Rodrigo Bueno garimpa fragmentos da natureza e objetos para sua arte

Duas instalações exibem em São Paulo os últimos trabalhos do artista plástico Rodrigo Bueno com materiais garimpados na rua. Nelas, o artista usa fragmentos de grades de ferro, madeira de demolição e caules, troncos e mudas abandonadas em terrenos da cidade para construir ambientes que evocam o poder da natureza, como uma celebração ritual.

“Acho importante trazer o cotidiano da cidade para dentro do meu trabalho. Uso esses materiais pela memória que já possuem, no seu desenho e no seu uso, e por um interesse arqueológico que tenho sobre quem fomos e quem somos”, diz Bueno. “Além disso, acho que precisamos usar essa abundância de coisas que já produzimos, ir contra o desperdício”, afirma.
 
As grades já fazem parte do trabalho do artista desde a instalação “Rebentos”, no jardim do Museu da Casa Brasileira, em 2014. “Escolho as grades pela qualidade do desenho e do material. Quero levar para o pedestal das galerias e da nossa atenção essas artesanias que estão desparecendo e também celebrar a memória dos negros ferreiros que trabalhavam com o ferro antes mesmo da imigração dos artesãos europeus”, diz Bueno.
 
Em “Barravento”, que ocupa um terraço antes sem uso no Sesc Vila Mariana, as grades vazadas são recortadas, pintadas, dobradas e apoiadas de forma delicada no solo em diversos planos e direções, criando um contraponto às ideias de contenção, limite, fechamento que derivam da função das grades na proteção das casas e das pessoas.
 
Com a suspensão das grades, a exploração plástica dos seus desenhos e sombras e as composições com plantas que parecem brotar do concreto, o artista diz querer propor o que chama de um “novo equilíbrio”. “Para se proteger, você acaba se isolando do mundo. Então, essa instalação é meu protesto poético que clama por uma cidade com menos muros, menos compartimentação”, diz.
 
“O nome “Barravento” tem a ver com a força do vento, da tempestade, da força da natureza, e inspiração no filme de Glauber Rocha”, diz. ” É a violência que antecede à transformação”. “Para mim, é como se uma força muito grande tivesse acariciado as grades, moldando-as de outra forma”, conta ele.
 
Numa sala da Galeria Marilia Razuk está a instalação “A Ferro e Fogo” de Bueno. Seu eixo central é uma haste de agave, com seus ramos e brotos, mumificada e pintada pelo artista com tons que lembram uma labareda. Em volta dela, alguns vestígios das grades. Nas paredes, troncos de árvore, galhos e brotos formam um espaço invadido e comandado pela natureza.
 
“Escolhi essa haste por sua qualidade escultórica e pela ideia que ela encerra, de um elemento já adulto, que está encerrando sua vida, e de onde saem milhares de brotos, recomeçando um ciclo”, diz. “Essa imagem tem a ver com a minha vontade de, com o meu trabalho, dar nova vida aos materiais”.

Serviço

Rodrigo Bueno
Instalação ‘A Ferro e Fogo’, Galeria Marilia Razuk, rua Jerônimo da Veiga, 62, tel.: (11) 30790853.
Instalação ‘Barravento’, Sesc Vila Mariana, rua Pelotas, 141, tel.: (11) 5080-3000. 

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Mara Gama em sua coluna na Folha de S.Paulo.

 

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