Projetos e negócios usam bikes para gerar impacto social

“Precisamos distribuir melhor os espaços públicos da cidade, democratizá-los. Assim como temos hoje uma estrutura muito grande para o carro, precisamos também de uma estrutura para as pessoas poderem caminhar, usar o transporte público com segurança e conforto e também pedalar. Isso tudo significa simplesmente redistribuir espaços” diz JP Amaral, um dos criadores da iniciativa Bike Anjo.

As bicicletas são um excelente exemplo de meio de transporte, e têm adquirido mais adeptos pelo Brasil. Segundo o Sistema de Informações de Mobilidade Urbana, documento anual produzido pela Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), em 2004 1.3 bilhão de viagens foram feitas com bicicletas em todo o país. Em 2014, esse número saltou para 2,6 bilhões. Pensando nisso, destacamos a seguir iniciativas que usam a bike como ferramenta de trabalho ou mesmo como uma forma de promoção do desenvolvimento social.

Bike Anjo

projeto, um dos mais famosos quando o tema é bicicleta, começou dentro dos movimentos de bike-ativistas de São Paulo. “A gente organizava uma bicicletada mensal mas percebia que muitas pessoas não participavam por terem receio de andar de bicicleta na rua. Começamos a usar entre nós o apelido ‘bikeanjos’ porque ajudávamos as pessoas a pedalar”, conta JP Amaral, um dos criadores do projeto. Com o crescimento da demanda pelos “anjos”, em 2010 o grupo de ciclistas teve a ideia de criar uma plataforma que conectasse bike anjos com as pessoa que quisesse começar a pedalar, oferecendo o serviço gratuitamente.

Hoje, a iniciativa conta com uma rede de voluntários presentes em mais de 400 cidades do Brasil, e tem como objetivo apoiar quem está começando no mundo da bicicleta e também engajar novas pessoas a se mobilizar por meio das bikes. “Na plataforma, as pessoas podem pedir ajuda para aprender a pedalar, receber uma recomendação de rota ou mesmo ter a companhia de alguém mais experiente ao pedalar até o trabalho”, diz JP.

Os bike anjos afirmam que não há limite de idade para aprender a andar de bicicleta. “Veja o caso da Dona Nice, por exemplo. Ela tinha 82 anos quando aprendeu a pedalar com a gente”, diverte-se JP.

A iniciativa trabalha não só com o ensino do ciclismo, mas também com questões ligadas à mobilidade urbana. O projeto Bicicleta nos Planos, por exemplo, tem como finalidade engajar os ciclistas de várias cidades para que eles levem ao governo municipal propostas de construção de planos de mobilidade urbana que incluam a bicicleta. “Essa experiência está sendo fantástica. Em cidades onde não havia diálogo da população com a Prefeitura vemos agora as pessoas sentando junto com o Prefeito para transformar de fato a cidade”.

Com políticas como a criação de ciclovias, a demanda pelos bike anjos só cresce. “Ano passado atenderam 1.400 pessoas só em São Paulo. É como um ciclo, quem quer começar a pedalar reivindica mais ciclovias, e quem vê as ciclovias quer aprender a pedalar”.

Ciclomídia

As ciclofaixas de lazer e ciclovias não só incentivaram mais gente a começar a pedalar como também abriram portas para diferentes negócios. Um exemplo é a Ciclomídia, empresa que cria soluções para o estacionamento de bicicletas e viu a demanda pelos seus serviços crescer exponencialmente nos últimos anos, com estabelecimentos comerciais mais interessados em atrair os ciclistas.

Ciclomídia traz para estabelecimentos e espaços públicos serviços ligados ao tema.

Edu Grigoletto criou o Ciclomídia inspirado por um problema pessoal. Cansado de ficar preso no trânsito, o paulistano começou a ir de bike para o trabalho. “Isso mudou totalmente o meu dia-a-dia. Como eu ganhei mais tempo por não ficar preso no caos do trânsito, comecei a parar em locais entre minha casa e o trabalho, como cafés ou restaurantes”, conta. Mas logo ele descobriu um problema recorrente. “A maioria dos estabelecimentos não tinha espaço adequado para estacionar a bike. Eles ainda não viam os ciclistas como consumidores em potencial”.

Frustrado com isso, Edu começou a pesquisar soluções. Como resultado, nasceu em 2011 a Ciclomídia, que traz para estabelecimentos e espaços públicos diversos serviços ligados ao tema.

