Salva por um fio – o do carregador de Mamãim

Sempre uso bastante o celular, mas sempre fico muito ligeira, tanto que nunca fui assaltada. Mas esse ano fui cabaça. Bem cabaçona mesmo!

Bom.. começou que usei um monte o celular.

Rodopiei por diversas ruas, praças, palcos, filmei, tirei foto, fiz contatos. Chegando no fim da tarde, o trabalho encerrado, tudo ali armazenadinho no celular, resolvi parar pra comer.

Antes de dar um último rolê pela Virada, parei em uma lanchonete e me desarmei. Era um momento de respiro. Bateria quase no finalzinho (a minha e a do celular) pensei:

“Bom… vou aproveitar o tempo do lanche pra dar uma carregadinha no celular antes que a bateria acabe de vez”.

Pausa na história.

Voltando para o período da manhã, quando eu estava saindo de casa.

Mamãim, com aquele costumeiro carinho materno, desta vez o transformou em um afago tecnológico:

– Você vai trabalhar o dia inteiro?
– Vou mãe, porque?
– Você quer levar o meu carregador? (Mamãim tem um carregador de bateria portátil, que não vai na tomada. Coisa fina! Já me salvou muitas vezes em momentos de desespero)
– Nossa! Quero! Minha bateria não vai dar conta hoje! Obrigada!

Saí de casa com aquele amuleto da sorte, praticamente um pedaço do coração de Mamãim em forma de adereço tecnológico.

Volta a história para a lanchonete.

Então, na fila do lanche, resolvi deixar as mãos desocupadas para pegar o maior lanche que meus braços pudessem abraçar. Conectei o meu celular no carregador de Mamãim através de um fio. Enrolei tudo e enfiei no bolso da minha jaqueta, que estava amarrada na cintura.

Menos de 4 minutos depois, senti um movimento muito leve próximo a mim. Bati a mão no bolso.

– Cadê meu celular?

O mundo parou. Em menos de dois segundos o filme de um back-up inteiro passando pelos meus olhos. Era o fim.

No reflexo girei o corpo e esbarrei com uma mulher enorme que, estrategicamente, se colocou na minha frente para que eu não visse quem tinha pego o meu celular.

Empurrei a mulher e vi uma senhora bem arrumada, que me olhou e foi fingindo que não era com ela. O que as duas não contavam é que elas deixariam um rastro para trás.

Algo que as condenaria para sempre, a própria marca da besta: o fio do carregador de Mamãim. Aquele fio milagroso, que se agarrou ao meu celular como se ele estivesse caindo de um penhasco e fosse sua última chance de sobreviver.

Ao acompanhar o fio com o olhar, cheguei ao pote de ouro no fim do arco-íris: aquela senhora com cara de sonsa, que tentava se enfiar no meio da multidão, ou melhor, na pequena muvuca que se formou na fila da lanchonete.

Então eu voei. Voei como nunca. Voei em câmera lenta.

– UuuAAAAAArrrrr!

Agarrei naquele braço de pessoa sonsa e olhei direto em sua mão.Constrangida, a senhora me olhou e, como se estivesse me defendendo do atropelo de um caminhão, me entregou o celular de volta dizendo:

– “Tá aqui o celular.. toma filha.. toma!”

E eu sem dizer uma palavra sequer, sem entender absolutamente nada do que tinha acontecido, peguei meu menino de volta e voltei para a fila do lanche. Essa cena toda deve ter durado uns dez segundos mais ou menos. Somente uns segundos depois foi que a minha ficha caiu.

“Cara, quase fui roubada! Não fosse o carregador de Mamãim, eu teria entrado para as estatísticas do fim de semana!”

Dei um suspiro aliviada e senti como se o espírito de Mamãim pairasse sobre aquele ambiente, me trazendo paz, me protegendo, como uma Nossa Senhora contemporânea que dizia: “Ninguém mexe com a minha menina!”

Confiante, segui para pedir o meu lanche e, com um leve sorriso no rosto, pensei: “Aqui é bebezão da Mamãim, POHA!”

***
Luciana Gandelini é jornalista, comunicadora, produtora cultural e adora escrever crônicas sobre cotidiano.

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