Pra não dizer que não falei das flores, ou melhor, das árvores…

Cada país tem o seu próprio processo de eleição, aberto a qualquer cidadão. De todas as indicações recebidas, dez são selecionadas por uma comissão técnica para, em seguida, ganharem votos online que definirão a grande campeã do país. Aqui em Portugal, a votação fica aberta a partir deste 30 de outubro e segue até o final de novembro, quando será conhecida a número 1 do ranking português. A partir daí, começa o processo europeu, que acabará por definir, também com votação online, a árvore mais representativa da europa em 2021. O anúncio deverá ser feito no primeiro trimestre do próximo ano, normalmente no Dia Internacional das Florestas, em março, no início da primavera por aqui.

Guardião da vila inundada: O pinheiro de Chudobín cresce num afloramento rochoso na margem da barragem de Vír. Foto: Czech Environmental Partnership Foundation.

Este ano, a eleita foi um Pinheiro-Silvestre, da República Checa, com mais de 350 anos. Diz a lenda que a árvore é a guardiã da vila inundada de Chudobín, que desapareceu devido à construção de uma barragem. Portugal ficou em sexto lugar com o Castanheiro de Vales, exemplar que, estima-se, tenha mais de mil anos e que tenha sido plantado pelos romanos. Portugal, aliás, entrou para o concurso apenas em 2018 e já levou o primeiro lugar do ranking na estreia, com um enorme sobreiro, carinhosamente apelidado de “Assobiador”, pela comunidade local. Para quem não sabe, os sobreiros são grandes árvores de onde se extrai a casca para produzir a cortiça, que depois, entre outras coisas, vira a rolha dos nossos vinhos. Portugal é o maior produtor mundial de cortiça. O “Assobiador” ganhou este nome pela quantidade de aves que vivem nos seus galhos e ramos, e que ao cair da tarde fazem um grande alvoroço entre as folhagens. Foi plantado em 1783 e continua “ativo” e fornecendo cortiça. Desde 1820, já foi “descortiçado” mais de 20 vezes. Não é à toa que o “Assobiador” também está no livro dos recordes como o maior sobreiro do mundo. 

O “Castanheiro de Vales” de Tresminas, em Vila Pouca de Aguiar ganhou o concurso “Árvore Portuguesa do ano de 2020”. Foto: Raquel Pires Lopes.

O concurso é promovido pela organização Environmental Partnership Association (EPA), em parceria com instituições dos países participantes. Em Portugal, quem lidera o processo é a UNAC – União da Floresta Mediterrânica. Agora em 2020, e pela primeira vez em uma década, o anúncio da grande vencedora deixou de ser feito com pompa no Parlamento Europeu, em Bruxelas, para ganhar uma versão online apenas. Culpa, claro, daquele “serzinho” que ocupa os outros rankings globais. Em 2021, nada indica que a festa será presencial, mais uma vez. Espera-se, porém, que o número de votantes ultrapasse os quase 300 mil que escolherem a árvore de 2020. A vencedora dá ao país um troféu – feito em madeira – que deverá seguir para o primeiro colocado no ano seguinte, e assim por diante.

Eu fiz a minha parte já no primeiro dia de votação online e dei meus dois pitacos para ajudar a escolher a árvore portuguesa que irá disputar o grande prêmio. Quer votar também? Basta entrar no site https://portugal.treeoftheyear.eu/ e selecionar as duas que considera mais representativas de uma seleção de 10 árvores. O site traz detalhes técnicos de cada uma delas e um pouco da história e das tradições que elas representam para a comunidade ou mesmo para o país.

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***Marcos Freire mora com a família em Ovar, Portugal, pequena cidade perto do Porto, conhecida pelo Pão de Ló e pelo Carnaval. Marcos é jornalista, com passagens pelas principais empresas e veículos de comunicação do nosso país. Escreve quinzenalmente no São Paulo São.

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