas tem medo de divulgar dados de cartão de crédito na internet, impossibilitando o apoio a projetos”, comenta. “O comportamento colaborativo parece ainda estar circunscrito ao círculo íntimo de cada apoiador de projetos.” 
 
Carlos Lima, fundador da Social Beers, site de financiamento coletivo focado em cervejas artesanais, ressalta que muitos ainda estão tentando entender a lógica desse sistema. “Recebo mensagens de gente que não entende a proposta e de outros felizes por terem entendido”, diz. 
 
“O crowdfunding, depois de todos esses anos, ainda é uma novidade.” Por aqui, a área de música é a que mais recebeu projetos até hoje (748), segundo levantamento do Catarse, seguida de cinema (698). 
 
O fato diferencia sites brasileiros dos americanos Kickstarter e IndieGoGo, que popularizaram o crowdfunding no mundo. 
 
Neles, projetos de inovação, anunciados por empreendedores ou grandes empresas são maioria. Mas a realidade no Brasil pode estar mudando. Um indício é o fato de o projeto com mais alto valor de apoio no Catarse ser inovador. 
 
Trata-se do Mola, um sistema de maquetes feito com molas e imãs, que arrecadou mais de R$ 600 mil. Luisa Rodrigues, fundadora do site Benfeitoria, diz que até incentiva o uso de crowdfunding como “ferramenta para prototipar e pré-testar uma ideia” mas “as pessoas e as empresas ainda olham com desconfiança para o modelo”. “Dessa forma, vemos que se tornou muito mais uma ferramenta de apoio a causas.” 
 
Apesar disso, o financiamento coletivo no País deve seguir crescendo, aposta Reeberg, do Catarse. “Os projetos não precisam de milhões de reais e milhares de pessoas. São comunidades, com 100 ou 200 pessoas, dispostas a financiar um projeto para tirar do papel. O crowdfunding preenche um papel que não tem ninguém para ocupar.”

Fonte: Redação Link.

 
 

Tags

Compartilhe:

Share on facebook
Share on twitter
Share on pinterest
Share on linkedin
Share on email
No data was found

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Categorias

Cadastre-se e receba nossa newsletter com notícias sobre o mundo das cidades e as cidades do mundo.

O São Paulo São é uma plataforma multimídia dedicada a promover a conexão dos moradores de São Paulo com a cidade, e estimular o envolvimento e a ação dos cidadãos com as questões urbanas que impactam o dia a dia de todos.