Sabia que São Paulo tem praia? Conheça antes que a água acabe engarrafada

Existe praia em São Paulo. Minúscula, sem ondas e de água doce, mas existe. E, mais do que doce, limpíssima.

Os dois últimos rios de águas límpidas da capital paulista, o Mono e o Capivari, formam a Cachoeira do Jamil, uma corredeira sinuosa que rasga uma propriedade de um milhão de metros quadrados que desemboca em uma lagoa perfeita para um mergulho geladíssimo e quase exclusivo.

Praticamente desconhecida do paulistano, a Cachoeira do Jamil é um santuário aberto (a Cachoeira da Usina, ao lado, é fechada aos visitantes) para mochileiros que cruzam a antiga linha férrea Sorocabana, passam por tribos indígenas e chegam até Itanhaém.

Mas quase ninguém vai ali. O paraíso perdido no bairro de Evangelista de Souza, extremo sul da cidade de São Paulo, pode, porém, se tornar mais restrito do que já é hoje.

A propriedade de Jamil Saade, nascido lá mesmo, no terreno comprado por seu pai, em 1947, é uma RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural) e faz parte da Área de Preservação Ambiental (APA) Mono Capivari. Sua preservação é obrigatória. Esta é a notícia boa. A ruim é que a Cachoeira do Jamil pode ser colocada à venda muito em breve.

Caça ao tesouro

O baixo número de turistas que aparece por ali para pagar R$ 10* para passar o dia ou R$ 20* para pernoitar faz Saade considerar propostas de mineradoras interessadas na área pelo que ela tem de mais nobre: a água, que poderia ser explorada comercialmente.

“Vem muito pouca gente. Em quatro dias de feriado não consigo dinheiro para pagar nem um funcionário. Por isso hoje considero vender”, diz Saade, que oferece abrigo para até 50 pessoas que têm acesso a banheiro, água potável e fogão à lenha. Sem contar as trilhas, a ponte de madeira tipo Indiana Jones e a faixa de areia para um cochilo pós-mergulho.

“Seria uma ignorância não continuar com o turismo. Até porque por lei a área tem de ser preservada”. Neste momento, ocorre o plano de replantio de 131 mil árvores de espécies nativas como araucária brasileira, canelinha e manacá da serra.

A dificuldade para chegar até lá explica um pouco o porquê de quase ninguém saber de sua existência. O lugar é longe. Passa-se por bairros como Parelheiros e Barragem  (49 km distante da Praça da Sé), onde o asfalto acaba de uma hora para outra. E é só quando se aproxima da estrada de terra (e muita pedra) que começam a aparecer as placas da prefeitura que anunciam a Cachoeira do Jamil.

As placas, aliás, são uma pegadinha. “A estrada não tem manutenção. É melhor não ir por ali. Não é segura”, alerta Jamil Saade. A opção recomendada pela página da Cachoeira do Jamil no Facebook é seguir pela estrada alternativa (também de terra, mas bem trafegável) que também se inicia quando o asfalta acaba. Pegue a direita e siga reto até margear a linha do trem. Lá na frente, reaparecem as placas. Um tanto complicado. Parece até uma caça ao tesouro. E é mesmo.

* Preços consultados em julho de 2015.

Danilo Valentini, do UOL, em São Paulo.

 

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