“No começo as pessoas não entendiam o meu negócio, falavam que isso só funcionaria em Amsterdã”. Edu Grigoletto – Ciclomídia

Alguns serviços prestados pela empresa são a instalação de paraciclos (os racks de metal popularmente conhecidos como “U” invertido), a consultoria para a criação de estacionamentos de bicicletas em empresas e até mesmo a instalação de bike vallets móveis gratuitos para o ciclista. “Eles funcionam sobretudo em eventos corporativos, shows e exposições. Montamos uma estrutura móvel e armazenamos com segurança as bicicleta e possíveis acessórios, como bolsas com ferramentas”, explica Edu. “Isso ajuda a reduzir o trânsito nas imediações dos eventos, pois mais gente é encorajada a ir de bicicleta”.

Carbono Zero Courier

Engana-se quem pensa que os entregadores e mensageiros de bike são novidades. “A entrega com o uso de bicicletas é muito mais antiga do que a que faz uso de motoboys”, lembra Leonardo Lorentz, proprietário da empresa Carbono Zero Courier. A inovação do negócio está em facilitar o contato entre o consumidor e o entregador e em usar tecnologias que auxiliam o rastreamento da entrega e a navegação do ciclista. “Depois de concluída a entrega, a pessoa recebe até mesmo uma mensagem com dados sobre a redução de sua pegada ecológica por conta do uso da bicicleta”, diz Leonardo.

A Carbono Zero faz uso de bikes dobráveis e modelos elétricos.

A empresa conta com metade de seu quadro de ciclistas contratados como funcionários fixos e a outra metade como colaboradores eventuais. Além das bicicletas de transporte convencionais, nas suas entregas a Carbono Zero faz uso de bikes dobráveis (que podem ser levadas em trens e ônibus) e modelos elétricos, para o caso de encomendas mais pesadas.

Segundo Leonardo, o crescimento dos negócios se deve não somente ao fortalecimento da cultura da bike mas também a uma maior responsabilidade ambiental por parte das empresas, que hoje buscam formas mais sustentáveis de entregar suas mercadorias. Mesmo assim, muita gente ainda tem resistência em usar ciclistas no lugar de motoboys. “Tem gente que acha que não dá pra fazer uma entrega por causa de uma distância de 8 quilômetros, mas nossos ciclistas pedalam em média 80 quilômetros por dia”, diverte-se Leonardo.

Aromeiazero

Instituto Aromeiazero é um exemplo de iniciativa que pensa na bike como ferramenta para a promoção do desenvolvimento social. Criado inicialmente como um coletivo em 2011, no ano seguinte o Aromeiazero transformou-se em uma associação com o objetivo de promover inovação social e a transformação a partir de instrumentos ligados às bicicletas e à ocupação dos espaços públicos. “Queremos ir além de apenas debater a mobilidade”, diz Cadu Ronca, um dos criadores da Aromeiazero, ao lado de Murilo Casagrande.

Para arrecadar recursos e levar a cultura das bikes ainda mais longe, o Instituto criou o Bike Café.

Um dos projetos sociais desenvolvido por eles é o Galpão da Bike, que fica no Jabaquara (Zona Sul de São Paulo). O espaço funciona como um hub de fomento à cultura da bicicleta e do empreendedorismo local. Para isso, são oferecidos cursos de diversos temas como mecânica, micro-empreendedorismo e esportes, sempre ligados às bikes. Os alunos trabalham ao longo do curso em bicicletas arrecadadas pela iniciativa por meio de doações, e quando se formam ganham as bicicletas como diploma. O Aromeiazero ainda promove o Bike Arte (que envolve artistas e a população) e faz ações com voluntários e empresas para encorajar o uso das bicicletas.

Para arrecadar recursos e levar a cultura das bikes ainda mais longe, o Instituto criou o Bike Café. Lançado em 2013, o café é comercializado tanto em grãos como em um bike truck. “Usar as bicicletas com carrinhos para vender comidas e bebidas é um hábito antigo, e agora passou por uma glamourização com os food parks e food trucks”, diz Cadu. Além de preocupar-se com o impacto ambiental tanto da produção como do transporte e descarte da bebida, o Bike Café reverte 10% de seu lucro para o Aromeiazero.

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Por Margarida Goreckino Amaphiko Red Bull.

 

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